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Análise agroclimática completa para o inverno

Clima mais quente e seco deve impactar as lavouras e a pecuária


Mesmo sob condições de neutralidade, inverno deve ser menos frio e mais seco no país Mesmo sob condições de neutralidade, inverno deve ser menos frio e mais seco no país - Foto: Pixabay

No ano de 2024 a entrada oficial para o inverno astronômico será no dia 20 de Junho, quinta-feira, às 17h15 no horário de Brasília. O solstício de inverno é quando um dos hemisférios da Terra está mais inclinado para longe do Sol, resultando no dia mais curto do ano.

O inverno também é marcado como a estação mais seca no Brasil, principalmente em áreas da parcela central do país, enquanto áreas do sul seguem com um regime de chuvas recorrentes devido à maior ocorrência de avanços de frentes frias. Comumente, essas frentes frias também favorecem a incursão das massas de ar polar pelo Brasil, e em alguns casos chegando até o sul da região norte.

Contudo, tudo indica que o inverno de 2024 será diferente do padrão, com um perfil de chuvas mais escassas e temperaturas significativamente mais elevadas do que a média para o período, mesmo sob condições de neutralidade do fenômeno El Niño.

 

É possível o desenvolvimento da La Niña no inverno?

Nos monitoramentos mais recentes, as condições oceânicas na região do El Niño Oscilação Sul (ENOS) estão dentro daquilo que é considerado como Neutralidade, ou seja, saímos de uma condição de El Niño – águas mais quentes – para um patamar de temperaturas mais próximas à média histórica. Além disso, tudo indica que os próximos meses serão de transição para o fenômeno La Niña  – quando as águas na região do ENOS ficam mais frias do que o normal.


Probabilidades da fase do fenômeno ENOS, as chances para La Niña são representadas em azul, Neutralidade em cinza e El Niño em vermelho. Fonte: IRI.

 

Segundo a previsão por consenso do Instituto Internacional de pesquisas para o clima e sociedade, da universidade de Columbia nos EUA, há 83% de chances para a persistência das condições de Neutralidade para o trimestre de Junho a Agosto (JJA), seguindo para 64% de chances do cenário persistir no trimestre de Julho a Setembro (JAS). Dessas projeções, as condições para La Niña variam entre 13% a 32% na sequência dos dois trimestres. Contudo, as probabilidades de La Niña são maiores  a partir do trimestre de setembro a novembro (SON), onde há 50% de chances para o estabelecimento do fenômeno.

No entanto, as projeções da NOAA indicam 65% de chances para o desenvolvimento da La Niña entre Julho e Setembro (JAS), porém com o cenário mais provável para o estabelecimento de uma La Niña de fraca intensidade.


Probabilidades da fase do fenômeno ENOS, as chances para La Niña são representadas em azul, Neutralidade em cinza e El Niño em vermelho. Fonte: NOAA
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Já as projeções do Bureau de Meteorologia da Austrália, indicam que o cenário mais provável no inverno é das condições de Neutralidade na região do Oceano Pacifico Equatorial.


Previsão de anomalia de temperatura na região de monitoramento do ENSO. Valores dentro do limiar de ±0.8°C são considerados como Neutralidade pelo centro australiano. Fonte: BOM.

 

Portanto, mesmo que haja divergências entre as diferentes projeções, o cenário mais provável para o inverno de 2024 é a condição de Neutralidade do fenômeno El Niño-Oscilação Sul.

 

Como ficam as temperaturas para a estação?

De acordo com o levantamento da NOAA, o mês de maio de 2024 foi o maio mais quente do registro histórico, marcando assim uma sequência de 14 meses consecutivos com recordes absolutos de temperaturas globais acima da média. E as projeções indicam a continuidade deste cenário, que também é observado aqui no Brasil.

Assim, as projeções indicam que o inverno de 2024 será mais fraco, ou seja, mais quente do que no inverno passado, que estava sob influência do fenômeno de El Niño – que tende a ser menos intenso do que o esperado.

Além disso, buscando na memória recente, vamos ter uma condição bem diferente do que foi observado nos anos de 2021 e 2022, onde o inverno foi mais rigoroso como consequência do fenômeno La Niña.

As áreas de maior atenção para este inverno, em relação às temperaturas acima da média, são os setores entre o norte do Paraná, São Paulo, Triângulo Mineiro, sul de Goiás e Mato Grosso do Sul, onde a projeção indica até +3°C acima da média.  Embora, áreas entre o Paraná, até o estado do Maranhão, possam ter registros de +2°C acima da média histórica para o período.


Diferença entre a previsão e o valor médio para as temperaturas no trimestre de Julho, Agosto e Setembro de 2024. Áreas em laranja e vermelho indicam temperaturas acima da média, setores sem manchas indicam chuvas dentro da média. Fonte: Agrotempo.

 

Apesar do inverno ser menos rigoroso – menos frio – não se descarta o avanço de algumas massas de ar polar com intensidade o suficiente para ocasionar geadas, assim como alguns episódios de friagem na região norte.

Porém, vale ressaltar que a ocorrência desses eventos será mais rápida, com menor intensidade e menos frequente neste inverno.

 

As chuvas compensam as temperaturas acima da média?  

A perspectiva de chuvas para o inverno de 2024 é pessimista, principalmente em áreas do centro-sul do país.

As projeções indicam um quadro de chuvas abaixo da média para o período sobre o Rio Grande do Sul, oeste de Santa Catarina, Paraná, São Paulo e sul do Mato Grosso do Sul. Áreas que recebem bons volumes de chuva no decorrer da estação, com o avanço das frentes frias. Essa condição clima mais seco também pode ser um indicativo da menor incursão de frentes frias.

As simulações também indicam que a fronteira norte e litoral do Nordeste devem ter uma estação com um menor regime de precipitações.

Já no centro-norte do Brasil, incluindo áreas de Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, interior da Bahia, sul do Piauí, sul do Maranhão, Tocantins, sul do Pará, a expectativa é de chuvas dentro da média histórica. Contudo, há regiões que – climatologicamente – recebem menos de 30 mm no decorrer de toda a estação.


Diferença entre a previsão e o valor médio para as chuvas no trimestre de Julho, Agosto e Setembro de 2024. Áreas em laranja e vermelho indicam chuvas abaixo da média, setores sem manchas indicam chuvas dentro da média.  Fonte: Agrotempo.

 

Desta forma, a previsão de chuvas abaixo da média, sendo acompanhada por temperaturas significativamente mais altas, deve aumentar a restrição hídrica para algumas regiões, principalmente em áreas do Brasil central, abrangendo desde o norte do Paraná até o Matopiba.

 

Análise agroclimática

 

Sul

As projeções indicam chuvas abaixo da média e temperaturas mais altas. Com anomalias de até +3°C ao norte do Paraná, essas condições podem afetar negativamente as lavouras de trigo. A fase de desenvolvimento vegetativo e enchimento de grãos do trigo pode sofrer com a falta de água, exigindo manejo eficiente da irrigação para evitar perdas na produtividade. A redução das chuvas pode diminuir o risco de doenças fúngicas, mas o aumento das temperaturas pode acelerar o ciclo da cultura e impactar a qualidade dos grãos. Além disso, a falta de horas de frio, necessárias para o desenvolvimento de culturas de clima temperado, pode comprometer ainda mais a produtividade e a qualidade do trigo, que depende de temperaturas mais baixas para o desenvolvimento adequado. Essa falta de horas de frio pode também impactar negativamente outras culturas de clima temperado, como maçã e uva, que necessitam de um período de frio adequado para a dormência e desenvolvimento dos frutos. As lavouras de milho segunda safra na região Sul, que estarão em fases de maturação e colheita, que podem se beneficiar das condições mais secas. A escassez de chuvas e o aumento das temperaturas podem reduzir a disponibilidade de pastagens, comprometendo a alimentação do gado. A menor disponibilidade de forragem pode levar à necessidade de suplementação alimentar, aumentando os custos de produção. Além disso, o estresse térmico nos animais pode afetar a saúde e a produtividade, especialmente na produção de leite. A

 

Sudeste

A previsão indica chuvas abaixo da média e temperaturas mais altas, com anomalias de até +3°C em algumas áreas de São Paulo e Minas Gerais. Essas condições podem afetar negativamente as lavouras de feijão e milho segunda safra. Durante as fases de enchimento de grãos, a falta de água pode comprometer o desenvolvimento das culturas, exigindo manejo eficiente da irrigação. Para o café, que estará em fases de maturação, a menor precipitação e as temperaturas elevadas podem auxiliar o processo de colheita e secagem dos grãos. Na pecuária, a previsão de chuvas abaixo da média e temperaturas mais altas pode reduzir a disponibilidade de pastagens, dificultando a alimentação do gado. A escassez de forragem pode levar à necessidade de suplementação alimentar, elevando os custos de produção. Além disso, o estresse térmico nos animais, especialmente em bovinos de leite e corte, pode afetar a saúde e a produtividade, reduzindo a produção de leite e o ganho de peso.

 

Centro-Oeste

Na região Centro-Oeste a previsão indica chuvas dentro da média histórica, mas em volumes geralmente baixos, acompanhadas de temperaturas mais altas. As lavouras de milho segunda safra, que estarão em fases de enchimento de grãos, podem enfrentar estresse hídrico, exigindo uma gestão eficiente da irrigação para evitar perdas na produtividade. As temperaturas elevadas podem acelerar o ciclo das culturas, impactando o desenvolvimento dos grãos e potencialmente reduzindo a qualidade da colheita. A colheita do algodão, que estará em fase de maturação e colheita durante o inverno, pode ser beneficiada pela menor ocorrência de chuvas. Para o trigo, que estará em fases de enchimento de grão, a baixa precipitação pode ser benéfica ao reduzir doenças fúngicas, mas as altas temperaturas podem comprometer o desenvolvimento e a qualidade dos grãos. Já o feijão 3ª safra, presente em estágios desde enchimento de grãos até maturação, também enfrentará desafios com a menor disponibilidade de água, tornando a irrigação e o manejo hídrico fundamentais para assegurar a produtividade. Na pecuária, as condições climáticas previstas apresentam desafios significativos. A baixa precipitação e temperaturas mais altas podem reduzir a disponibilidade de pastagens, afetando a alimentação do gado e necessitando de suplementação alimentar, o que aumenta os custos de produção.

 

Nordeste

As temperaturas também estão previstas para ser mais altas do que o normal. Essas condições climáticas podem afetar significativamente as culturas de feijão e milho segunda safra, que estarão em fases críticas de desenvolvimento vegetativo, enchimento de grãos, maturação e colheita. A escassez de água e o calor intenso podem aumentar a necessidade de irrigação e impactar negativamente a produtividade, tornando crucial o manejo eficiente dos recursos hídricos. A colheita do algodão, que estará em fase de maturação e colheita no sul do Maranhão e no Extremo Oeste Baiano, poderá ser beneficiada pela falta de chuvas. O trigo, cultivado em menor escala na região, também poderá enfrentar desafios devido às condições secas e quentes, que podem afetar a qualidade dos grãos. Já o feijão 3ª safra, em diferentes estágios fenológicos como enchimento de grãos e maturação, necessitará de uma gestão cuidadosa de irrigação para mitigar os efeitos do déficit hídrico e garantir uma colheita satisfatória.

 

Norte

Na região Norte do Brasil as projeções indicam indica um regime de chuvas abaixo da média, especialmente no litoral e na fronteira norte, com temperaturas mais altas do que a média histórica. No estado de Rondônia, essa condição pode afetar significativamente a produção de café. A escassez de chuvas e as temperaturas elevadas podem aumentar o estresse hídrico das plantas, exigindo uma gestão eficiente da irrigação para garantir a produtividade e a qualidade dos grãos. Na pecuária, as condições climáticas adversas podem reduzir a disponibilidade de pastagens, aumentando a necessidade de suplementação alimentar e elevando os custos de produção. O estresse térmico nos animais pode afetar a saúde e a produção, especialmente na criação de gado leiteiro e de corte. Nos estados do Pará e Tocantins, as lavouras de milho segunda safra e feijão 3ª safra, também enfrentarão desafios devido à redução das chuvas e ao aumento das temperaturas. No Pará, as áreas de produção no Baixo Amazonas e Sudeste Paraense podem sofrer com a escassez de água, impactando negativamente a produtividade. No Tocantins, tanto a parte ocidental quanto a oriental do estado devem estar em fases críticas de desenvolvimento e necessitarão de uma gestão hídrica eficaz para minimizar as perdas. A diminuição das chuvas e as temperaturas mais altas podem aumentar a necessidade de irrigação e o risco de doenças e pragas, exigindo um manejo cuidadoso para assegurar uma colheita satisfatória. Na pecuária do Pará e Tocantins, a menor disponibilidade de pastagens devido à falta de chuvas pode comprometer a alimentação do gado, necessitando de suplementação alimentar e aumentando os custos de produção.

 

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