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A turbulência não afetará o mercado agropecuário


Eleri Hamer

Na semana passada o mundo foi sacudido por um esperado terremoto financeiro protagonizado pelo mercado imobiliário americano, principalmente o subprime. Mas, afinal o que é o mercado subprime?

O mercado de crédito imobiliário nos Estados Unidos, após saturar o mercado de bons tomadores, avançou em direção àqueles que apresentavam um mau histórico de pagamento, ou mesmo não tinham renda certa para quitá-lo.

Nesse rol, encontravam-se desempregados ou pessoas com histórico de inadimplências momentâneas, mas que obtiveram acesso a linhas de crédito significativas, algo de dezenas de milhares de dólares, típico de um mercado demandante e principalmente de intensa oferta.

No lado da oferta, a intensa concorrência entre as instituições financeiras proporcionou que esses clientes tivessem acesso a dinheiro sem a necessidade de fazer poupança ou apresentar as listas de documentos necessárias para contrair os empréstimos.

Muitos corretores de imóveis, mais interessados em ganhar comissões, utilizavam-se de expedientes que facilitavam a conclusão de negócios, mesmo com clientes duvidosos. Às vezes até inadimplentes.

Estava tudo organizado para o mercado subprime, e era uma questão de tempo para o atual terremoto começar. Aqui, também se viu algo parecido quando da expansão do crédito privado para os produtores rurais, no vácuo da soja a $ 10,00/bushel, até meados de 2004.

Acontece que como era de se esperar, a inadimplência no mercado americano se acentuou, o dinheiro sumiu e a crise se instalou. Segundo especialistas do setor, por sorte esse volume, embora alto, representa muito pouco diante do total de crédito, mas foi suficiente para mexer nos quatro cantos do planeta. Vai levar algum tempo para que tudo se arranje novamente. A expectativa do mercado é que as coisas estejam como antes, no máximo, até meados de outubro.

O mercado agropecuário por sua vez, também foi afetado, mas a questão é momentânea. Reduziram-se os volumes comercializados e o efeito interno se verificou principalmente nos soluços em relação à cotação do dólar no mercado doméstico o que afetou positivamente as cotações de algumas commodities agrícolas, entre elas a soja.

Por outro lado, a reação em dólar dessas commodities no mercado internacional foi baixista e isso acabou por neutralizar a elevação da moeda americana em relação ao real.

No curto prazo percebe-se que poderá haver solavancos em relação a troca de posições no mercado de commodities agropecuárias, não caracterizando-se porém uma tendência. No médio e longo prazo a cotação desses produtos ainda tem um perfil altista, motivados principalmente pela urbanização da China e a própria África.

Vale lembrar que hoje aproximadamente 50% da população vivem nas cidades e em 2030[1] há expectativa de que esse valor atinja 60%. Somente em relação a China e Índia, que possuem hoje 2,5 bilhões de habitantes, 12% tendem a migrar para as cidades. Por fim, mesmo que haja um desaquecimento da economia Chinesa, esse dado nos parece bastante convincente. Alguém precisa alimentar a população que cresce, garantindo de certo modo a manutenção dos preços a patamares atrativos.

Esse fator econômico somados tem mais força do que o mercado de subprime tornando-se capazes de neutralizar a breve curva baixista dos preços.

Boa semana e obrigado pela leitura.

Para mais detalhes ver Artigos da Série "O Agronegócio na Próxima Década" em www.elerihamer.com.br

Eleri Hamer

é Mestre em Agronegócios, Professor de Graduação e Pós-Graduação do CESUR, desenvolve Palestras, Educação Executiva e Consultorias em Gestão Empresarial e Agronegócio. Home-page: www.elerihamer.com.br E-mail: [email protected] 

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