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A história da pesquisa por traz dos inoculantes para soja

Como o uso dessa tecnologia foi importante para o desenvolvimento da soja no Brasil



O que são os inoculantes?

São produtos biológicos compostos por bactérias benéficas ao desenvolvimento de plantas. Mais especificamente, os inoculantes para leguminosas (como soja, feijão, lentilha, etc) são conhecidos como rizóbios, e são compostos por bactérias que formam nódulos nas raízes e agem nesse local disponibilizando Nitrogênio para a cultura, que é captado da atmosfera. Essa associação entre planta e bactérias é chamada de simbiose e o fenômeno envolvido é a fixação biológica de Nitrogênio (FBN). O desenvolvimento da pesquisa, possibilitou que rizóbios específicos (chamados de estirpes) para cada cultura fossem selecionados, visando a maior eficiência na FBN. Na soja por exemplo, não há a necessidade de aplicação de adubos nitrogenados, o que possibilitou a o desenvolvimento da cultura no Brasil ao patamar que temos hoje.


Como tudo começou?

As pesquisas relacionadas ao tema começaram na década de 1950, no antigo Instituto de Pesquisas Agronômicas (IPAGRO) (que por muitos anos foi denominado FEPAGRO (Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária)) e hoje atual Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária (DDPA) faz parte da Secretaria da Agricultura Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação do estado do Rio Grande do Sul.

Quem coordenou os estudos na época foi o professor João Ruy Jardim Freire, que era o Coordenador da Seção de Bacteriologia do IPAGRO. Ele foi responsável pela importação das primeiras estirpes pesquisadas, vindas dos EUA e da Europa. Em 1954, devido a demanda da indústria de extração de óleo de soja, especialmente a empresa SAMRIG (Sociedade Anônima Moinhos Riograndeses), que buscava por inoculantes para a distribuição aos produtores, iniciou-se então a produção. A SEMIA 587 que foi recomendada para a produção de inoculantes de soja até os dias de hoje foi selecionada nesse período, a partir das pesquisas realizadas pela instituição. 

Professor João Ruy Jardim Freire no laboratório da Ipagro, na década de 1950. Fonte: Enilson Sá

Na mesma época, além da IPAGRO, instituições como a Embrapa e o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) pesquisavam sobre a eficiência dos inoculantes de soja. Na Embrapa, a pesquisadora Johanna Doberëiner destacou-se na pesquisa em FBN, tanto em leguminosas como também em gramíneas. 

Ainda na década de 1950, foi criada a “Coleção de culturas SEMIA” (Seção de Microbiologia Agrícola) na IPAGRO, que posteriormente foi incorporado ao Centro de Recursos Microbiológicos (MIRCEN), estabelecido em Porto Alegre no ano de 1978, em convênio com a UNESCO. A FEPAGRO/Coleção SEMIA está cadastrada como instituição fiel depositária do patrimônio genético brasileiro no Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGEN) do Ministério do Meio Ambiente (MMA) sob nº 075/2013/SECEX/CGEN. Outras instituições de pesquisa e ensino possuem bancos de estirpes, sendo essas responsáveis pela manutenção da viabilidade e eficiência agronômica dos organismos.


A importância dos rizóbios na expansão da soja no Brasil

As primeiras referências de plantios de soja no Brasil, são datados no final do século XIX, nos estados da Bahia e São Paulo. Já na década de 1940 houveram os primeiros relatos de exportação do grãos pelo país. Em um primeiro momento, a soja foi malvista, já que diziam na época que a monocultura seria responsável pela erosão, além do alto custo de cultivo devido à maior dependência de defensivos e adubo. Aos poucos esses argumentos foram derrubados e a soja se expandiu por todo o Brasil.

O melhoramento genético foi uma importante ferramenta e teve início entre as décadas de 1940 e 1950, no Instituto Agronômico de São Paulo e na Secretaria de Agricultura do Rio Grande do Sul, no Instituto de Pesquisas Agronômicas do Sul e na Universidade de Viçosa (MG), e após 1975, na Embrapa Soja, em Londrina (PR). As pesquisas relacionadas buscavam um material genético mais adaptado às condições climáticas e com maior produtividade.

Junto a isso, o avanço das pesquisas em FBN e a seleção de estirpes eficientes foram decisivos para essa expansão. A soja é bastante exigente em N, sendo que a partir da inoculação é fornecido até 100% do N necessário. A economia gerada ao Brasil pela produção de soja sem o uso de adubos nitrogenados passa dos 10 bilhões de dólares por safra. Além da economia, há redução do uso de fertilizantes químicos, o que contribui para a uma produção de alimentos de forma mais sustentável, colaborando com a preservação do meio ambiente.

Todos esses avanços biotecnológicos nesses anos de pesquisa na cultura do soja, levaram além da expansão da área plantada, um aumento de produtividade por unidade de área e alavancaram a produção do grão no país. Segundo a CONAB, a safra 2022/2023 teve uma área plantada de 44 milhões de hectare, com uma produção total de mais de 154 milhões de toneladas.

Fonte: Conab

Esses dados ilustram esse crescimento da cultura e também que ainda há possibilidade de desenvolvimento, mesmo sem considerar o aumento de área plantada, já que a cada ano a tecnologia vem avançando e trazendo melhorias para a produção do grão.

Franquiéle Bonilha da Silva
Eng. Florestal, Dra. Em Ciência do Solo

Referências:

CONAB. Dados de soja da Safra 2022/2023. Disponível em: https://www.conab.gov.br/info-agro/safras/serie-historica-das-safras/itemlist/category/911-soja

JARDIM FREIRE, J. R.; COSTA, J. A.; STAMMEL, J. G. Principais fatores que propiciaram a expansão da soja no Brasil. Revista Plantio Direto, n. 92, 2006.

RIO GRANDE DO SUL. Laboratório da Secretaria da Agricultura celebra 70 anos de pesquisa com inoculantes. Publicado em 01/08/2020. Disponível em: https://estado.rs.gov.br/laboratorio-da-secretaria-da-agricultura-celebra-70-anos-de-pesquisa-com-inoculantes
 

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