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Kappaphycus alvarezzi, a alga marinha vermelha com potencial biofertilizante

Fonte promissora de compostos bioativos


Como uma alternativa ao uso indiscriminado de fertilizantes químicos na agricultura, que possuem efeitos adversos conhecidos ao ecossistema, os fitobioestimulantes à base de algas marinhas estão sendo amplamente estudados. A Kappaphycus alvarezii é uma espécie de alga vermelha tropical de crescimento rápido, amplamente cultivada por seu conteúdo hidrocoloide, é uma fonte promissora de compostos bioativos que melhoram o crescimento das plantas, incluindo a tolerância a algumas doenças, crescimento vegetal, tolerância a estressores abióticos e bióticos, além de possuírem propriedades funcionais, como espessamento, gelificação e estabilização. Dessa forma, vários produtos à base de K. alvarezii são usados na agricultura, indústria alimentícia, cosmética e farmacêutica. (Trivedi, 2023) 

Um dos polímeros de carboidratos das algas marinhas vermelhas explorados comercialmente são as carragenas, usadas como espessantes e estabilizantes na indústria farmacêutica, cosmética e alimentícia, sendo essa responsável por 70-80% da produção mundial total, estimada em cerca de 45.000 toneladas métricas por ano e com mercado total de carragenas estimado em US$ 300 milhões/ano (Campo, 2009). Introduzidas no Brasil em 1995, originárias das Filipinas, essas algas produzem 50% do oxigênio atmosférico e do sequestro de gás carbônico (CO2). Estudos mostram que a macroalga cresce de 3,8% a 8,7% ao dia sem utilizar quaisquer nutrientes. Em ambientes poluídos, absorvem metais pesados e nutrientes e devido ao seu potencial comercial geram renda para comunidades litorâneas. O estudo realizado em 2019, do Laboratório de Geoprocessamento da Faculdade de Engenharia Agrícola FEAGRI contribuiu para a implantação de fazendas marinhas e novas possibilidades econômicas para comunidades no litoral norte de São Paulo. Foram identificados 44 locais aptos à implantação da algicultura para a espécie K. alvarezii nos municípios de Ubatuba, Caraguatatuba, São Sebastião e Ilhabela.

Além da possibilidade de ter sua aplicação estendida também para litoral sul do Rio de Janeiro e as costas de outros municípios brasileiros (Netto, 2019). A espécie de alga vermelha também está sendo cultivada no Sul do país. A Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI) em parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) desenvolveu um sistema de cultivo e comprovou sua viabilidade técnica, econômica e ambiental, e em 2020 o estado obteve a autorização ambiental para o cultivo comercial (Ligado no Sul, 2023). A produção do estado está concentrada 90% em Palhoça, porém já expandiu para as cidades de São Francisco do Sul, Penha, Porto Belo e Governador Celso Ramos. Os produtores podem atingir até 5 ciclos anuais (30 a 45 dias cada), quanto mais quente a temperatura da água, mais rápido o crescimento da alga.

O faturamento de um hectare pode atingir R$333 mil por ano, apenas com o comércio da alga viva. A produção da macroalga K. alvarezii no estado de Santa Catarina na safra de 2022/23 foi de 300,35 toneladas, representando um aumento de 193,56% em relação à safra de 2021/22 em que produziu 102,30 toneladas. Os números demonstram o potencial comercial da alga no litoral brasileiro (Santos, A.A. 2023). UFSC e Epagri participam do projeto de fabricação do extrato de macroalga para biofertilizante. Esse produto é rico em fitormônios, que promove o crescimento das plantas, tornando-as mais vigorosas, produtivas, resistentes a pragas, doenças e estresse climático. A cada quilo de alga fresca, 800mL de extrato é produzido, sendo comercializado por aproximadamente R$18/litro. Estudos realizados com extratos líquidos de K. alvarezii relataram um aumento da produtividade nas culturas de arroz, banana, batata, cana-de-açúcar, feijão, milho, quiabo, soja e trigo.

Outros efeitos foram observados como acúmulo de Nitrogênio, proteínas e micronutrientes; aumento da atividade fotossintética, qualidade nos grãos e crescimento de raízes (Freitas, 2023; Freitas et al 2022; Trivedi et al 2023; Santos, A.A. 2023). No Brasil, a Instrução Normativa nº 61 de 08 de julho de 2020 estabelece que o registro do produto biofertilizante necessita comprovação do efeito bioativo benéfico através da técnica de bioensaios e dos parâmetros biométricos, metabólicos, químicos, bioquímicos, anti-estresse e ontogenia (Mapa, 2020). No entanto, não há exigência de teores mínimos de compostos hidrocoloides para o registro de produtos. É imprescindível a atualização da norma incluindo parâmetros para o controle de qualidade. Essa análise de concentração de carragenas em biofertilizante está sendo implementada pelo Laboratório de Fitopatologia da UFSC, focado em estudos com algas vermelhas. Com a demanda crescente por produtos de alta qualidade e a expectativa desse novo setor produtivo, o desafio agora é a realização de análises mais precisas sobre as propriedades do biofertilizante (macro e micronutrientes) para posicionar o produto nas culturas adequadas. É preciso fomentar a pesquisa e produção de produtos nacionais, e assim levar ao campo cada vez mais produtos sustentáveis. Atualmente alguns produtos já estão disponíveis no mercado. Empresas como Algas Brasil, Nature Algas e Algas Tech comercializam extratos de K. alvarezii focados na agricultura brasileira. 

REFERÊNCIAS

TRIVEDI, K. et al, 2023. A review of the current status of Kappaphycus alvarezii-based biostimulants in sustainable agriculture. Journal of Applied Phycology. 35: 3087-3111.

CAMPO, V. L. et al, 2009. Carrageenans: Biological properties, chemical modifications and structural analysis – A review. Carbohydrate Polymers 77(2):167-180

NETTO, C. G. 2019. Cultivo de macroalga rende biofertilizante. Biológicas Unicamp.

Ligado no Sul. 2023. Cultivo de macroalgas: novo mercado e oportunidades para maricultores em Santa Catarina. https://www.ligadonosul.com.br/geral/cultivo-de-macroalgas-novo-mercado-e-oportunidades-para-maricultores-em-santa-catarina/

FREITAS. C.A., 2023. Macroalgas: Epagri cria novo mercado para maricultores catarinenses. https://estado.sc.gov.br/noticias/macroalgas-epagri-cria-novo-mercado-para-maricultores-catarinenses-2/

SANTOS. A.A. 2023. Produção da macroalga Kappaphycus alvarezii em Santa Catarina, safra 2022/2023. Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.36, n.2.

EPAGRI, 2022. UFSC e Epagri pesquisam macroalgas utilizadas na produção de biofertilizantes.  https://noticias.ufsc.br/2022/07/ufsc-e-epagri-pesquisam-macroalgas-utilizadas-na-producao-de-biofertilizante/

DE FREITAS, M. B. et al. Extratos de macroalgas marinhas como biofertilizantes. In: MOGOR, A. F.; MOGOR, G. (Org.) Aminoácidos, extratos de algas, extratos vegetais e substâncias húmicas como biofertilizantes. Abisolo. Piracicaba, SP. Pecege Editora, p9-27, 2022.

Ministério da Agricultura, 2020. Protocolo para realização do relatório de bioensaio para biofertilizante.https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/insumos-agropecuarios/insumos-agricolas/fertilizantes/registro-estab-e-prod/registro-produtos/protocolo-bioensaios-28-07-2020-v2-1.pdf

https://algastech.com.br/algafert/,
https://naturealgas.com.br/
https://www.algasbrasil.com.br/produtos/

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