Concentração do inóculo ou reinoculação, o que é mais importante para o sucesso do inoculante?
Estudo demonstra o que mais influencia no efeito da inoculação
Produtos biológicos à base de microrganismos são conhecidos como inoculantes. O termo se tornou popularmente utilizado para rizóbios fixadores de Nitrogênio em leguminosas e em outros promotores de crescimento, mas também é adequado para produtos utilizados no controle biológico.
As formas de aplicação e veículos vem sendo constantemente aprimoradas pela indústria de bioinsumos, já que influenciam significativamente na capacidade de sobrevivência e de ação do produto. A capacidade da cepa de sobreviver no ambiente é um dos fatores chaves no desenvolvimento de um inoculante, já que pode ser influenciada por tantos fatores externos.
O uso de um inoculante é visto biologicamente como a introdução de uma espécie exótica no sistema, logo, antes de atuar nas funções ao qual é designado precisa sobreviver à competição com os organismos nativos do solo por espaço e nutrientes, além dos obstáculos ambientais, como altas temperaturas, estresse hídrico, dentre outros. A comunidade microbiana nativa exerce um papel importante na modulação de potenciais invasores e geralmente consegue identificar os benéficos, facilitando a sua introdução e estabelecimento, o que não é uma regra, podendo algumas vezes prejudicar a ação de inoculantes. Logo, é mais provável que um inoculante tenha sucesso em um solo degradado do que em um solo com uma alta diversidade da comunidade microbiana, já que poderá se estabelecer mais facilmente diante da menor competição.
Ainda há muitas controvérsias a cerca do assunto junto à comunidade científica. Estudos avaliando a capacidade de estabelecimento dos inoculantes no solo são de extrema importância para desvendar o efeito da inoculação no sistema e também do sistema sobre o inoculante.
Uma pesquisa recente publicada no periódico Scientific Reports, do conceituado grupo Nature, avaliou em que concentração e frequência a inoculação pode afetar a sobrevivência do inoculante e o impacto na comunidade microbiana nativa do solo. A hipótese do estudo sugere que inoculações recorrentes afetariam a comunidade microbiana do solo e aumentariam a sobrevivência e estabelecimento do inoculante.
Os pesquisadores avaliaram diferentes concentrações e sequências de inoculação, a partir de um produto comercial a base de Pseudomonas fluerescens. No estudo, monitoraram a sobrevivência da cepa e avaliaram o impacto das inoculações recorrentes na composição e diversidade da comunidade microbiana nativa e suas funções ecológicas.
Os resultados do estudo demonstraram que a concentração do inoculante tem maior efeito na sobrevivência do inóculo do que a utilização de inoculações sucessivas. Além disso, verificaram que a inoculação não é capaz de afetar a diversidade e composição da microbiota nativa, o que é um ponto positivo já que comunidade microbiana e inoculantes podem interagir positivamente no solo e agir sinergicamente no desenvolvimento de plantas, sem que haja nenhum impacto negativo nas funções ecológicas do sistema.
O resultado mais intrigante foi que as inoculações sucessivas aumentaram a concentração de nitrato (NO3) no solo de forma indireta, já que essa cepa não apresenta a capacidade de realizar a oxidação de amônia ou redução dissimilatória de nitrato. Os autores atribuem esse efeito indireto pela liberação de nutrientes para os organismos do solo por células mortas da cepa inoculada e também pela mudança causada na composição taxonômica microbiana pela inoculação, que favoreceu a predominância de microrganismos relacionados à ciclagem de Nitrogênio.
Para mais conteúdos técnicos sobre bioinsumos acesse a seção Biológicos no Portal Agrolink.
Fonte:
Papin, M., Philippot, L., Breuil, M.C. et al. Survival of a microbial inoculant in soil after recurrent inoculations. Scientific Reports, v. 14, 4177, 2024. https://doi.org/10.1038/s41598-024-54069-x
Franquiéle Bonilha da Silva
Dra. em Ciência do Solo
Consultora Agronômica em PDI