Histórico - Integração Lavoura - Pecuária - Floresta (ILPF)
Sistemas de Integração
Até 2050 a produção mundial de alimentos precisa ser duplicada para atender à demanda de uma população em crescimento. Por outro lado, a atual transformação que o clima do planeta está sofrendo poderá reduzir a produtividade de culturas de grãos como feijão, milho, soja, etc. Os números mostram que o futuro depende da adoção imediata de sistemas agropecuários que conciliem conservação e produção de alimentos.
Uma dessas opções são os sistemas de Integração Lavoura/Pecuária/Floresta (ILPF) como uma saída para reduzir a emissão de gases de efeito estufa sem desacelerar a produção no campo. A ILPF é um agroecossistema que maximiza a produção e ao mesmo tempo conserva os recursos naturais porque integra atividades agrícolas, pecuárias e florestais, fazendo com que convivam numa mesma área a partir da sincronização de suas etapas produtivas, que se retroalimentam.
Os sistemas ILPF são considerados sistemas inovadores, porém, não são recentes. Na Europa medieval vários sistemas de plantios associados de culturas perenes e fruteiras, bem como fruteiras com produção pecuária, já em meados do século XVI. A partir do início da revolução científica, com a adoção do pensamento mecanicista, estas técnicas foram praticamente abandonadas.
Já nas Américas, as comunidades indígenas nativas costumavam copiar o sistema de associação de culturas da natureza e que foi inicialmente adotado pelos colonizadores europeus. Por outro lado, os imigrantes europeus provenientes de regiões caracterizadas por pequenas propriedades, trouxeram a cultura da associação entre agricultura, pecuária e florestas e que, posteriormente, passou a ser adotada em áreas maiores, como por exemplo, nas regiões de várzea, com a integração da cultura do arroz inundado com pastagens.
A partir do crescimento da agropecuária do Brasil, o cenário de degradação dos solos se acentuou. A constatação da intensificação deste problema fez com que a pesquisa passasse a buscar sistemas produtivos sustentáveis, para harmonizar o aumento de produtividade vegetal e animal, com a preservação de recursos naturais. Alguns esforços para reverter o processo de degradação dos solos foram iniciados, no final da década de 1970, com a adoção de sistemas de terraceamento integrado em microbacias hidrográficas e o desenvolvimento de tecnologias para compor o sistema plantio direto (SPD), principalmente no Sul do Brasil. O aumento da sustentabilidade do sistema passou a ser adotado através da associação de tecnologias como o SPD e os sistemas agrossilvipastoris, uma vez que a utilização do SPD é altamente dependente de rotação de culturas, que é uma das práticas preconizadas para a produção e a manutenção de palha sobre o solo.
Por outro lado, o sistema ILPF otimiza o uso do solo, que permanece ocupado a maior parte do tempo, especialmente nos períodos em que ficaria ocioso. A pesquisa já comprovou que a ILPF se presta à recuperação de áreas em degradação, uma vez que o cultivo consorciado, em sucessão ou rotacionado, promove efeitos sinérgicos entre os componentes do agroecossistema. Isso melhora a qualidade do solo, associando a adequação ambiental com a valorização do homem e com a viabilidade econômica.
Ao longo dos anos, a adoção de sistemas de integração no Brasil tem sido baixa. Nas décadas de 1980 e 1990, foram desenvolvidas e aperfeiçoadas tecnologias para recuperação de pastagens degradadas. Diversos sistemas passaram a serem adotados, como práticas de recuperação de áreas degradadas ou improdutivas, embasadas no consórcio arroz-pastagem, sistemas silvipastoris e os sistemas de integração entre lavoura e pecuária (ILP). No final dos anos 1990, surgiram propostas que envolveram o uso de sistemas de ILP com rotação lavoura-pastagem, na sequencia, com a produção de grãos e forragem para a entressafra e, consequente, acúmulo de palha para o cultivo em sucessão de grãos em SPD.
Atualmente, o sistema tem sido adotado em todo o Brasil, com maior representatividade nas regiões Centro-Oeste e Sul. Hoje, aproximadamente 1,6 a 2 milhões de hectares utilizam os diferentes formatos da estratégia ILPF e a estimativa é de que, para os próximos 20 anos, possa ser adotada em mais de 20 milhões de hectares.
José Luis da Silva Nunes
Engenheiro Agrônomo, Doutor em Fitotecnia