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ARTIGO/VEJA: Enquanto o agronegócio distribui riqueza, o MST defende a distribuição da miséria


Nos últimos dez anos o Brasil se habituou a quebrar recordes de produção agrícola. Na semana passada, o IBGE informou que a próxima safra de grãos deve atingir 120 milhões de toneladas, 23% maior que a do ano passado. Nos últimos doze meses, o comércio de produtos agrícolas com outros países deixou um saldo positivo de 72 bilhões de reais. Estão no Brasil alguns dos campeões mundiais de produção e de produtividade de culturas, como a soja, a cana-de-açúcar, a laranja, o café.

O dinheiro originado na agricultura movimenta desde a venda de máquinas agrícolas até a de aviões e computadores. O agronegócio é o retrato do Brasil da solução: já representa 30% do PIB e gera quase 40% dos empregos, somando-se todas as oportunidades de trabalho relacionadas, da lavoura à indústria de alimentos.

O campo produtivo vive com os nervos à flor da pele por obra do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, agrupamento que prega uma sociedade utópica, "socialista e igualitária", mas adota atitudes menos poéticas, baseadas no terror. Invade propriedades, saqueia, mata animais, destrói patrimônio alheio e rouba.

A violência do MST deveria ser reprimida pelas autoridades, mas, para espanto de quem produz, não é o que se vê. O órgão do governo encarregado da reforma agrária dentro da lei e da ordem foi entregue a simpatizantes do movimento. Na semana passada, em vez de se reunir com as secretarias de Segurança nos Estados para estudar meios de conter os exageros do MST, o ministro Miguel Rossetto procurou o presidente Lula em busca de mais verbas para apaziguar líderes rurais que não querem a paz.

Parece incrível, mas o MST se posiciona contra o nivelamento por cima dos dois brasis existentes no campo. O exército de João Pedro Stedile condena o atual modelo do agronegócio, que emprega, gera receitas e movimenta a economia, e não demonstra nenhuma preocupação com o lucro nem com a produtividade. O MST quer (e tem conseguido) cada vez mais verbas para sustentar um modelo duvidoso de reforma agrária.

Considerando-se despesas diretas e indiretas no assentamento de 500.000 famílias, o governo Fernando Henrique Cardoso gastou em oito anos perto de 25 bilhões de reais, segundo cálculo do ex-presidente do Incra Francisco Graziano. Isso dá 50.000 reais por família – valor suficiente para comprar dois táxis. E quanto retiram da terra as famílias assentadas a um preço tão elevado? Não tanto quanto os taxistas.

Apenas os donos de lotes mais bem-sucedidos atingem o patamar de um salário mínimo mensal. Como a quantia é irrisória, surgiu o "reenfileiramento". O governo dá terra a uma família, os filhos pequenos dos assentados crescem, casam-se e voltam às fileiras do MST para conseguir o próprio lote. Quanto mais terra o governo dá, mais terra precisará dar. É uma equação que não se fecha e só serve mesmo como bandeira revolucionária.

E há ainda dois problemas adicionais, o primeiro deles de ordem prática. Os latifúndios improdutivos são cada vez mais raros no Brasil. Os que sobraram se localizam na região amazônica ou em áreas de terra imprópria para o cultivo. Neste ano, a diretoria do Incra no Paraná realizou vistorias em setenta fazendas à procura de imóveis improdutivos para desapropriar. Até agora, nenhuma foi declarada improdutiva.

Em Pernambuco, das 28 fazendas vistoriadas, apenas seis foram consideradas improdutivas. O outro problema é mais profundo. Quase todos os países fizeram algum tipo de reforma agrária. O Brasil é um dos últimos a enfrentar a questão. Entre 1910 e 1940, o governo mexicano fez algo parecido com o que o MST defende. As grandes propriedades foram repartidas em pequenas unidades, e as famílias recebiam ajuda do Estado para plantar.

Com a mecanização da lavoura, as pequenas propriedades tocadas com trabalho braçal enfrentaram dificuldade para sobreviver. Não podiam competir com fazendas cultivadas com tratores. Em meados da década de 80 constatou-se a falência do sistema. Segundo muitos especialistas, a reforma agrária não faz mais sentido econômico. Fazia quando o cultivo do campo era apenas uma atividade braçal e o plantio de grandes propriedades era difícil. Parte da cúpula do governo federal já percebeu isso, mas não sabe como tratar o assunto com o PT e com os seguidores de Stedile.

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