CI

Leia tudo sobre os tipos de pontas / bicos de pulverização terrestre!!

Leia tudo sobre os tipos de bicos e pontas de pulverização utilizados na aplicação de defensivos.


Foto: Canva

Os bicos de pulverização podem ser considerados um dos principais ou até o mais importante componente de um pulverizador que determinam a qualidade da aplicação. Localizados na barra, é por eles que passa a calda a calda a ser aplicada, e influenciam a vazão da barra e taxa de aplicação, tamanho das gotas e a distribuição no alvo.

Vale ressaltar que o "bico de pulverização" é erroneamente interpretado como a mesma estrutura da "ponta de pulverização", porém, o bico é composto por todo o conjunto de estruturas (corpo, peneira, ponta e capa), ao passo que a ponta é o componente do bico responsável pela formação de gotas. 

As pontas hidráulicas tem três funções muito importantes:

  • Vazão: depende do tamanho do orifício da ponta, características do líquido e pressão utilizada;
  • Distribuição: depende do modelo da ponta, características do líquido e pressão utilizada;
  • Tamanho das gotas: depende do modelo da ponta, características do líquido e pressão utilizada.

As pontas ficam posicionadas no final dos circuitos hidráulicos dos pulverizadores, e apresentam orifícios de diferentes formatos e tamanhos, conferindo diferentes espectros de gotas, larguras e padrões de deposição, atendendo as mais variadas aplicações. Dessa forma, saber escolher a ponta certa é um passo fundamental.

Os bicos de pulverização são compostos por:

  • Corpo do bico;
  • Filtro / peneira - impede que partículas obstruam a passagem do líquido. Devem ser verificados e limpos periodicamente;
  • Anel de vedação - se localiza entre a ponta de pulverização e o filtro;
  • Ponta - também chamada de "bico de pulverização", é o último componente por onde se passa a calda. A ponta distribui a calda na área, determina o formato, tamanho e uniformidade das gotas, o formato e direção do jato pulverizado, padrão de distribuição e vazão da calda;
  • Capa - se conecta ao corpo de bicos. Alguns modelos dispensam o uso de capas;
  • Válvula de retenção / válvula antigotejamento - impede o vazamento da calda presente na tubulação quando a pulverização está desligada ou a pressão é menor do que a necessária para a passagem do bico.

Os bicos podem ser instalados em corpos de bico, onde podemos instalar diferentes tipos de bicos, facilitando a troca entre estes quando necessário, otimizando a pulverização.

A calda passa pelos orifícios das pontas em uma determinada pressão, de forma que a lâmina da água fique instável e se desintegre formando um espectro de gotas (gotas com diferentes tamanhos). O orifício e a pressão exercida irão determinar a vazão. Orifícios maiores resultam em vazões maiores e gotas maiores do que as pontas com orifícios menores.

Deve ser usada uma pressão o suficiente para superar a tensão superficial da água e ocorrer a formação de gotas. Cada modelo possui uma faixa ideal de pressão de trabalho para operar. Na maioria dos bicos utilizados em pulverizadores de barras, essa pressão mínima é de cerca de 15 lbf/pol² (100 kPa ou mais), sendo normal a pressão de 30 lbf/pol² (200 kPa) ou mais para obter uma abertura do jato adequada. Existem tipos de pontas que trabalham com pressões entre 150 e 300 lbf/pol² (1000 a 2000 kPa) sem comprometer a aplicação.

Os bicos são identificados por números e siglas, por exemplo, um bico com o número 11004 significa que 110 é o ângulo de abertura e 04 é a vazão (0,4 galões por minuto, ou seja, 1,5 L/min, sob pressão de 2,8 bar ou 40 PSI). As letras indicam o tipo de bico, nome da marca e material. A escolha do modelo e tamanho de bicos depende de qual produto estamos aplicando, superfície a ser pulverizada e volume de calda utilizado. Leia abaixo sobre os diferentes modelos de pontas:

 

Pontas de jato plano

Conhecidas também como pontas de tipo "leque" ou de "impacto", produzem jato em um só plano, e é indicada para alvos planos como o solo ou a soja. Os ângulos de abertura utilizados geralmente se situam entre 80 e 110 graus, porém existe uma grande variedade de modelos com diferentes tamanhos e ângulos de abertura. Quanto maior o ângulo, maior o leque e menor as gotas.


Imagem: ANDEF

As pontas de jato plano podem ser utilizadas em herbicidas, inseticidas e fungicidas no solo ou culturas de campo. Essas pontas também podem ser classificadas em:

  • Uniforme: para aplicação em faixas sem sobreposição;
  • Padrão: perfil elíptico, adequada para ser utilizada em barras;
  • Redutora de deriva: com pré-orifício que forma gotas mais grossas, reduzindo a deriva;
  • Baixa pressão: podem trabalhar com pressões mais baixas que a padrão, formando gotas maiores;
  • Injeção / indução de ar: a calda é misturada com ar (cerca de 21,5% de ar) através de um sistema venturi, formando gotas mais grossas. Operam na faixa de 3 a 8 bar, formando gotas grossas, muito grossas ou extremamente grossas. Geralmente são utilizadas para a aplicação de herbicidas pré ou pós emergentes e fungicidas sistêmicos.
  • De impacto / defletoras: o líquido é arremessado contra uma superfície, formando um filme plano de calda, com 80 a 160 graus de abertura, formando gotas grossas pouco suscetíveis à deriva. O espaçamento das pontas na barra não deve ser maior do que 1,5 metros, sendo o mais adequado entre 0,75 e 1,00 m. Geralmente são utilizadas em suspensões, de forma a evitar o entupimento dos orifícios. Como demandam menor pressão para a abertura do jato, também são utilizadas em pulverizadores costais manuais;
  • Angulado: podem ser:
    • simples - utilizada para aplicar herbicidas pré ou pós-emergentes e fungicidas. Promove boa penetração das gotas nas plantas e reduz o risco de deriva. É instalada alternando o jato das pontas adjacentes, posicionando um para frente e outro para trás (sistema "3D").
    • jato duplo de ângulos simétricos;
    • jato duplo com ângulos assimétricos - indicadas para pulverizações em alta velocidade, como em pulverizadores autopropelidos, ou em plantas com arquitetura ereta, como gramíneas e cereais de inverno. Neste caso, um jato vai para frente e outro para trás, atingindo ambas faces das plantas.


Imagem: ANDEF

 

Pontas de jato cônico

São pontas compostas por disco e difusor, que podem ter ou não um disco no centro do difusor, formando um jato cônico cheio ou vazio:

  • Cone cheio - o núcleo possui um orifício central, que preenche o centro do cone com gotas. Proporciona uma deposição mais uniforme que o cone vazio, sendo mais utilizado em pulverizações com barras.
  • Cone vazio - não ocorre formação de gotas no centro do cone. A deposição se concentra apenas na periferia do cone. Pode ocasionar bastante deriva devido à alta porcentagem de gotas finas formadas, além de formar uma alta variação da distribuição.

As pontas de jato cônico geralmente são utilizadas em alvos irregulares, como por exemplo aplicação nas folhas de uma cultura, pois estas pontas formam gotas em diferentes ângulos que irão atingir as folhas proporcionando uma maior cobertura.

São compostas por ponta (ou disco) e núcleo (caracol, espiral, difusor ou core). O núcleo determina se o movimento será circular ou espiral, através de seus orifícios em ângulo. Após esse movimento, quando a calda passa no orifício circular do disco, adquire o formato de cone. 


Imagem: ANDEF

Existem diversas combinações entre o tamanho do orifício do disco, número e tamanho de orifícios do núcleo, tamanho da câmara entre o disco e o núcleo e a pressão utilizada, podendo formar diferentes taxas de fluxo, ângulos de deposição e tamanho de gotas. Geralmente, o uso de maiores pressões com orifícios menores no núcleo e maiores no disco resultam em ângulos de deposição mais amplos com gotas menores.

 

Perfil de deposição das pontas de pulverização

Em diversos tipos de bicos a distribuição ocorre com maior quantidade de calda na parte central do jato e menor nas extremidades. Dessa forma, as pontas devem estar com espaçamento adequado, formando uma sobreposição dos jatos nos pontos certos para uniformizar a distribuição. Observe as imagens dos padrões de deposição acima. Para pontas de aplicação em área total, deve haver sobreposição dos jatos de 30% pelo menos, podendo chegar a 100%.

Observe a tabela abaixo:

Tabela 1. Altura da condução da barra (metros) para pontas de jatos planos com diferentes ângulos de abertura, em função da distância (metros) entre bicos na barra.
Ângulo do jato de pulverização Distância entre bicos ao longo da barra (m)
0,40 0,50 0,60
65º 0,51 0,56 0,66
80º 0,38 0,46 0,50
110º 0,24 0,27 0,29

Fonte: Matthews (1992).

 

Vazão e pressão das pontas de pulverização agrícola

A pressão é a energia utilizada para quebrar a tensão superficial da calda e produzir gotas, e influencia a vazão de uma ponta de pulverização. Quanto maior a pressão durante uma aplicação, maior será a vazão e o número de gotas produzidas e menor será o diâmetro destas.

Para medirmos a pressão, utilizamos um equipamento chamado manômetro, que deve ser mantido em boas condições de funcionamento, bem como os filtros, pois a falta de manutenção adequada podem prejudicar bastante a pulverização de um produto, podendo resultar até em necessidade de reaplicação, resultando em prejuízo econômico e ambiental.

A pressão adequada a ser utilizada depende do tipo de ponta, das condições ambientais e grau de cobertura e penetração desejados. Se utilizarmos uma pressão excessiva, as pontas podem se desgastar rapidamente, além de aumentar a chance de deriva através da redução do tamanho das gotas. Já no caso de pressão insuficiente, os jatos se tornam irregulares, o ângulo de aspersão não se abre o suficiente e a cobertura fica desuniforme.

A Norma ISO 10.626 padronizou a cor das pontas de jato plano conforme a sua vazão, observe a tabela abaixo.

Tabela 2. Código de cores de pontas e sua vazão (Sistema Internacional e Sistema Americano).
Cor da ponta Sistema Internacional - Vazão a 3 bar (L/min) Sistema Americano - Vazão a 40 (lbf/pol²)
Laranja 0,39 0,1 gal/min = 0,38 L/min
Verde 0,59 0,15 gal/min = 0,57 L/min
Amarela 0,79 0,2 gal/min = 0,76 L/min
Lilás 0,99 0,25 gal/min = 0,95 L/min
Azul 1,18 0,3 gal/min = 1,14 L/min
Vermelha 1,58 0,4 gal/min = 1,51 L/min
Marrom 1,97 0,5 gal/min = 1,89 L/min
Cinza 2,39 0,6 gal/min = 2,27 L/min
Branca 3,16 0,8 gal/min = 3,03 L/min

 

As medições de vazão devem ser feitas com pressão de 3 bar, e deve ser informado o ângulo de abertura do jato na nomenclatura das pontas. A vazão é proporcional à raiz quadrada da pressão, logo, para dobrar a vazão devemos quadruplicar a pressão. Pode-se realizar pequenas variações na pressão para calibrar o equipamento, buscando o volume de pulverização pretendido.

Clique aqui para ler mais sobre volume, pressão e vazão na aplicação de defensivos.

 

Tamanho de gotas

Muitas vezes a seleção dos bicos é baseada no tamanho das gotas. O tamanho das gotas tem grande influência na eficácia de defensivos que dependem de uma boa cobertura. Além disso, o tamanho das gotas também é muito importante quando buscamos evitar a deriva. O tamanho das gotas geralmente é medido em micrômetros (representados pelo símbolo "μm"), e cada micrômetro equivale a 0,001 mm. 

Os bicos, na sua grande maioria, produzem gotas entre a faixa "ultra grossa" e "fina". Os bicos que produzem gotas entre as faixas "fina" e "média" geralmente são recomendados para aplicações de contato em pós-emergência, pois as gotas menores proporcionam excelente cobertura da área. Já os bicos com gotas mais grossas são mais utilizados para controlar a deriva. Geralmente são usados para aplicar herbicidas sistêmicos ou em pré-emergência superficial, e oferecem uma menor cobertura superficial quando comparados aos bicos que produzem gotas mais finas.

Vale ressaltar que os bicos podem produzir diferentes tamanhos de gotas em diferentes pressões. Por exemplo, um bico que produz gotas médias em baixa pressão pode produzir gotas finas com o aumento da pressão. Você pode ler mais sobre o assunto na nossa página sobre volume e pressão na aplicação de defensivos.

Para ler mais informações sobre o tamanho das gotas na aplicação de defensivos, acesse nossa página sobre o assunto clicando aqui.
 

Desgaste e troca das pontas de pulverização

As pontas de pulverização são muitas vezes negligenciadas, e em muitas situações são as causas de falhas significativas na pulverização. O volume de calda que passa por cada bico, junto com o tamanho da gota e a distribuição da pulverização, são fatores fundamentais que afetam a eficácia do controle. Ocorre que o orifício do bico de pulverização é fundamental para o controle desses 3 fatores. 

Para determinarmos se uma ponta de pulverização está muito desgastada, podemos comparar a vazão dessa ponta com uma ponta nova, do mesmo tipo e tamanho. Colocamos um recipiente debaixo de cada ponta, utilizamos um dispositivo de contagem e o manômetro na ponta do bico, e então, comparamos a vazão da ponta nova com a da ponta antiga. Caso a vazão da ponta antiga exceda em 10% de diferença do valor da ponta nova, recomenda-se a substituição.

Se as pontas de pulverização estiverem com um desgaste que resulta em 5% de excesso de aplicação, o prejuízo pode resultar em mais de 10 mil reais em uma fazenda de 100 hectares. Além disso, se ocorre um desequilíbrio na distribuição, alguns locais podem receber menos produto que o necessário, já outros, podem receber em excesso. Quando ocorre excesso do defensivo em algum local, temos o desperdício do produto e problemas de fitotoxicidade, aumentando os custos de produção. Já quando a quantidade é insuficiente, ocorre um controle deficiente, resultando em perdas na lavoura e disseminação das pragas e doenças, além da possibilidade de promover a resistência do alvo. Quando ocorrem esses problemas, é comum os produtores aumentarem o número de pulverizações, resultando também em aumento do custo de produção.

Para reduzir esse problema, podemos dar preferência para o uso de pontas com materiais mais resistentes ao desgaste, ou realizar a substituição frequente das pontas menos resistentes. As pontas podem ser feitas com latão, polímero, aço inoxidável endurecido e cerâmica, cada material com diferentes resistências. Além disso, a limpeza das pontas entupidas também pode reduzir o problema em casos de entupimento.

 

Realizando a limpeza das pontas de pulverização

A limpeza deve ser feita com cuidado, utilizando escovas de cerdas macias ou palitos de dente, evitando sempre objetos metálicos, pois algumas pontas tem bordas finas em volta do orifício que podem ser danificadas facilmente durante a limpeza. Também devemos usar os filtros adequados para minimizar o entupimento, pois estes têm papel fundamental, evitando falhas nas aplicações e paradas para limpeza.

Alguns pontos devem ser considerados ao limparmos uma ponta de pulverização:

  • Usar filtros de linhas e filtros de ponta com malha adequada às pontas em uso, conforme recomendações do fabricante. As malhas mais utilizadas são de 30, 50, 80, 100 e 120 mesh;
  • Utilizar materiais como escova plástica ou ar comprimido para desentupir as pontas. Jamais utilizar um objeto metálico para o desentupimento.
  • Manter algumas pontas de reserva para substituir com agilidade as pontas entupidas durante uma aplicação, evitando a interrupção da operação;
  • Ao fim de uma aplicação, sempre lavar as pontas, principalmente ao aplicar produtos na forma de pó, que secam e se depositam dentro das pontas;
  • Evitar que as pontas batam no solo, problema comum nas extremidades das barras. 

 

Como escolher as pontas de pulverização?

A escolha de uma ponta de pulverização depende da forma do alvo, do tipo de produto, do tamanho da gota e volume de aplicação adequados e condições ambientais. Vale lembrar que a seleção das pontas também inclui a seleção do filtro adequado. Quanto ao clima, por exemplo, umidades relativas baixas (abaixo de 50%) e velocidades de vento acima de 8,5 km/h limitam o uso de pontas que formam gotas pequenas. Já o tipo de produto, por exemplo, formulações como soluções e concentrados solúveis possuem menores restrições quanto ao tamanho das malhas dos filtros. Quanto à localização do alvo biológico, sementes de plantas daninhas, plantas daninhas e culturas em diferentes estádios de desenvolvimento irão possuir diferentes índices de área foliar, apresentando maior ou menor dificuldade de serem atingidos pelos produtos. Sobre o tipo de produto, por exemplo, herbicidas aplicados no solo e herbicidas sistêmicos requerem menor densidade de gotas quando comparados aos produtos de contato.

Busque sempre compreender bem o cenário onde será aplicado algum defensivo, avaliando todas as variáveis que podem influenciar na tomada de decisão. Nesse texto, bem como em outros publicados na nossa seção de conteúdos sobre fitossanidade, você pode entender todas estas variáveis, e saber escolher qual a melhor ponta a ser utilizada.

Além disso, existem diversos aplicativos, tanto para celulares com sistema Android como Apple, que auxiliam a tomada de decisão ao selecionar as pontas mais adequadas para cada situação de pulverização, bem como planilhas e catálogos eletrônicos.

 

Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo

 

Referências:

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE DEFESA VEGETAL • ANDEF. MANUAL DE TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO. [S. l.: s. n.], 2000.

MATTHEWS, G.A. Pesticide application methods. 2nd ed. London, Longman Scientific & Technical, 1992. 405p.

RAETANO, C. G.; MOTA, A. A. B. Pontas de Pulverização Hidráulicas. In: ANTUNIASSI, U. R.; BOLLER, W. Tecnologia de Aplicação Para Culturas Anuais. 2. ed. Passo Fundo, RS: Aldeia Norte, 2019. p. 67-90.

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.