Segurança na aplicação de agrotóxicos / defensivos agrícolas
Leia sobre a segurança no manuseio de agrotóxicos e o uso de EPIs.
Os agrotóxicos podem causar intoxicações e/ou lesões nos trabalhadores que os utilizam. As intoxicações podem ocorrer por contato direto (no preparo, aplicação ou manuseio) ou indireto (contaminação de água e alimentos ingeridos, deriva etc.). Ao trabalhar com agrotóxicos, os fatores de risco são agrupados quanto à toxicidade e exposição. As medidas de segurança também podem ser agrupadas destas duas formas.
Ao trabalhar com o manuseio de agrotóxicos, o trabalhador está exposto a diversos riscos, a depender das características toxicológicas do produto, formulação utilizada, exposição durante as atividades e percepção do risco. O critério de aceitabilidade de risco para determinarmos a segurança no trabalho durante a aplicação com agrotóxicos é a dose segura do ingrediente ativo, que consiste na maior dose que ainda não causa nenhum efeito tóxico aos animais expostos via oral, e é calculado pelo peso corpóreo do trabalhador.
A intoxicação pode ser aguda, quando ocorre exposição a grandes quantidades por um curto período de tempo, ou crônica, quando ocorre exposição a pequenas quantidades por um período longo de tempo. A exposição ocorre através do nariz, olhos, boca e pele, e a pessoa exposta a esses produtos deve receber cuidados médicos, informando ao médico, se possível, a qual produto foi exposta. Não se deve induzir o vômito ou comer / beber quando houver ingestão de agrotóxicos.
Durante a aplicação, diversos fatores influenciam na disposição aos produtos:
- Tipo de cultura;
- Tipo de equipamento de aplicação;
- Pressão de trabalho;
- Tamanho do tanque;
- Volume de aplicação;
- Altura e direção da aplicação;
- Bicos de pulverização;
- Comportamento do trabalhador;
- Frequência das exposições
- Medidas de segurança, proteção e higiene adotadas;
- Variáveis ambientais (temperatura, umidade e vento).
Medidas de segurança na aplicação de agrotóxicos
Medidas preventivas no ambiente de trabalho
- Administrativas: são procedimentos e normas estabelecidos pela administração da empresa, atendendo a legislação vigente, buscando eliminar riscos, substituindo ou adequando os processos produtivos, máquinas e equipamentos; adotar medidas de proteção coletiva para o controle de riscos na fonte e adotar medidas de proteção pessoal. Tais ações contemplam melhorias no ambiente e condições de trabalho, promovem a saúde dos trabalhadores e visam educar através de campanhas sobre prevenção de acidentes e doenças no trabalho;
- Eliminação do risco de intoxicação: ocorre através do uso de métodos alternativos aos agrotóxicos, buscando, quando possível, a substituição total ou parcial destes. Envolve técnicas, métodos, estratégias de controle etc. Quando forem utilizados agrotóxicos, sempre ler atentamente as instruções da bula e usar equipamentos de proteção individual (EPIs);
- Controle de toxicidade: é feita através da recomendação de produtos menos tóxicos na prescrição da receita. Os produtos menos tóxicos são os que apresentam o maior valor de ingrediente ativo sem efeito tóxico (NOEL);
- Medidas de higiene: determinada através da legislação, são identificadas as necessidades de limpeza no ambiente de trabalho, máquinas e ferramentas. As operações de limpeza devem ser programadas no desenvolvimento das atividades, selecionando as pessoas que serão responsáveis por estas tarefas.
Medidas preventivas aplicadas ao trabalhador
São medidas educacionais, capacitando, treinando e motivando os funcionários, através de determinação por lei. O empregador é responsável pela capacitação dos funcionários sobre prevenção de acidentes com agrotóxicos, adjuvantes e produtos similares. São considerados os trabalhadores expostos aos agrotóxicos ou que manipulam agrotóxicos ou produtos semelhantes, em qualquer uma das etapas (armazenamento, transporte, preparo, uso, descarte e descontaminação de equipamentos e vestimenta). Além disso, também é acompanhada as condições de saúde do trabalhador ao longo do tempo
Segurança por proteção no ambiente de trabalho
São medidas que isolam ou neutralizam os riscos, aplicadas individualmente (no trabalhador) ou coletivamente (no ambiente ou componentes de trabalho).
- Medidas de proteção coletiva: atuam em fatores de risco ligados com o ambiente de trabalho, através de equipamentos de proteção coletiva (cartazes, faixas, exaustores, barreiras no ambiente, equipamentos, isolantes dos riscos, proteção contra quedas em alturas etc.). No caso da aplicação de agrotóxicos, podemos citar também: equipamentos com proteção de barra contra derivas das pulverizações, equipamentos com posto de trabalho mais distante do ponto de saída dos agrotóxicos e sistema fechado de abastecimento do equipamento. Além disso, também se inclui nestas medidas o armazenamento e manuseio de embalagens;
- Medidas de proteção individual: são implementadas através dos equipamentos de proteção individual (EPIs), que devem ser fornecidos pelo empregador, que também deve fornecer vestimentas para serem utilizadas sob os EPIs no trabalho com agrotóxicos. O empregador também deve garantir que nenhuma vestimenta ou dispositivo de proteção contaminados sejam levados para fora do ambiente de trabalho ou que sejam reutilizados sem descontaminação, bem como vedar o uso de roupas pessoais durante a aplicação de agrotóxicos.
Recomendações práticas ao aplicar agrotóxicos
Cuidados prévios
- Respeite a legislação em vigor, seguindo as boas práticas recomendadas;
- Busque orientações com o engenheiro agrônomo / técnico agrícola;
- Use apenas agrotóxicos com receituário agronômico;
- O aplicador de agrotóxicos deve passar por treinamento prévio;
- Crianças, idosos, gestantes e lactantes não podem ter contato com agrotóxicos;
- Siga todas as recomendações da bula;
- Não transporte agrotóxicos junto com alimentos, rações, medicamentos, animais ou pessoas;
- Armazene o produto em local específico, longe de casas, com sinalização adequada indicando "veneno" ou "produto tóxico".
Cuidados durante o manuseio de agrotóxicos
- Não fume, beba ou coma durante o manuseio de agrotóxicos;
- Abra a embalagem com cuidado, evitando respingos;
- Manuseie o agrotóxico em local aberto e ventilado;
- Não use utensílios domésticos nos agrotóxicos;
- Não use equipamentos com defeitos, avarias ou vazamentos;
- Observe a vida útil dos filtros.
Cuidados durante a aplicação de agrotóxicos
- Respeitar as condições climáticas indicadas para a aplicação dos produtos;
- Utilizar equipamentos de proteção individual (leia mais abaixo);
- Não desentupir bicos, orifícios ou válvulas com a boca.
Cuidados após a aplicação
Sinalizar bem a área onde foi aplicado o agrotóxicos com a frase "PROIBIDA A ENTRADA. ÁREA COM APLICAÇÃO DE AGROTÓXICO". A sinalização deve permanecer até o final do período de reentrada na lavoura.
Equipamentos de proteção individual (EPIs)
Os equipamentos de proteção individual, usados durante a aplicação de agrotóxicos, são elaborados com materiais hidrorrepelentes (fios de algodão e poliéster tratados com materiais impermeáveis e/ou compostos de fluorcarbono), que evitam a passagem do produto tóxico para o interior da roupa. São colocadas camadas impermeáveis sobre o poliéster ou algodão. Os EPIs podem ser divididos em:
- Proteção da cabeça, rosto e olhos: protetores faciais impermeáveis, óculos, respiradores com filtros, protetores auriculares;
- Proteção dos membros superiores: mangas e luvas que protegem contra produtos irritantes, tóxicos, alergênicos, corrosivos etc.;
- Proteção dos membros inferiores: botas ou calçados impermeáveis e antiderrapantes, resistentes a produtos químicos;
- Proteção do corpo inteiro: aventais, jaquetas, capas, macacões etc. Protegem contra lesões provocadas por agentes térmicos, biológicos, químicos, mecânicos etc.
Os EPIs são compostos das seguintes partes:
- Vestimentas: calça, jaleco e capuz/touca. Protegem o corpo contra os agrotóxicos, e devem ser hidrorrepelentes.
- Luvas: muito importantes, pois as mãos possuem alto risco de exposição durante a aplicação de agrotóxicos. O tipo de luva varia conforme o produto. Por exemplo: produtos com solventes orgânicos devem ser manipulados com luvas de borracha nitrílica ou de Neoprene. Já protus sólidos ou formulações sem solventes orgânicos podem ser manuseados com luvas de Látex ou PVC.
- Respiradores (máscaras): evitam a inalação de partículas tóxicas. Podem ser descartáveis ou duráveis. Para produtos que emitem vapores orgânicos ou cheiro forte, recomenda-se respiradores com filtro de carvão ativado. Em algumas ocasiões, como por exemplo aplicação tratorizada de produtos granulados incorporados ao solo (a qual não forma névoas), pode-se dispensar o uso de respiradores.
- Viseira facial / óculos de proteção: protege os olhos e rosto contra os respingos dos produtos. Devem proporcionar boa visibilidade e conforto. A depender do produto, quando não houver emissão de vapores, pode-se usar viseira e touca árabe no lugar do respirador, proporcionando maior conforto.
- Touca árabe: recebe tratamento hidrorrepelente e protege a cabeça e pescoço contra a névoa de pulverização.
- Avental: é elaborado com material resistente e impermeável, aumentando a proteção contra respingos. São escolhidos conforme a atividade.
- Botas: devem ser de cano alto, impermeáveis e resistentes aos solventes orgânicos.
As atividades possuem diferentes necessidades de uso de EPIs. Consulte a tabela abaixo para entender melhor. Vale lembrar que a tabela não deve ser utilizada como único critério para uso dos EPIs, visto que cada ambiente de trabalho possui condições distintas que podem exigir o uso de mais itens.
Fonte: ANDEF edu
Como vestir o EPI na aplicação de agrotóxicos?
Antes de utilizar o EPI, deve-se respingar água sobre o equipamento, verificando se o líquido é absorvido pelo tecido. Se o líquido for absorvido, significa que o EPI perdeu a proteção hidrorrepelente, e o agrotóxico pode entrar em contato com o corpo do aplicador (neste caso, o EPI deve ser lavado, cortado em pedaços e descartado). Se a água não for absorvida pelo tecido, ficando bolhas do líquido no tecido, com efeito de lente de aumento (os fios do tecido parecem maiores), significa que o EPI ainda está protegido.
É importante seguir a ordem correta para vestir e retirar as partes do EPI, de forma a evitar contaminações:
Vestindo o EPI:
- Calça e jaleco: devem ser vestidos sobre a roupa comum - que não deve ser de uso pessoal - para aumentar o tempo de proteção (evitando que o suor sature o tecido hidrorrepelente). Vestir primeiro a calça e depois o jaleco, que deve ficar sobre a calça. Se o jaleco possuir capuz, deve ser vestido para que este não acumule / retenha os produtos.
- Botas: devem ser de cano longo, impermeáveis, calçadas sobre meias de algodão para não machucar o pé. Os canos das botas devem estar debaixo da calça, impedindo o escorrimento dos agrotóxicos para dentro das botas.
- Avental: é impermeável, vestido por cima do jaleco, utilizado na parte da frente do corpo durante o preparo da calda, e na parte de trás durante as aplicações com equipamento costal.
- Respirador: os dois elásticos devem ficar fixados e sem dobras, um na parte de cima da cabeça e outro na altura do pescoço, sem apertar as orelhas. Não deve haver aberturas para a entrada de agrotóxicos, e o aplicador deve estar bem barbeado.
- Viseira facial / óculos de proteção: deve ser ajustada de forma firme, porém, sem apertar a cabeça, e com alguma distância do rosto, o suficiente para não embaçar durante a respiração.
- Boné arabe: colocada sobre a viseira ou óculos, com o velcro sobre a viseira. Deve proteger toda a face, pescoço e cabeça.
- Luvas: é o último equipamento a ser colocado. Não devem ser muito justas e nem muito grandes, e devem ser colocadas para dentro das mangas do jaleco, ou para fora se o jato de pulverização for dirigido.
Pulverização de pesticida sobre plantação de banana com trabalhadores desprotegidos, República Dominicana.
Imagem: Lapeyre de Bellaire, Luc / CIRAD.
Retirando o EPI:
É importante seguir a ordem correta para a retirada do EPI, de forma a evitar que as partes contaminadas entrem em contato com o corpo:
- Lavar as luvas (ainda vestido, sem tirar qualquer equipamento);
- Retirar o boné árabe;
- Retirar a viseira facial / óculos;
- Retirar o avental;
- Retirar o jaleco, puxando o tecido pelos ombros, evitando que o jaleco seja virado ao contrário e a parte externa entre em contato com o rosto;
- Retirar as botas em local limpo, onde o aplicador não suje os pés;
- Retirar a calça sem virá-la do avesso;
- Retirar as luvas puxando pela ponta dos dedos aos poucos, para se desprenderem simultaneamente, sem virá-las do avesso;
- Por último, retirar o respirador e guardá-lo em saco plástico limpo, evitando contaminar os filtros e partes internas.
Após o uso, é preciso descontaminar o EPI através da lavagem, que só pode ser realizada por pessoas previamente treinadas. A pessoa que lavar os EPIs também deve estar protegida, utilizando os equipamentos necessários. Alguns outros requisitos também devem ser observados, consulte a legislação vigente.
O que fazer em caso de envenenamento / mal-estar com agrotóxicos?
Em caso de envenenamento, mal-estar ou contato repetido com agrotóxicos, procure os serviços de saúde mais próximo, levando o rótulo / embalagem do agrotóxico.
Em caso de problemas imediatos e graves, procure uma unidade de urgência / emergência ou chame o SAMU 192. Já no caso de problemas mais leves e crônicos, procure uma unidade de saúde próxima. Você também pode ligar para o Disque-intoxicação da ANVISA, onde você pode tirar dúvidas e obter procedências para qualquer tipo de intoxicação. Clique aqui para acessar o Disque-intoxicação.
Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo
Referências:
ANTUNIASSI, U. R.; BOLLER, W. Tecnologia de Aplicação Para Culturas Anuais. 2. ed. Passo Fundo, RS: Aldeia Norte, 2019. 373 p.
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE DEFESA VEGETAL. MANUAL DE BOAS PRÁTICAS NO USO DE EPIs. São Paulo, SP, 2019. Manual.