Avaliação do efeito do óleo vegetal na eficiência de fungicidas na cultura da bananeira
O manejo inadequado dos bananais favorecem o aumento da incidência e severidade da sigatoka-amarela
A banana (Musa spp.) é uma das frutas mais consumidas no mundo, a qual participa da dieta alimentar das mais diversas classes sociais. Conforme Cordeiro & Kimati (1997), embora o Brasil seja o segundo maior produtor mundial, com produção estimada em seis milhões de toneladas anuais, exporta apenas cerca de 1% desta produção, o que evidência a importância dessa fruta como alimento de consumo interno. O cultivo dessa cultura ocupa área superior a 500 mil hectares do território nacional, sendo a segunda fruta mais produzida no País. A bananicultura apresenta maior expressão do agronegócio capixaba e está presente em 17 mil propriedades ocupando área aproximada de 20 mil hectares (IBGE - Censo Agropecuário, 2004) que representa uma produtividade de 7,5 t/ha1.
Dentre os problemas fitossanitários que afetam a produção e a qualidade dos frutos nesta cultura pode-se citar as nematoses, as doenças viróticas, bacterianas e fúngicas. Estas últimas são, indubitavelmente, as mais importantes, com destaque para a sigatoka-amarela, o mal-do-Panamá e a sigatoka-negra (CORDEIRO & KIMATI, 1997).
O manejo inadequado dos bananais favorecem o aumento da incidência e severidade da sigatoka-amarela, doença fúngica causada por Mycosphaerella musicola Leach ex. Mulder, que provoca redução da atividade fisiológica da planta, e consequentemente redução da área foliar, o que afeta diretamente a sua produção (VENTURA, J. A. & HINZ, R. H., 2002). Segundo CORDEIRO & KIMATI (1997), as perdas médias da bananicultura nacional estão na faixa de 50% da produção quando afetada por esta doença.
O emprego de fungicidas é a medida mais utilizada para o controle das doenças fúngicas, entretanto, estudos sobre o uso de óleos vegetais como espalhantes-adesivos dos fungicidas são incipientes na agricultura, os quais têm restringido a poucas culturas como a da maça, do pêssego e do mamão (BERTON, 2002; FORTES, 2002; TATAGIBA et al.,2007). Estes óleos apresentam a característica de envolver a molécula do fungicida e assim permitir sua maior persistência sobre as folhas, além de melhorar a sua distribuição na planta e aumentar a resistência à lavagem por chuva (FORTES, 2002). Além disso, apresenta as vantagens da inocuidade à saúde humana e a não persistência ao meio ambiente.
Objetivo:
Avaliar o efeito da dose do óleo vegetal Agr’Oleo (éster de ácico graxo) na eficiência dos fungicidas Manzate (mancozeb) e Tilt (propiconazole), no controle da sigatoka-amarela da bananeira, comparada ao efeito do óleo mineral.
Material e métodos:
O experimento foi realizado em área comercial de banana cv. Prata-anã, com quatro anos de idade, cultivados no espaçamento de 3,5x2,0m, no período de março a julho de 2007, na Fazenda São Sebastião, Jacupemba município de Aracruz, ES.
Efetuaram-se os tratos culturais comumente utilizados na cultura, como desbastes e desfolhas. Não foram realizadas adubações de fertilizantes foliares e nem pulverizações de outros fungicidas e inseticidas/acaricidas. Somente no dia 26/06/2007 foi realizada adubação com esterco de galinha. O sistema de irrigação empregado foi o de gotejamento com uma lâmina de água média 4,5 litros/planta/dia.
O solo onde se cultivou a bananeira é do tipo Latossolo Amarelo de textura argilo-arenosa.
O delineamento foi em blocos casualizados, com três repetições. Como foi necessário selecionar plantas de porte médio (mesma altura e sem cachos), o tamanho da parcela experimental variou de 8 a 40 plantas, sendo destas, quatro plantas úteis. Foram utilizados nove tratamentos.
Realizaram-se quatro pulverizações a intervalos mensais (16/03, 12/04, 14/05 e 15/06). O volume de calda foi de 30L/ha para os tratamentos 3, 5 e 8 onde aplicou-se Tilt (aplicação UBV – Ultra Baixo Volume), e 300L/ha para os tratamentos 2, 4, 6, 7 e 9 com Manzate. Foi utilizado um atomizador costal motorizado modelo ULV- Super - 73 C.C., com vazão de 1,5L/min para aplicação do Manzate e 0,12L/min para aplicação do Tilt.
As avaliações foram realizadas em cinco épocas, a intervalos quinzenais: 11/04, 27/04, 10/05, 29/05, 12/06, 29/06 e 13/07/2007.
As variáveis avaliadas e o critério de avaliação foram:
•Severidade da doença na quinta folha infectada conforme método de Stover, com modificações (VENTURA, 2007 – dados não publicados), com dez graus de infecção, sendo: 0= ausência de lesões; 1= até 8,33% de área infectada; 2= 8,33%; 3= 16,66; 4= 24,99%; 5= 33,33%; 6= 41,65%; 7= 50%; 8= 58,3%; 9= 66,6%; e 10= acima de 74% de área infectada na folha.
•Incidência da doença determinada pela posição ordenada da primeira folha necrosada (infectada), considerando a vela como folha número zero.
A análise estatística foi realizada pelo programa AVACPD (TORRES & VENTURA, 1991) e pelo SAEG. Com os valores de severidade da Sigatoka-Amarela, calculou-se AACPSA (Área Abaixo da Curva de Progresso da Sigatoka-Amarela). As médias dos tratamentos foram comparadas pelo teste de Duncan ao nível de 5% de probabilidade.
Resultados e discussão
Todos os tratamentos fungicidas diferiram estatisticamente da testemunha em reduzir a AACPSA nas folhas, pelo teste de Duncan a 5% de significância.
O tratamento com a maior dose de Agr’Óleo (10 L/ha), em mistura ao Manzate, foi o mais eficiente em reduzir a AACPSA, proporcionando um controle de 53,4%; mas não diferiu estatisticamente dos tratamentos de Manzate+Agr’Óleo nas demais doses e dos tratamentos com Tilt com AgrÓleo ou com o Assist.
Embora o tratamento Manzate+Agr’Óleo na dose de 10L/ha não tenha diferido significativamente das doses de 7,5 e 5L/ha, este diferiu significativamente dos tratamentos de Manzate+Iharaguem e do Manzate com o Assist e, inclusive, do tratamento com Tilt, sem uso de óleos.
O Agr’Óleo apresentou um aumento de 22,4 a 40,5% na eficiência do Manzate (da menor para a maior dose) no controle da sigatoka-amarela, quando comparado ao Iharaguem, o que comprova a superioridade do óleo vegetal em agir como espalhante-adesivo comparado ao polioxietileno alquifenol éter (Iharaguem), o qual é empregado comumente na agricultura com esta finalidade.
O efeito do óleo vegetal Agr’Óleo sobre a eficiência do Manzate foi maior em 34,3% em relação ao óleo mineral Assist, ambos na dose de 10L/ha, com a vantagem de ser inócuo ao homem e não persistir no meio ambiente. Observou-se, portanto, que no caso de fungicida sistêmico triazol (Tilt), o efeito do Agr’Óleo foi semelhante ao obtido com o Assist, não diferindo estatisticamente deste.
A severidade da doença na 5a folha da testemunha variou de 1,5 a 2,83 durante o período experimental, detectando-se diferença estatística entre os tratamentos a partir na época 3, ou seja, após a segunda aplicação dos tratamentos, observando-se consistência nos resultados entre as épocas de avaliação. A severidade da sigatoka-amarela foi maior nos meses com temperatura mais baixa, com a média de 21,7oC em junho e julho, o que coincidiu com os meses em que os tratamentos expressaram melhor sua eficiência em proteger as folhas de infecção por M. musicola. O tratamento mais eficiente (Manzate+Agr’Óleo - 10Lha) proporcionou uma eficiência que variou de 48,7%.
Os resultados da severidade da doença na 5a folha foram semelhantes aos obtidos pela avaliação da primeira folha necrosada (PFN) por M. musicola, observando o ranking do tratamento de maior para o de menor eficiência. A avaliação da PFN reforçou o efeito do Agr’Óleo na eficiência dos fungicidas testados, principalmente o Manzate, que é um fungicida de contato, em ausência do Agr’Óleo (trat. 2) e com presença do Assist (trat. 4) não diferiram da testemunha; o melhor tratamento (Manzate+Agr’Óleo – 10L/ha) em reduzir a severidade na 5ª folha também foi o proporcionou o maior número de folhas não infectadas pelo patógeno, ou seja, com o valor de PNF próximo de 5, diferindo estatisticamente da testemunha e dos tratamentos do Manzate sem o Agr’Óleo.
O Agr’Óleo não causou sintomas de fitotoxidez em folhas da bananeira, mesmo depois de quatro aplicações, o que totalizou 40 L/ha acumulativo nas plantas deste óleo, em um período de quatro meses. Porém, o Assist misturado ao Tilt causou fitotoxidez após a terceira aplicação deste tratamento, provocando a ocorrência de manchas amareladas no sentido das nervuras do terço inferior do limbo foliar de todas plantas das parcelas deste tratamento.
Conclusões
O óleo vegetal Agr’Óleo apresentou grande potencial em aumentar a eficiência de fungicidas no controle da sigatoka-amarela na cultura da bananeira.
O Agr’Óleo foi superior ao Iharaguem quando misturado ao Manzate e ao Tilt, superior ao Assist quando misturado ao Manzate e semelhante ao Assist quando misturado ao Tilt.
O Agr’Óleo não causou sintoma de fitotoxidez à bananeira e o Assist quando misturado ao Tilt causou fitotoxidez no terço inferior do limbo foliar.
Agradecimentos
A Deus, pela constante providência e cuidados de Pai, ao Srº Rubens Vieira e o seu Gerente Jurandi, pela importante colaboração e em disponibilizar a área para a realização do experimento, ao pesquisador Dr. José Aires Ventura/Incaper pelas valiosas sugestões, postura solícita e acompanhamento do trabalho e ao Engenheiro Agrônomo Frederico Taques e corpo administrativo da Gota, pelo apoio e confiança.
Referências:
BERTON, O. Avaliação da eficiência do Dithane e Cercap com e sem Agr’Óleo no controle da mancha foliar da gala. 2002.
CORDEIRO, Z.J.M. & KIMATI, H. Doenças da bananeira (Musa spp.). In: KIMATI, H. et al. Manual de fitopatologia: doenças das plantas cultivadas. São Paulo: Agronômica Ceres, 1995-1997. 2v. p.112-136.
FORTES, J.F. Adição de óleo vegetal em fungicidas no controle da podridão parda em pessegueiro. Comunicado Técnico: 63, Pelotas, RS, 2002.
Na Imprensa Nacional: Uma nova banana. www.seag.es.gov.br. Disponível em: . Acesso em:19 de junho de 2007.
TATAGIBA, J.S.; CARON, E.S.; FERRAÇO, M.; IMBERT, J. & RAMOS, L.B. Eficiência do óleo vegetal Agr’Óleo como espalhante-adesivo de fungicidas na cultura do mamão. Fitopatologia Brasileira, 32: 154, 2007.
TORRES, J.C. & VENTURA, J.A. AVACPD: um programa para calcular a área e volume abaixo da curva de progresso da doença. Fitopatologia Brasileira, 16: 52. 1991.
VENTURA, J.A. & HINZ R.H. Controle das Doenças da Bananeira. In: ZAMBOLIM, L.; VALE, F.X.R. do; MONTEIRO, A.J.A. & COSTA, H. Controle de doenças de plantas fruteiras. Viçosa, MG, 2002. 2v. p. 839-906.