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Café no varejo pode ficar mais caro


Torrefadoras ameaçam repassar alta da matéria-prima às gôndolas dos supermercados. O acentuado aumento nos preços do café verde, que acumulam ganhos médios de 20% nos últimos dois meses, pode provocar alta de até 11% nos preços praticados pelo varejo brasileiro. "As indústrias, que ainda não conseguiram concluir o repasse de preços do ano passado, não têm condições de represar as altas recentes", avalia Nathan Herszkowicz, presidente do Sindicato da Indústria de Café do Estado de São Paulo e diretor-executivo da Associação Brasileira da Industria de Café (Abic).

Somente no segundo semestre do ano passado, os preços do café verde registraram ganhos de aproximadamente 110%. Deste total, apenas 40% foi repassado pela indústria ao varejo, segundo o sindicato. Os repasses ao varejo são graduais e em fevereiro as negociações com o varejo foram suspensas. "Já em fevereiro o déficit no preço final praticado no varejo oscilava entre 15% e 20%, ainda refletindo os ganhos dos últimos seis meses de 2002", diz Herszkowicz. As recentes altas, entretanto, devem provocar a retomada das conversações.

Alta de 9,5% desde 2001

Nos últimos dois meses, a saca de 60 quilos de café arábica, bebida comum, saltou dos R$ 120 a R$ 125, para cotações entre R$ 145 e R$ 150. O café conillon também se mantém em alta. Entre junho e agosto, os preços subiram 30%, para R$ 130 a saca. Herszkowicz calcula que computados somente os aumentos da matéria-prima, o repasse para o consumidor deverá ficar R$ 0,80 e R$ 0,90 por quilo. Hoje, o preço médio nas gôndolas é de R$ 7,65 por quilo de café torrado e moído no mercado paulista. No varejo, os preços do café acumulam alta de 9,5% nos vinte e seis meses compreendidos entre junho de 2001 e agosto deste ano.

Além do reajuste da matéria-prima, no último semestre houve aumento de diversos itens que compõem o custo total da indústria torrefadora de café, a exemplo das tarifas públicas, embalagens, custo de mão-de-obra, entre outros. "Não existe uniformidade de como será o reajuste dos preços, uma vez que cada indústria tem um poder de negociação diferente, mas é fato que o aumento não será absorvido pelo setor", afirma Herszkowicz.

O aumento dos preços do café verde reflete uma série de fatores, entre os quais destacam-se a política de valorização interna da matéria-prima, a redução da safra 2003/04 em volume maior que o estimado no início do período e a lentidão por parte dos cafeicultores no escoamento da safra atual. "Conforme avança a colheita, os produtores constatam uma quebra maior que a estimada inicialmente e se retraem ainda mais. Insatisfeitos com os preços atuais, muitos cafeicultores preferem cortar gastos com a manutenção do cafezal a vender aos preços atuais", diz Eduardo Carvalhaes, do Corretora Carvalhaes. O resultado desta redução de custos deve ser verificado na próxima safra, "que não será no mesmo volume do ano passado, quando o Brasil colheu uma produção recorde de 48 milhões de sacas de 60 quilos de café. Neste ano, muitos produtos, como o suco de laranja, o açúcar, a soja e o milho, estão com preços bons e é possível que os cafeicultores optem por não renovar parte do parque cafeeiro", conclui Carvalhaes.

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