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A mentira do petróleo



Argemiro Luís Brum
No início de 2006 o governo Lula, com sua característica dose de demagogia, anunciou ao mundo que o Brasil era autossuficiente em petróleo. Até hoje muita gente ainda acredita nisso, porém, o anúncio não era verdadeiro em sua essência. Na verdade, temporariamente tínhamos alcançado uma produção diária de 1,9 milhão de barris por dia, equivalente ao consumo na época. No ano seguinte, em alguns momentos, a situação se repetiu, porém, não durou muito. Isso porque a demanda interna, puxada pelo elevado consumo de automóveis e outros meios de transporte, subiu rapidamente, estimulada pelo próprio governo, no afã de sair da crise em que entramos com o mundo. Mesmo com a economia patinando hoje em 1,5% anual de crescimento, estamos longe de sermos autossuficientes em petróleo. Para contribuir com isso, o próprio governo usa a Petrobrás para subsidiar o combustível no país, deixando-a fragilizada para investir. Após um prejuízo superior a um bilhão de reais no segundo trimestre do ano, seu lucro no terceiro trimestre foi 12,1% menor do que o obtido no mesmo período do ano anterior. De janeiro a setembro de 2012 seu resultado é 52% abaixo do que o de 2011 no mesmo período. E a nossa produção de petróleo caiu para 1,843 milhão de barris de petróleo em setembro, em média diária, sendo a menor desde abril de 2008. A ponto de estarmos enfrentando “apagões” de oferta de combustíveis por falta de refinarias, com tendência ao agravamento, pois cada vez mais veículos circulam em nossas péssimas estradas.
Nesse contexto, continuamos a ser não só fortes importadores de petróleo, como grandes importadores de gasolina e diesel. Muito também porque na área do etanol o governo igualmente falha. Assim, em 2012 deveremos gastar US$ 21,3 bilhões em importações de derivados de petróleo. Isso porque, seis anos após o anúncio ufanista da autossuficiência estamos até mesmo produzindo menos petróleo, enquanto nosso consumo subiu para 2,2 milhões de barris diários, com tendência a chegar a 2,8 milhões em 2016. Assim, especialistas preveem, mesmo com a entrada em funcionamento de mais duas novas refinarias (tardiamente) no país em 2015, que em 2017 passaremos a importar o equivalente a US$ 26,4 bilhões em derivados de petróleo, somando no acumulado dos próximos cinco anos um gasto em importações de US$ 146 bilhões nessas importações (isso se o preço do barril ficar nos níveis atuais). Esse valor corresponde, hoje, a mais da metade de toda nossa dívida externa. Já a importação de gasolina, em 2013, passará dos atuais 70 a 80 mil barris diários para 90 mil barris. Enquanto isso, a importação de diesel passa de 150 mil barris diários na atualidade, para 300 mil barris. A situação é tão grave que o governo apelou para um truque contábil para indicar redução nos valores de importação de petróleo e derivados nos últimos meses, seguindo a linha de “apostar na ingenuidade do povo”, desenvolvida a partir do mensalão. E esperar o pré-sal, no estado em que se encontra a Petrobrás e nossa gestão pública, é sonhar.

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