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“Para cada caso e cada região tem-se um Volume de Vazão adequado”


Jeferson Luís Rezende

Embora eu tenha deixado de voar há algum tempo, continuo no negócio agrícola como consultor e RTV de uma Empresa química, além de colaborar com o Professor Jadoski e com o Núcleo de Aviação e Tecnologia Agrícola da UNICENTRO, em algumas Pesquisas.

Por isso mesmo, ao ler a última edição do AgAirupdate, especialmente o editorial do nosso Mestre - Alan MacCracken, senti necessidade de fazer algumas observações pontuais, relativas ao tema: Volume de Vazão.

É tema recorrente em muitos lugares, e via de regra todo mundo é o “dono da verdade”, ou seja, todos defendem aquilo em que acreditam.

Porém, ao longo destes últimos anos tenho aprendido, e percebido que Volumes de Vazões são pontuais, e não devem em hipótese alguma, ser indicados de maneira padrão para todas as regiões.

É preciso respeitar o clima, a topografia, e as cultivares plantadas - que responderão de maneira distinta, em função deste conjunto de fatores.

Para se ter um exemplo bem prático, nos Ensaios que participamos na Fundação ABC, em Castro (PR); observamos diferenças interessantes entre os volumes de vazão 10 l/ha e 20 l/ha; tendo o segundo obtido um controle fúngico melhor. No entanto, depois de termos discutido razoavelmente bem, estipulamos que para as regiões com topografia mais acidentada, com a presença de obstáculos (matas e postes de luz), e com ventos mais intensos, o volume adequado seria de 15 l/ha.

Estes resultados são parecidos com outros Experimentos realizados por outras Instituições de Pesquisas, e corroboram com a idéia de que aquilo que é recomendado para os campos do Mato Grosso, de Goiás, ou até mesmos para as regiões de Arroz do Rio Grande do Sul, não pode ser os mesmos para aqueles onde existem coxilhas e muitos obstáculos físicos.

Até mesmo as aplicações terrestres sofrem com esta regra-limite. Não conseguimos obter o mesmo controle fúngico nas áreas mais acidentadas do Paraná, com os ultra-baixos volumes de vazão: 40 l/ha – 60 l/ha, quando comparamos os volumes praticados ou utilizados no MT, e em alguns pontos específicos do Paraná – com topografia e clima semelhante ao do cerrado.

Talvez o Alan queira nos dizer que há preconceito por parte de muitos agrônomos, que ainda vêem a aplicação aérea com desconfiança. E, neste sentido, ele está coberto de razão.

Porém, massificar volumes de vazões de 8 l/ha ou 10 l/ha simplesmente, é algo que consideramos muito perigoso, e pouco razoável.

Obviamente que estes volumes são interessantes e funcionam em boa parte dos casos. Mas, é preciso observar com muita atenção onde estamos operando, e as características da região.

O Professor Boller, da Universidade de Passo Fundo, nosso amigo e entusiasta da aviação, também tem dito em suas conferências a importância de serem observadas todas as variáveis e peculiaridades da região, a exemplo do Professor Jadoski – Diretor do Núcleo de Aviação e Tecnologia da UNICENTRO, de Guarapuava; a fim de que sejam adotadas as melhores opções. E a opção nem sempre poderá ser a de menor volume de vazão.

Também um grande defensor dos menores volumes de vazão, o Jadoski sempre alerta para estes detalhes: topografia; clima; obstáculos, etc. para só então, optar por um determinado volume de vazão.

Tivemos muitos problemas ao longo dos anos, em várias regiões, de aplicações mal conduzidas, que resultaram em pouco ou nenhum controle efetivo de doença; inclusive, com a “condenação” da tecnologia aeroagrícola. Na grande maioria dos casos, o baixo volume, e as enormes faixas de aplicação usadas de maneira indiscriminada, mostravam-se como os prováveis vilões da história. Atualmente estes problemas estão sob controle, e restringem-se a poucos casos conhecidos.

Com o advento das doenças na Soja (ferrugem asiática); e mais recentemente no Milho (ferrugem comum e cercóspora); os tratamentos se tornaram peça-chave dentro do manejo cultural.

Aplicar bem; com o melhor equipamento disponível; dentro das recomendações técnicas aéreas e fitossanitárias, é o único caminho no horizonte da atividade aeroagrícola.

Para se ter uma idéia de como tecnologia de aplicação é algo complexo, o Pesquisador em Fitopatologia da FAPA – Fundação Agrária de Pesquisas Agropecuárias – Ms. HERALDO FEKSA (Instituição vinculada a Cooperativa AGRÁRIA Agroindustrial, de Entre Rios/Guarapuava), é contrário ao uso de óleo degomado (óleo vegetal), como adjuvante das aplicações aéreas.

Seguindo este mesmo raciocínio, a aviação da C.Vale Cooperativa, de Palotina (oeste do Paraná), voa BVO sem utilizar óleo degomado (óleo vegetal). Opera naquela região, de topografia favorável, com VV de 10 l/ha, com sucesso.

Em seus estudos/experimentos, FEKSA observou muitas desvantagens no uso do óleo degomado; que, diga-se de passagem, ainda é o mais utilizado no país para as aplicações BVO.

Diante disso, é preciso deixar muito explícito que volume de vazão não é padrão, nem pode ser único para todas as regiões deste país continental.
 
• Jeferson Luís Rezende foi piloto agrícola. É membro pesquisador do NATA/PR-UNICENTRO, e RTV da Inquima. Guarapuava, PR.

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