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Vacina contra carrapatos entra na fase industrial


O laboratório mineiro Hertape, há 58 anos no segmento veterinário, venceu a licitação pública realizada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) para produzir, em escala comercial, a primeira vacina sintética da América latina contra carrapatos. Além do Hertape, participaram da concorrência outros quatro laboratórios, três dos quais multinacionais do segmento – Bayer, Pfizer e Fort Dodge – e Vallè, também de Minas Gerais. A vacina atua, principalmente, contra carrapatos Boophilus microplus, que atacam rebanhos do continente americano e Oceania.

A vacina foi desenvolvida pela equipe do médico veterinário Joaquim Hernán Patarroyo Salcedo, pesquisador do departamento de Veterinária da Universidade Federal de Viçosa (UFV). "É a primeira vez que uma universidade federal de Minas Gerais repassa tecnologia para uma empresa privada. Isso demonstra que os governantes devem investir em ciência e tecnologia para promover o desenvolvimento do País", salienta Patarroyo, colombiano naturalizado brasileiro.

Primeiro contrato

O contrato para transferência de tecnologia, a primeira realizada pela Fapemig em 17 anos de atividades, será assinado nos próximos dias. "O laboratório Hertape apresentou a melhor proposta", ressalta o diretor da Fapemig, cientista Naftale Katz. O laboratório vai pagar royalties de 6% sobre a receita líquida para os detentores da patente – Fapemig e UFV. Segundo Katz, a instituição já depositou pedido de patente da vacina no Brasil, Uruguai, Paraguai, Bolívia, Venezuela, Austrália, Estados Unidos, México e os países da União Européia.

O laboratório inicia no próximo semestre os testes e o desenvolvimento industrial da vacina, que deverá chegar ao mercado brasileiro até o final de 2005, assinala o economista Caubi Carvalho Silva, sócio-diretor da Hertape: "Trata-se do primeiro tratamento preventivo contra o carrapato. Até agora, o controle é apenas corretivo".

O projeto prevê, inicialmente, a fabricação de 500 mil doses por mês, destinadas exclusivamente ao mercado interno. Conforme os cálculos do empresário, a preço de hoje a vacina custará algo em torno de R$ 1,20 a dose, proporcionando um faturamento anual da ordem de R$ 7,2 milhões. Para fabricar a vacina, Silva diz que o laboratório terá de investir algo em torno de US$ 500 mil na aquisição de máquinas específicas para essa linha de produção.

O reduzido aporte, segundo o empresário, justifica-se pelo fato de o laboratório possuir uma linha de produção moderna. A planta, localizada no município de Juatuba, Região Metropolitana de Belo Horizonte, foi inaugurada há 2,5 anos e representou investimentos da ordem de US$ 8 milhões.

Instalado em terreno de 75 mil metros quadrados, com 20 mil metros quadrados de área construída, o laboratório tem capacidade para fabricar 30 milhões de doses por mês. Atualmente, a produção mensal alcança 10 milhões de doses, de 32 vacinas para bovinos, eqüinos, cães, gatos, suínos, aves e terapêuticos. Com essa produção, para 2003 o empresário Silva projeta faturamento de R$ 40 milhões, resultado 100% maior que o verificado no ano passado, quando o laboratório apurou negócios de R$ 19,5 milhões.

Os primeiros estudos para criação da vacina sintética começaram em 1993, com recursos provenientes da Fapemig e da UFV, e apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). "Desenvolvemos a vacina a partir de peptídios sintéticos (fragmentos da proteína, constituídos de aminoácidos), capazes de interferir na reprodução dos carrapatos Boophilus microplus", explica o pesquisador Patarroyo, especialista em imunoparasitologia com doutorado em Ciência pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Controle em quatro anos

As pesquisas coordenadas pelo professor Patarroyo - que também é PhD em Biologia Molecular de Protozoos Parasitários, pelo Instituto de Biomedicina Lopez-Neyra, em Granada, Espanha – apontam que é possível alcançar o controle dos carrapatos após quatro anos de aplicação da vacina.

Para um rebanho estimado em 170 milhões de cabeças - segundo o IBGE - as perdas provocadas pelos carrapatos somam a US$ 2 bilhões/ano. O montante foi calculado pelos pesquisadores do Departamento de Parasitologia Animal (DPA), da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRuralRJ). Os levantamentos envolvem gastos com reposição de animais, carrapaticidas, despesas com veterinários, poluição ambiental, diminuição da produção de leite e perda de peso.

A tristeza parasitária bovina é a principal doença causada pelos agentes transmitidos pelos carrapatos. O animal fica prostrado, cabisbaixo, perde o apetite, tem febre alta e, dependendo do caso, a urina fica escura.

Hernán Patarroyo Salcedo mostra que uma fazenda bem manejada, com bom índice de tecnologia, tem, em média, 100 carrapatos adultos por mês para cada um dos animais.

Em um rebanho de 100 vacas isso representa a perda de cerca de 90 litros de leite por mês. "Isso em um rebanho com eficiente controle de carrapatos. Imagina nas propriedades que não dispõem desses recursos", salienta o pesquisador.

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