O Brasil usa bastante agrotóxicos? Quais os defensivos mais utilizados?

Quantidade de agrotóxicos usado no Brasil e no mundo

Desde o surgimento do DDT, o primeiro agrotóxico, até os dias atuais, surgiram diversos agrotóxicos com diferentes grupos químicos em sua composição. Atualmente, existem mais de 3000 agrotóxicos liberados para uso no Brasil.

Conforme dados da FAO, em 2021, o Brasil usou pouco mais de 700 mil toneladas de agrotóxicos (ingredientes ativos), ao passo que o consumo global total foi de 3,5 milhões de toneladas. Em números absolutos, o Brasil é o país com maior consumo de agrotóxicos no mundo, seguido de Estados Unidos, Indonésia, Argentina e China. 

Fonte: FAO. 2021. Pesticides Use. In: FAOSTAT. Rome. http://www.fao.org/faostat/en/#data/RP

A maior parte do uso no Brasil ocorre nas regiões Sudeste (cerca de 38%), Sul (cerca de 31%) e Centro-Oeste (cerca de 23%). A região Norte e Nordeste consomem muito pouco, cerca de 1% e 6%, respectivamente.

O Brasil consome o maior volume total de agrotóxicos por conta da alta produção agrícola no país. Porém, ao compararmos a quantidade de pesticidas utilizada para cada hectare plantado, o Brasil ocupa a posição 16ª no ranking da FAO (2021).

Fonte: FAO. 2021. Pesticides Use. In: FAOSTAT. Rome. http://www.fao.org/faostat/en/#data/RP

Na imagem abaixo, você pode visualizar a intensidade de consumo de pesticidas por hectare nas diferentes regiões do mundo.

Consumo de pesticidas por hectare de área plantada em diferentes países. Fonte: FAO (2020).

Porque o Brasil usa bastante agrotóxicos?

Conforme citado anteriormente, o Brasil é o país que mais usa agrotóxicos em volume total, por conta de diversos fatores que iremos explicar abaixo. Porém, ao compararmos proporcionalmente o uso de agrotóxicos por área plantada (em hectares), o Brasil cai para a 16ª posição, conforme o ranking da FAO de 2021.

No Brasil, houve um aumento de aproximadamente 27,6% das áreas cultivadas entre 2010 e 2020. Já no uso de agrotóxicos, dados do IBAMA mostram que houve um aumento de 78,3% na quantidade desses produtos comercializados no Brasil entre 2010 e 2020. O aumento desse consumo se explica por diversos fatores. Um deles é o crescimento da população mundial, resultando em maior demanda de alimentos. Soma-se a isso o fato de sermos um dos maiores produtores agrícolas do mundo.

Quanto ao clima, em países com clima temperado, o inverno mais rigoroso age como um controle natural das pragas, quebrando o ciclo de vida delas. Já no clima tropical do Brasil, que é quente e úmido, ocorre um favorecimento do desenvolvimento de pragas, doenças e plantas daninhas, o que resulta em maior uso de defensivos. O uso sucessivo desses produtos no país vem promovendo também o aumento da resistência desses organismos aos agrotóxicos, o que resulta em maiores quantidades necessárias. Soma-se a isso o uso inadequado / excessivo desses produtos, que apenas pioram o problema. Além disso, o nosso clima possibilita três safras por ano, ocorrendo uma contínua produção agrícola, resultando em uma "ponte verde", mantendo continuamente as condições favoráveis para as pragas e doenças permanecerem nas lavouras.

Outro fator, é que o modelo de produção em larga escala resultou em uma necessidade de se colher cada vez mais em uma mesma área plantada. Soma-se a isso o fato de que o monocultivo favorece as pragas, doenças e plantas daninhas. Ocorre que, ao usarmos uma mesma espécie em uma vasta área, qualquer praga, doença ou planta daninha que consiga se sobressair com essa espécie, irá se propagar facilmente por esta vasta área.

Quanto à tecnologia, o melhoramento genético o foco em produtividade é maior do que o foco em defesa, fazendo com que as sementes geneticamente modificadas, muito usadas na agricultura, sejam suscetíveis à diversos problemas, muitas vezes não conseguindo sobreviver em condições normais, necessitando de boas quantidades de agrotóxicos.

Por fim, para muitos alvos biológicos ainda não existe um produto biológico que promova um controle eficiente. Os produtos biológicos disponíveis, em sua grande maioria, são inseticidas. Já fungicidas e herbicidas não são tão comuns, ainda carecendo de muita pesquisa.

Dados de 2022 apontam que, dos 504 ingredientes ativos registrados no Brasil, aproximadamente 21% são de fontes biológicas, e do restante, 36,8% (146 ingredientes ativos) não são permitidos na União Europeia. 

Fonte: Brasil, 2022.

Quais os agrotóxicos mais usados?

Observe abaixo como se divide o uso de agrotóxicos no mundo e no Brasil, conforme o tipo de agrotóxico:

Fonte: FAO. 2021. Pesticides Use. In: FAOSTAT. Rome. http://www.fao.org/faostat/en/#data/RP

No Brasil, conforme o Sindiveg (dados de 2023), essa proporção se mantém semelhante:

Fonte: Sindiveg (2023).

A maioria dos agrotóxicos utilizados são herbicidas, sendo o glifosato o herbicida mais utilizado, representando mais da metade do consumo de herbicidas no Brasil. Em segundo lugar vem o 2,4-D, e em terceiro, o Mancozebe.

Fonte: Painel de informações de agrotóxicos - IBAMA

Quanto à classificação ambiental, os agrotóxicos mais utilizados são da Classe III - Produto PERIGOSO ao meio ambiente. Observe o gráfico abaixo:

Fonte: Painel de informações de agrotóxicos - IBAMA

Culturas / plantas que mais consomem agrotóxicos

As culturas que mais consumiram agrotóxicos em 2022 no Brasil, em porcentagem, são:

1. Soja: 54%
2. Milho: 18%
3. Algodão: 7%
4. Pastagem: 6%
5. Cana-de-açúcar: 4%
6. Trigo: 3%
7. Feijão: 2%
8. Arroz: 1%
9. Café: 1%
10. Citros: 1%
11. Batata, cebola e frutas: 1%
12. Outros: 1%

Estas culturas consomem grandes quantidades de agrotóxicos pois ocupam grandes áreas cultivadas no Brasil. Existem também culturas que não são as responsáveis pelos maiores consumos em quantidade total, pois ocupam pequenas áreas no Brasil, porém, consomem as maiores quantidades de produto por área plantada. São elas:

1. Tomate: 52,5 kg/ha
2. Batata: 28,8 kg/ha
3. Citros: 12,4 kg/ha
4. Algodão: 5,9 kg/ha
5. Café: 4,2 kg/ha

Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo

Referências:

BEARD, John. DDT and human health. Science of The Total Environment. 2006, vol. 355, nº 1 -3, p. 78 – 89.

BORSOI, A. et al. Agrotóxicos:: histórico, atualidades e meio ambiente. Acta Iguazu, Cascavel, v. 3, n. 1, p. 86-100, 1 jan. 2014.

D'AMATO, C.; TORRES, J. P. M.; MALM, O.. DDT (dicloro difenil tricloroetano): toxicidade e contaminação ambiental - uma revisão. Química Nova, v. 25, n. 6a, p. 995–1002, nov. 2002. 

FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED STATES. FAOSTAT. In: Pesticides indicators. [S. l.], 2020.

HESS, S. C.; NODARI, R. Agrotóxicos no Brasil:: panorama dos produtos entre 2019 e 2022. Revista Ambientes em Movimento, [S. l.], p. 39-52, 1 dez. 2022.

OMS [WHO] (World Health Organization). Environmental Health Criteria 9: DDT and its Derivatives. Geneva, 1979. ISBN 92 4 154069 9. Disponível em: https://inchem.org/documents/ehc/ehc/ehc009.htm#SubSectionNumber:1.1.5. 

PASCHOAL, Adilson Dias. Pragas, agrotóxicos e a crise ambiente: problema e soluções. São Paulo: Expressão Popular, 2019.

SOLIVO, L. HISTÓRIA DO DDT NO BRASIL (1940 A 1980):: DE DEFENSIVO A VENENO. Orientador: Prof. Dr. Miguel Mundstock Xavier de Carvalho. 2022. Dissertação de mestrado (Mestre em História) - Universidade Federal da Fronteira Sul, Chapecó, SC, 2022.

VITAL, Nicholas. Agradeça aos agrotóxicos por estar vivo. 1º ed - Rio de Janeiro: Record, 2017.