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A estrela brasileira não brilha tanto no céu azul como antigamente


Cláudio Boriola

 Na última sexta-feira a Viação Aérea Riograndense, mais conhecida como Varig, anunciou a demissão de cerca de 5.500 funcionários, sem a certeza de pagar os direitos trabalhistas.

Esse é só mais um capítulo na longa história da crise da Varig, empresa criada em 1927, que conseguiu superar mudanças de moeda e crises internacionais durante sua trajetória. Em todos esses anos, já houve outras crises que envolveram os funcionários, como em 1994, quando a empresa demitiu mais de 3.000 empregados e fechou 30 escritórios no exterior. Mas nenhum outro episódio se mostra tão grave e confuso quanto este.

A VarigLog, criada em 2000 pela própria Varig e adquirida em janeiro de 2006 pela Volo Brasil, por meio de um leilão em que somente ela participou, ou seja, sem outros compradores interessados, é a atual proprietária da Varig desde o último dia 19. O que acontece atualmente é um processo de reestruturação, ou, em outras palavras, a VarigLog está tentando colocar a casa em ordem. O número de funcionários demitidos seria um pouco maior, mas muitas pessoas estão impedidas de serem demitidas (estão em licença médica, férias etc.). Os primeiros boatos de demissão chegaram a mostrar o número de 10.000 demitidos.

O grande problema é que, independentemente das ações a serem tomadas, nem os funcionários que permaneceram na empresa nem os que foram demitidos devem ver a cor do dinheiro tão cedo. Grande parte está sem receber salários há, no mínimo, três meses. O FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) não é depositado há quatro anos. As multas rescisórias devem ser pagas somente daqui a 45 dias, isso se o plano de reestruturação correr como o previsto.

Isso mostra que não só o planejamento financeiro é importante. É também muito útil estar bem informado sobre as condições em que se encontra a empresa onde você trabalha, a fim de evitar ser pego de surpresa por atitudes como essa. Os funcionários que se adiantaram, realizando cursos complementares e especializações, hoje estão muito mais empregáveis do que os que ficaram estagnados em seus cargos, somente esperando transcorrer o tempo da aposentadoria.

Para os clientes, o que sobra é o momento de confusão. Enquanto não colocam a casa em ordem, vôos são cancelados, voltam a operar, são cancelados novamente... Tudo isso sem aviso prévio, pegando muita gente de surpresa. No dia da demissão em massa, em razão das manifestações de apoio dos funcionários para com os colegas que foram dispensados, muitos passageiros encontraram vazios os balcões de atendimento. Houve também reuniões entre eles, a portas fechadas, que atrapalharam o bom andamento do atendimento.

As ações da Varig chegaram a cair 40% após o leilão e sua compra por parte da VarigLog. Atualmente, a empresa pretende operar com o número de 15 a 30 aviões e 1.500 a 3.300 funcionários, dependendo do número de aeronaves. Já estão sendo feitas negociações com os arrendadores das aeronaves, que serão pagos antecipadamente para assegurar o seu uso por parte da empresa. A recuperação de aviões parados por problemas de manutenção também é prioridade nesse momento. Os atuais proprietários querem garantir a entrada de renda na empresa para esse traumatizante período de transição durar o menor tempo possível.

A grande missão da empresa é conquistar novamente a credibilidade dos fornecedores e clientes. Em relação aos funcionários demitidos, ainda espera-se a reação dos sindicatos envolvidos e do Ministério Público do Trabalho. E pelo jeito, ainda veremos a Varig todos os dias nos jornais. Vai pegar mais que o famoso jingle publicitário.

 

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