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“Piloto Agrícola: um aviador, ou um aplicador?”


Jeferson Luís Rezende

O título acima descreve bem a grande dificuldade para identificar categoricamente este importante profissional da aviação e do agronegócio, que é o piloto agrícola.

Se até poucos anos atrás o importante para ser um bom “cavagueiro” era ser corajoso, audaz e, até um pouco acrobata; hoje, com o advento das doenças atingindo grande parte das culturas, os agpilots deixaram de ser quase que meros coadjuvantes dentro do sistema de manejo agrícola, para se transformarem em peças-chave importantíssimas.

Diferentemente de combater apenas lagartas e percevejos, a “força aeroagrícola” deste novo milênio tem a missão de ajudar na prevenção e no combate as doenças do campo: ação mais técnica e exigente.

Infelizmente, porém, parece que os nossos pilotos estão saindo das Escolas despreparados para esta difícil missão; e, na outra ponta, não muito diferente, encontra-se boa parte dos mais experientes - que por falta de reciclagem ou comodismo - também não estão adequadamente preparados para enfrentar esta nova “guerra no campo”. Isto é um fato, público e notório, possível de ser constatado todos os dias e em todos os rincões do Brasil.

É cada vez mais comum, ouvir de empresários da aviação (operadores) e, de usuários (agricultores), reclamações relativas ao pouco ou, nenhum, preparo técnico dos pilotos para aplicar fungicidas, especialmente. Muitos têm relatado erros grotescos, imperdoáveis, que culminaram com um tratamento desastroso e, prejuízos para a empresa prestadora dos serviços ou, para o contratante/produtor rural.

Fato importante, diz respeito a dificuldade que as Empresas Aeroagrícolas têm para contratar “bons pilotos” no mercado: aplicadores de fato e, não apenas ases do ar.

Recentemente, conversando com um Gerente de uma grande aviação no Paraná, ele me dizia que entre cinco candidatos a uma vaga de piloto agrícola, apenas um tinha condições razoáveis para a função. E que este indivíduo, ao ser avaliado tecnicamente: em vôo – pasmem – “suou de maneira abundante!” Um outro operador, do interior de São Paulo, contava que embora possua quatro aeronaves, e um mercado potencial para explorar/voar, só duas estão em operação: porque “não se acha gente, mão de obra de qualidade, no mercado”.

Estas são apenas algumas das muitas histórias que poderíamos citar, para mostrar que muito embora o setor de agronegócios tenha crescido de maneira substancial no Brasil e, incorporado novas tecnologias, infelizmente, a Aviação Agrícola não está acompanhando este movimento da mesma maneira.

A atividade aeroagrícola é e sempre será uma ferramenta estratégica importantíssima para o setor de agronegócios, mas só conseguirá perenizar e avançar dentro da cadeia produtiva agrícola, se olhar para dentro e enxergar seus problemas estruturais, além das suas virtudes; temperando e, introduzindo de maneira equilibrada, as modificações que se façam necessárias dentro do setor, a fim de dar conta da sua responsabilidade, que é: voar com segurança; e aplicar com eficiência no alvo, os produtos recomendados.
Não é mais admissível e, tão pouco aceitável, que uma atividade complexa e de alta tecnologia, como é a Aviação Agrícola, seja conduzida de maneira inadequada para os padrões atuais. E que os seus aviões sejam pilotados e vistos por alguns, apenas como máquinas de show acrobático.

Em algumas regiões a aviação já chegou ao fundo do poço, tamanho o desprestígio alcançado, fruto de trabalhos conduzidos de maneira errada ou desonesta.

Muito embora acredite que a maioria dos que labutam na atividade aeroagrícola é composta de gente preparada e bem intencionada; o avanço desenfreado das máquinas terrestres sobre áreas até pouco tempo dominadas pela Aviação e, a descrença cada vez maior por parte dos lavoureiros – em muitas regiões onde os aviões reinaram absolutos – são prova cabal e, inequívoca, de que os “rumos” precisam ser alterados, sob pena de vermos esta nobre atividade sucumbir em muitos pontos do Brasil.

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