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Agrotóxicos / defensivos agrícolas - O que são? Quais os tipos? Como são usados?

Entenda o que são os agrotóxicos e quais são suas vantagens e desvantagens.


Foto: Divulgação

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O que são agrotóxicos / defensivos?
Qual a composição dos agrotóxicos / defensivos?
Onde são usados os agrotóxicos / defensivos agrícolas?
Alvo biológico
Consequências do uso de agrotóxicos

      - Consequência dos agrotóxicos / defensivos na saúde humana
      - Consequência dos agrotóxicos / defensivos no meio ambiente
Vantagens e desvantagens dos agrotóxicos
Classificação toxicológica e ambiental dos agrotóxicos
Agrotóxicos proibidos no Brasil: quais são e porque?

 

O que são agrotóxicos / defensivos?

Os agrotóxicos são produtos muito utilizados na agropecuária para combater doenças, pragas e plantas daninhas (conhecidos também como alvos biológicos, você pode ler mais sobre eles abaixo) em áreas de cultivos agrícolas.

Esses produtos possuem propriedades químicas que reduzem ou eliminam esses organismos, e também são tema de amplos debates sobre os prejuízos do uso desses produtos. Os agrotóxicos podem ser biológicos, que causam menores impactos ao meio ambiente, ou químicos. Além disso, produtos conhecidos como desfolhantes, dessecantes, inibidores de crescimento e estimulantes também são considerados agrotóxicos / defensivos.

Esses produtos são muito comuns pois são fáceis de usar, possuem boa disponibilidade no mercado, e quando bem utilizados, controlam de maneira eficiente e rápida os problemas citados acima, geralmente por um custo acessível e sem muita mão-de-obra.

Existem mais de 3 mil agrotóxicos que podem ser comercializados no Brasil, com diferentes classificações e composições químicas (você pode consultar todos esses produtos no AgrolinkFito). Quanto ao alvo, os agrotóxicos podem ser classificados em:

  • Inseticidas - controlam insetos;
  • Fungicidas - controlam fungos;
  • Herbicidas - controlam plantas daninhas;
  • Nematicidas - controlam nematóides;
  • Acaricidas - controlam ácaros;
  • Bactericidas - controlam bactérias;
  • Formicidas - controlam formigas;
  • etc.

A presença desses organismos indesejáveis reduz a produtividade das lavouras, muitas vezes de forma bastante significativa, podendo reduzir 100% da produção, por isso o seu uso é bastante comum.

 


Aplicação de defensivos feita por trator.

 

O uso de agrotóxicos no Brasil é regulado pelo MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), junto com outros órgãos competentes, e o comércio e uso desses produtos deve obedecer a toda uma legislação, de forma a reduzir o perigo e impactos desses produtos na saúde humana e no meio ambiente.

 

Qual a composição dos agrotóxicos / defensivos?

Os agrotóxicos são feitos através de formulações, misturando-se o ingrediente ativo (i.a.) com ingredientes inertes líquidos ou sólidos, de forma que o produto tenha uma boa dispersão e eficiência. 

Dentre os ingredientes ativos mais comuns, temos o glifosato, 2,4-D, mancozebe, acefato, imidacloprido etc. Cada um desses ingredientes promove diferentes efeitos em diferentes alvos.

Também podem ser adicionados posteriormente, antes da aplicação dos produtos, agentes auxiliares, como surfactantes (facilitam a mistura com água e permitem boa absorção pelas plantas), agentes dispersantes (facilitam a dispersão dos pós nas misturas), estabilizantes (evitam a decomposição do ingrediente ativo) etc.

 

Onde são usados os agrotóxicos / defensivos agrícolas?

Os agrotóxicos podem ser usados principalmente em atividades agrícolas, mas também são usados em atividades não agrícolas.

Dentre as agrícolas, são usados durante a produção (limpeza do terreno, preparo do solo, durante a produção para proteger de pragas, doenças e plantas daninhas), armazenamento e beneficiamento dos produtos agrícolas. Também são usados em pastagens e florestas plantadas.

Fora da agricultura, os agrotóxicos são utilizados em florestas nativas ou outros ecossistemas, como lagos e açudes, ambientes urbanos e industriais.

 

Alvo biológico

Alvos biológicos são os organismos que causam prejuízos na lavoura, tais como insetos, fungos ou plantas daninhas, e que são controlados com os agrotóxicos. Estes organismos causam prejuízos na cultura prejudicando o seu metabolismo, competindo por nutrientes, água, luz solar ou espaço, transmitindo doenças, consumindo a planta etc.

Os alvos biológicos muitas vezes se tornam resistentes aos agrotóxicos, de forma a dificultar cada vez mais o seu controle. Isso acontece de forma mais significativa quando os agrotóxicos são utilizados de forma errada, como por exemplo quando não são recomendados para aquele alvo, utilizados em doses ou frequências maiores / menores do que o recomendado, utilizados em épocas erradas etc.

O uso correto dos agrotóxicos visa eliminar somente os alvos biológicos, causando o mínimo de impacto possível na vida de outros organismos benéficos ao meio ambiente. Qualquer quantidade de agrotóxico que não atinja o alvo não terá eficácia, além de causar prejuízos a outros organismos ou ao meio ambiente. Dessa forma, é fundamental fixar o alvo com exatidão.

 

Consequências do uso de agrotóxicos

O uso correto e adequado promove a produtividade e qualidade dos produtos, reduzindo os prejuízos ao meio ambiente e à saúde humana. O uso desses produtos deve ser tecnicamente orientado, feito por pessoas autorizadas, em épocas adequadas, com as máquinas adequadas, bem reguladas e calibradas, respeitando as condições climáticas recomendadas para aplicação.

Embora sejam muito importantes na produção agrícola, caso sejam desrespeitadas as condições acima, os agrotóxicos podem causar diversos prejuízos, principalmente quando utilizados de forma errônea. Essas substâncias químicas, quando consumidas acima do limite indicado, podem causar prejuízos aos seres vivos e ao meio ambiente.

 

Consequência dos agrotóxicos / defensivos na saúde humana

Na saúde humana, os efeitos podem ser:

  • Agudos: quando resultam da exposição à uma concentração tóxica, causando um efeito nocivo instantâneamente, como por exemplo fraqueza, cólicas, vômitos, espasmos, convulsões, irritação, tonturas, dor de cabeça, dificuldade respiratória etc.
  • Crônicos: quando resultam de uma exposição contínua a doses baixas dos produtos, causando efeitos como alterações cromossomais, efeitos neurológicos retardados, arritmias cardíacas, alergias, asma, cânceres, doença de Parkinson, fibrose pulmonar etc.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada 50 casos de intoxicação por agrotóxicos, apenas um é notificado. A intoxicação por agrotóxicos pode ocorrer de forma direta (manuseio, aplicação etc.) ou indireta (ingestão de alimentos ou água contaminados). Diversos sintomas de intoxicação não são exclusivos dos agrotóxicos, podendo ocorrer por diversos outros motivos, o que dificulta um diagnóstico da intoxicação por agrotóxicos. Ainda, segundo a OMS, são registradas cerca de 20 mil mortes por ano devido ao consumo de agrotóxicos.

Já a Organização Internacional do Trabalho (OIT) afirma que, em países em desenvolvimento, os agrotóxicos causam cerca de 70 mil intoxicações agudas e crônicas por ano e que evoluem para óbito, e mais de 7 milhões de casos de doenças não fatais também são registrados.

É importante entender que os agrotóxicos são bioacumulativos, o que significa que o produto permanece em um corpo após a sua morte. Ou seja, caso nos alimentarmos de uma carne de um boi que ingeriu agrotóxicos, também iremos nos contaminar com estes produtos.

 

Consequência dos agrotóxicos / defensivos no meio ambiente

No meio ambiente, esses produtos podem se acumular na biota, água, ar, solo etc., e contaminar comunidades e seres vivos não-alvo, que são benéficos ao meio ambiente. A água participa de diversos processos biogeoquímicos, e a contaminação desta com agrotóxicos é bastante preocupante. Animais e seres humanos podem consumir água ou plantas / produtos contaminados. No solo, ocorrem alterações na matéria orgânica, morte de microrganismos e invertebrados e prejudica a ciclagem de nutrientes. Esses produtos podem ter bastante persistência no solo, a depender de suas características.

 

Vantagens e desvantagens dos agrotóxicos

Entendidas as informações acima, podemos definir algumas vantagens e desvantagens do uso de agrotóxicos. Como vantagens, os agrotóxicos promovem o controle de pragas, doenças e plantas daninhas de forma prática e com um custo acessível. Além disso, a maioria dos produtos promove um controle rápido do alvo, evitando maiores prejuízos.

Porém, como desvantagens, promovem o aumento da resistência e/ou tolerância dos alvos biológicos, além de causarem prejuízos à saúde e ao ambiente, especialmente quando usados de forma errônea.

Para evitar tais prejuízos, deve-se aliar o uso dos agrotóxicos com o manejo integrado, além de rotacionar os ingredientes ativos, evitando o surgimento de resistência, planejar o uso, identificar corretamente a espécie alvo e aplicar a dose correta do produto.

 

Classificação toxicológica e ambiental dos agrotóxicos

Os agrotóxicos no Brasil são classificados conforme a sua toxicologia, ou seja, conforme os riscos à saúde humana. Essa classificação, elaborada pela ANVISA, também é representada por cores, que constam no rótulo e bula, conforme a toxicidade do produto:

Categoria 1 - Produto extremamente tóxico: cor vermelha;
Categoria 2 - Produto altamente tóxico: cor vermelha;
Categoria 3 - Produto moderadamente tóxico: cor amarela;
Categoria 4 - Produto pouco tóxico: cor azul.
Categoria 5 - Produto improvável de causar dano agudo: cor azul;
Não classificado - Produto não classificado: cor verde;

 

Além disso, os agrotóxicos são classificados conforme o seu Potencial de Periculosidade Ambiental (PPA), que depende de fatores como persistência no ambiente, bioconcentração e ecotoxicidade dos agrotóxicos à diversos organismos

Classe I - Produto ALTAMENTE PERIGOSO ao meio ambiente;
Classe II - Produto MUITO PERIGOSO ao meio ambiente;
Classe III - Produto PERIGOSO ao meio ambiente;
Classe IV - Produto POUCO PERIGOSO ao meio ambiente.

 

Observe abaixo parte da bula de um agrotóxico onde são informadas a classificação toxicológica e ambiental: 

 

Agrotóxicos proibidos no Brasil: quais são e porque?

No Brasil, a ANVISA proibiu o comércio e uso de alguns agrotóxicos que, segundo o órgão, causam um "risco inaceitável". Vejamos alguns exemplos abaixo:

  • Carbofurano (inseticida): alta toxicidade aguda, alta persistência no ambiente, alta periculosidade, teratogenicidade (causa anormalidades no desenvolvimento do feto) e neurotoxicidade;
  • Endosulfan (fungicida / inseticida): alta persistência ambiental e/ou periculosidade, câncer e distúrbios hormonais;
  • DDT (inseticida): alta persistência ambiental e/ou periculosidade, potencial cancerígeno e distúrbios hormonais.

Para ver todos os agrotóxicos proibidos no Brasil, clique aqui! 

 

Se interessou pelo assunto? Consulte a seção AgrolinkFito e veja nossas outras páginas  com mais detalhes sobre os conteúdos apresentados nesta página!

 

Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo

 

Referências:

AZEVEDO, F. R. de; FREIRE, F. das C. O. Tecnologia de Aplicação de Defensivos Agrícolas. Embrapa Documentos, [s. l.], n. 102, 2006.

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Campos, A. L. de., Ignácio, Á. R. A., Oliveira Junior, E. S., & Lázaro, W. L. (2021). O avanço do agrotóxico no Brasil e seus impactos na saúde e no ambiente. Revista em Agronegócio e Meio Ambiente, Maringá, 14(1), e007934. DOI: https://doi.org/10.17765/2176-9168.2021v14n1e007934

CARNEIRO, F. F. et al. Segurança Alimentar e nutricional e saúde. Parte 1. In CARNEIRO, Fernando Ferreira et al. (org.) Dossiê ABRASCO: um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde. Rio de Janeiro: EPSJV; São Paulo: Expressão Popular, 2015. Disponível em: Acesso: 18 jun. 2024.

Dutra, L. S., Ferreira, A. P., Horta, M. A. P., & Palhares, P. R. (2020). Uso de agrotóxicos e mortalidade por câncer em regiões de monoculturas. Saúde em Debate, Rio de Janeiro, 44(127), 1018 – 1035. DOI https://doi.org/10.1590/0103-1104202012706.

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INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA. Ambiente, trabalho e câncer: aspectos epidemiológicos, toxicológicos e regulatórios / Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. – Rio de Janeiro: INCA, 2021.

Ribas, P. P., & Matsumura, A. T. S. (2009). A química dos agrotóxicos: impacto sobre a saúde e meio ambiente. Revista Liberato, Novo Hamburgo, 10(4), 149 – 158. http://revista.liberato.com.br/ojs_lib/index.php/revista/article/view/142

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