O que fazer com embalagens vazias de agrotóxicos?

Após o uso de defensivos agrícolas, devemos lavar e descartar corretamente as embalagens vazias de agrotóxicos para evitar possíveis contaminações ao meio ambiente ou intoxicações aos seres vivos. Tal responsabilidade é determinada por lei, sendo obrigada a todos que fazem parte tanto da produção quanto da utilização (fábricas, lojas, vendas, revendas, postos de recebimento e produtores), sendo passíveis de punição em caso de descumprimento. O descarte incorreto ou fora do prazo pode gerar multa para o produtor, revendedor e até para a fabricante do agrotóxico, podendo resultar até em prisão por crime ambiental, a depender do caso.

Os restos de calda e soluções resultantes da lavagem podem ser aplicados nos talhões, resguardadas recomendações específicas de alguns defensivos. Nunca jogue sobras ou restos de produtos em rios, lagos ou demais superfícies de água.

Aproximadamente 90% destas embalagens, que são entregues lavadas e sem resíduos, são recicladas e transformadas em novos recipientes, produtos como embalagens para óleo combustível e produtos usados em construção, como madeiras plásticas, conduítes para fiação elétrica e dutos. São feitos mais de 30 produtos diferentes através da reciclagem das embalagens. O restante das embalagens (cerca de 10%), que não podem servir de matéria para outros produtos, serão incineradas.

O Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV) é responsável pelo Sistema Campo Limpo, que é o sistema de logística reversa de embalagens vazias de agrotóxicos.

Vamos ler abaixo como realizar corretamente o descarte destas embalagens.

Como e onde descartar as embalagens de agrotóxicos?

A lei determina que todas as embalagens rígidas de agrotóxicos devem ser lavadas e devolvidas, evitando que os resíduos desses produtos contaminem o meio ambiente ou causem intoxicações. A devolução é feita usando o Sistema Campo Limpo (leia mais abaixo).

A lavagem, quando realizada durante o preparo da calda, também elimina o desperdício do produto e reduz o risco de contaminação ao ambiente. A lavagem da embalagem é indispensável para a reciclagem, devendo ser feita conforme as normas específicas.

Existem dois tipos de lavagem: a tríplice lavagem e lavagem sob pressão.

Tríplice lavagem 

As embalagens de agrotóxicos são lavadas três vezes, leia o passo a passo abaixo:

1. Esvaziar totalmente a embalagem;
2. Encher a embalagem com água limpa até 1/4 do seu volume (25%);
3. Colocar a tampa na embalagem, fechar com firmeza e agitar intensamente em todos os sentidos durante 30 segundos.
4. Despejar essa água dentro do tanque de aplicação, e deixar a embalagem virada para baixo sobre o tanque por 30 segundos, para que escorra todo o líquido.
5. Repetir o procedimento mais duas vezes (três vezes ao total);
6. Por fim, perfurar o fundo da embalagem com algum objeto pontiagudo, inutilizando a embalagem.

Lavagem sob pressão

A embalagem é encaixada no funil do pulverizador e a bomba do equipamento gera pressão no bico de lavagem. A água (que deve estar limpa) é captada de um tanque extra (integrado ou não ao equipamento). Leia o passo a passo:

1. Esvaziar o conteúdo da embalagem no tanque de pulverização;
2. Encaixar a embalagem vazia no funil instalado no pulverizador;
3. Adicionar o mecanismo para liberar o jato de água;
4. Direcionar o jato de água em diversas direções dentro da embalagem, de forma a atingir todas as paredes internas do recipiente, durante 30 segundos;
5. Transferir a água para o interior do tanque de pulverização;
6. Por fim, perfurar o fundo da embalagem com algum objeto pontiagudo, inutilizando a embalagem.

Armazenamento e devolução

Após a lavagem, enquanto não forem devolvidas, as embalagens devem ser armazenadas vazias, sem retirar seus rótulos e tampas, em um local adequado, separadas por tipo.

As embalagens, a depender do tipo, devem ser preparadas para a devolução:

• Embalagens rígidas: após a tríplice lavagem ou lavagem sob pressão, devem ser tampadas e acondicionadas, preferencialmente na caixa de embarque (que não deve ser perfurada!);
• Embalagens flexíveis: devem ser totalmente esvaziadas durante o uso e guardadas dentro de uma embalagem de resgate, fechada e identificada. Embalagens de resgate são embalagens plásticas, com tamanho de 50 e 100 litros, utilizadas para acondicionar, transportar e destinar embalagens flexíveis. Podem ser encontradas nas fabricantes e/ou canais de distribuição (revendas e cooperativas);
• Embalagens secundárias: devem ficar separadas de embalagens contaminadas e podem ser utilizadas para acondicionar embalagens rígidas.

Onde descartar as embalagens de agrotóxicos?

As embalagens devem ser devolvidas em unidades de recebimento, informadas pelo revendedor no corpo da nota fiscal, dentro do prazo de um ano, ou seis meses para embalagens com sobra de produto. A pesquisa por locais de recolhimento e agendamento da devolução deve ser feita eletronicamente através desse link. Existem mais de 400 unidades de recebimento em todos os estados brasileiros.

Ao devolver as embalagens, guarde o comprovante. Talvez seja necessário que você apresente esse documento caso a fiscalização apareça na propriedade.

Quais embalagens não devem ser lavadas?

As embalagens não laváveis são as que contém formulações não miscíveis nem dispersíveis em água, além de todas as embalagens flexíveis, compostas, retornáveis, embalagens secundárias e embalagens para tratamento de sementes. Embalagens rígidas de grande volume, que não haja disponibilidade de equipamento para a lavagem ou tecnologias disponíveis, também podem ser classificadas como não laváveis.

O Sistema Campo Limpo

Criado em 2001 pelo Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV), o Sistema Campo Limpo já recolheu mais de 770 mil toneladas de embalagens vazias de agrotóxicos.

Fonte: inpEV (2021).

Dados de 2021 apontam que 94% das embalagens primárias colocadas no mercado foram recebidas e destinadas corretamente pelo Sistema Campo Limpo, e 100% das embalagens primárias plásticas rígidas foram recicladas. A energia economizada com o Sistema Campo Limpo é equivalente ao suficiente para abastecer 5,2 milhões de casas por um ano, e evitou a emissão de 899 mil toneladas de CO₂ na atmosfera.

Estes dados colocam o Brasil na liderança em relação aos outros países, observe o gráfico abaixo.

Classificação das embalagens de agrotóxicos

Embalagens primárias

São embalagens rígidas ou flexíveis, compostas ou não, que estão em contato direto com os agrotóxicos. Também são incluídas as embalagens que não podem ser vendidas separadamente das embalagens que estão em contato direto com as formulações, nas quais se encontram o rótulo e a bula, como por exemplo, as embalagens que envolvem sacos hidrossolúveis.

Embalagens rígidas

São as embalagens não maleáveis. Possuem diferentes tamanho e podem conter produtos sólidos ou líquidos.

Embalagens flexíveis

São embalagens maleáveis que podem se moldar ao produto, como por exemplo sacos, big bag e bag-in-box.

Embalagens compostas

São compostas por uma embalagem externa a um recipiente interno, formando um conjunto único, como por exemplo bag-in-box e tambor com bolsa plástica interna.

Embalagens secundárias

São as embalagens externas que estão em contato com a embalagem primária ou envoltório intermediário, podendo conter uma ou mais embalagens primárias. Como as embalagens secundárias não estão em contato direto com os agrotóxicos e afins, são consideradas embalagens não contaminadas e não perigosas.

Embalagens comerciais

São as embalagens que o esvaziamento é feito pelo usuário final, podendo ter intermediários na sua comercialização (revendas, cooperativas etc.), sem alterações da sua estrutura original. Podem ser rígidas, flexíveis ou compostas.

Embalagens industriais

São as embalagens que não se enquadram no rol de comerciais, não chegam no usuário final, no fim do seu ciclo (esvaziamento). Geralmente são usadas para reenvase, e possuem volume maior do que as usualmente comercializadas e que retornam à sua origem.

Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo

Referências:

INSTITUTO NACIONAL DE PROCESSAMENTO DE EMBALAGENS VAZIAS. PASSO A PASSO DA DESTINAÇÃO. In: Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias. [S. l.]. Disponível em: https://www.inpev.org.br/logistica-reversa/passo-a-passo-destinacao/. Acesso em: 27 abr. 2023.

INSTITUTO NACIONAL DE PROCESSAMENTO DE EMBALAGENS VAZIAS. SISTEMA CAMPO LIMPO: Destinação de Embalagens Vazias de Agrotóxicos. Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias, [s. l.], 2023. Disponível em: https://www.embrapa.br/documents/1355300/24240167/Casos+de+Sucesso+no+gerenciamento+de+res%C3%ADduos+de+agrot%C3%B3xicos+-+Mario+Fujii.pdf/910f6f11-72a0-8995-7576-525622519785. Acesso em: 27 abr. 2023.