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On Farm: o polêmico sistema de produção de biológicos

Entenda porque esse sistema é tão criticado por especialistas da área



Os produtos biológicos estão cada vez mais inseridos na realidade dos agricultores brasileiros. Esse movimento acompanha uma tendência mundial na redução de agroquímicos na produção de alimentos e insumos, atendendo demandas ambientais e de segurança alimentar. O Brasil é pioneiro e um dos maiores produtores de produtos biológicos do mundo, e o uso está difundido em uma gama de culturas de importância econômica. Esse sucesso é resultado de anos de pesquisa das instituições brasileiras aliadas às boas práticas na utilização desses produtos, que consolidou o mercado de bioinsumos, como um dos que mais cresce no agro brasileiro.

A utilização de insumos biológicos é uma ferramenta estratégica relevante, principalmente quando se adota o manejo integrado de pragas e doenças (MIP e MID). Os inoculantes (Rizóbios, Azospirillum, etc.) também são bioinsumos de grande importância, já que sua utilização reduz a necessidade de fertilizantes químicos e estimulam o desenvolvimento vegetal por múltiplos mecanismos, tornando as plantas mais resistentes a condições de estresse e muitas vezes trazendo incremento em produtividade.

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Junto a isso, diversas empresas de biológicos tem oferecido aos produtores, uma opção chamada de produção On Farm. Esse método é basicamente a produção de microrganismos diretamente na fazenda. A principal vantagem do método, é a redução no custo com biológicos comparado com o produto formulado, o que se torna muito relevante para quem cultiva em grandes áreas.

A produção On Farm tem recebido duras críticas, já que não existe uma regulamentação da produção e nem de controle de qualidade. As empresas tem se apoiado legalmente no artigo 8º do decreto 10.833/2021 que diz: “Ficam isentos de registro os produtos fitossanitários com uso aprovado para a agricultura orgânica produzidos exclusivamente para uso próprio em sistemas de produção orgânica ou convencional”.

Entenda o que diz a legislação: Produtos Biológicos: Inoculante? Biodefensivo? Como são classificados os diferentes produtos, segundo a legislação brasileira

 

Como funciona o sistema?

Existem vários níveis de tecnificação oferecidos pelas empresas, desde o mais artesanal, podendo se assemelhar a sistemas industriais. O sistema que é disponibilizado pelas empresas de biológicos é composto por: 
- um biorreator, no qual o recipiente é geralmente composto por polietileno, fibra de vidro (geralmente caixas d’água) ou aço inox.
- um compressor de ar que fará a oxigenação do sistema
- um sistema de controle de temperatura (nos sistemas mais rudimentares existe um ar condicionado no ambiente em que fica o biorreator)
- cepas microbianas de referência, que são os microrganismos que serão multiplicados no sistema 
- meio de cultura
- um sistema de esterilização para a água

O ideal é que o ambiente seja separado em salas, sendo necessário uma sala de preparo, um estoque de insumos e reagentes, um laboratório com equipamentos básicos para controle de qualidade e uma sala destinada ao armazenamento da produção. A limpeza e organização do ambiente são fatores essenciais e para isso, o ambiente tem que ser adequado, sem cantos mortos, com paredes e pisos lisos de fácil higienização, sem espaços que possam acumular sujidades ou aberturas que permitam o acesso de animais e insetos.

 

Principais desafios da produção On Farm

O que se percebe na prática, é que os produtores tem boa intenção, porém as empresas pecam quando o assunto é uma assistência técnica pós-venda, deixando a produção totalmente a cargo do produtor, que na maioria das vezes não dispõe de mão-de-obra especializada, que seria essencial para uma produção de bioinsumos de qualidade.

Um dos principais riscos quanto a isso, é a contaminação do sistema resultando na redução da eficiência ou até mesmo a total inativação do organismo alvo. Além disso, há um grande risco quando a patogenicidade desses organismos, a humanos, animais e às plantas a serem inoculadas. O que vai totalmente contramão dos produtos biológicos formulados, que passam por rígido processo de registro e fiscalização quanto a controle de qualidade.

Outro ponto preocupante, é que as empresas geralmente ofertam o mesmo meio de cultura para a produção de todos os tipos de organismos. Biologicamente falando, é impossível que se mantenha uma produção de qualidade, já que cada tipo de organismo tem uma demanda nutricional diferente (principalmente quando se refere a micronutrientes, vitaminas e alguns aminoácidos essenciais específicos) e condições ambientais de crescimento variáveis (temperatura, pH, etc.).

A Embrapa, listou o que considera princípios básicos para uma produção de biológicos On Farm com segurança:
1) Multiplicação apenas de microrganismos pertencentes a coleções biológicas oficialmente reconhecidas pelo MAPA, pois possuem garantia de origem, eficiência, segurança e rastreabilidade;
2) Cadastramento de estabelecimentos produtores de On Farm junto ao MAPA, para que seja possível a rastreabilidade de eventuais problemas sanitários, ambientais, entre outros;
3) Responsável técnico habilitado e com registro no órgão de classe. Em caso de produção familiar é sugerido que um profissional atenda várias propriedades por meio de organizações, cooperativas ou associações de produtores. Também é possível que profissionais da assistência técnica e extensão rural possam exercer essa função.

Os sistemas de produção On Farm são uma excelente alternativa, se projetados e executados da forma correta. Para usufruir dos benefícios dos bioinsumos é importante ficar claro que se trata de uma tecnologia que demanda investimento e profissionalismo, sendo um trabalho em conjunto entre empresas fornecedoras e produtores. 

 

Franquiéle Bonilha da Silva
Doutora em Ciência do Solo

 

Referências:
BRASIL. Decreto nº 10.833 de 7 de outubro de 2021. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/decreto/d10833.htm

EMBRAPA. Produção de microrganismos para uso próprio na agricultura (on-farm). 2021. Disponível em: https://www.embrapa.br/en/esclarecimentos-oficiais/-/asset_publisher/TMQZKu1jxu5K/content/nota-tecnica-producao-de-microrganismos-para-uso-proprio-na-agricultura-on-farm-?inheritRedirect=false

SANTOS, Adailson Feitoza de J. et al. O que é preciso saber para produzir microrganismos na fazenda – on farm com menores riscos e maior eficiência – Um Guia Técnico. 2023. 1. ed.


 

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