Aspectos gerais da aplicação de inseticidas
Leia sobre aspectos gerais da aplicação de inseticidas.
A aplicação de inseticidas visa proteger as culturas do ataque de ácaros e insetos, porém, sem causar impactos em organismos não alvo, como outros insetos, animais, plantas ou microorganismos. O controle dos ácaros e insetos pragas é complexo, pois estes organismos apresentam diversos comportamentos diferentes, ocorrendo em variados locais, ciclos da cultura e épocas do ano, em ambientes dinâmicos que se alteram com o tempo espaço, e todas essas variáveis interagindo entre si.
Relação praga, cultura e ambiente
As pragas interagem com a cultura hospedeira, sob a influência das condições do ambiente . A relação entre esses três fatores possui inúmeras variáveis a depender das características de cada um, que irão determinar se a praga terá capacidade ou não de trazer danos à cultura. Essas variáveis formam o conhecido "triângulo da doença":
Como podemos observar na imagem, cada componente do triângulo possui diversas variáveis que variam a oferta dos seus componentes, e essas podem ser decompostas em outras variáveis, que atuam de forma isolada ou associada, interferindo de forma complexa na doença, na tecnologia de aplicação e nos seus resultados. Por exemplo, se considerarmos a temperatura, esta variável afeta tanto o desenvolvimento da praga alvo quanto da cultura, além de afetar o desenvolvimento dos inimigos naturais da praga, a tecnologia de aplicação, dentre outras variáveis.
Alvo biológico
A espécie da praga a ser controlada irá determinar qual inseticida ou acaricida devem ser aplicados. Caso haja mais de uma espécie causando danos, escolhemos como alvo principal a praga com maior potencial de causar dano.O objetivo da aplicação é acertar essa espécie alvo com a maior eficácia possível seguindo as orientações da bula. Porém, ao aplicarmos esses produtos, uma parte aplicada não atinge o alvo, atingindo por exemplo o solo ou a palhada, não controlando a praga, resultando em prejuízos econômicos e/ou ambientais.
O alvo biológico do inseticida pode ser, além do ácaro ou inseto, a estrutura de uma planta, a planta inteira, o solo, a semente ou até mais de um alvo, e definir o alvo é fundamental para definir a tecnologia de aplicação. Sobre a praga, é fundamental identificarmos corretamente a espécie, pois, dentre espécies semelhantes, uma pode causar danos e a outra não. A correta identificação da espécie torna o controle químico e o manejo integrado mais eficientes. Também é importante a correta identificação das fases do ciclo biológico das pragas, a aplicação de inseticidas pode ser direcionada a fases específicas do ciclo de vida de insetos, e a aplicação fora dessa fase pode não controlar as pragas e trazer até prejuízos.
O entendimento do comportamento das pragas também é importante para a efetividade do controle da praga, pois as espécies possuem os mais diversos comportamentos que irão afetar a estratégia de controle. Como exemplo podemos citar o percevejo-verde-pequeno-da-soja, que geralmente se localizam no terço médio do dossel durante o dia, e nos legumes da planta, exigindo que a pulverização de inseticidas tenha maior penetração no interior do dossel.
A dinâmica populacional é outro fator que interfere no controle. Dependendo da situação, o controle apenas nas áreas onde o número de insetos atinge o nível de controle pode resultar em maior economia.
Eficiência na aplicação de inseticidas
A eficiência da aplicação de um defensivo é determinada pela relação entre a dose teórica do ingrediente ativo necessária para o controle da praga e a dose real aplicada no campo. A aplicação de inseticidas foi considerada um dos processos mais ineficientes praticado pelo homem. Isso ocorre pelo fato de que, como explicamos anteriormente, a eficiência depende de diversos fatores que se relacionam entre si, como a espécie e estágio de desenvolvimento da cultura, as condições climáticas, as características da praga e todas as variáveis que esses fatores possam ter.
Alvos grandes são mais fáceis de serem controlados, o que não é o caso de insetos ou ácaros. Para compensar os fatores que prejudicam a eficiência de aplicação, a dose real aplicada é bem maior do que a dose necessária para controlar as pragas, caso o controle fosse assertivo. Em alguns casos, a eficiência de aplicação é de menos de 0,1%, resultando na necessidade de altas dosagens dos produtos. Dessa forma, a pesquisa concentra esforços em novas tecnologias que buscam diminuir essas perdas, dentre elas, podemos citar como exemplos sistemas GPS associados à mapas de distribuição das pragas, polímeros e nano-formulações.
Aplicação de inseticidas
Tipos de inseticidas
Existem diferentes tipos de inseticidas, que podem ser classificados como químicos ou biológicos, ou, pela apresentação, líquido, grânulos etc. Os produtos possuem diferentes características o que exige diferentes formas de aplicação. Os inseticidas químicos podem apresentar maior estabilidade no ambiente quando comparados aos biológicos. Os inseticidas biológicos possuem organismos vivos (fungos, bactérias, vírus etc.) que necessitam de certos cuidados para se manterem viáveis antes, durante e após a aplicação.
Veículo de aplicação de inseticidas
O veículo de aplicação de inseticidas mais comum é a água. Porém, a água tem algumas propriedades que podem reduzir a eficiência do tratamento. A alta tensão superficial da água deixa as gotas com formato redondo, como podemos observar na imagem abaixo:
Esse formato esférico faz com que a calda não tenha uma ampla superfície de molhamento, característica desejada para aumentar a eficiência do controle. Dessa forma, às vezes é necessário o uso de adjuvantes na própria formulação do produto ou adicionados ao tanque, que irão quebrar a força de coesão entre as moléculas de água, aumentar a superfície de molhamento da calda e consequentemente aumentar a eficácia do tratamento.
Além disso, devido à volatilidade da água, as gotas da calda podem sofrer volatilização no trajeto entre a ponta e o alvo (você pode ler mais na nossa página sobre deriva). Quanto menor a gota, menor o tempo de vida antes de se volatilizar e não atingir o alvo, processo que é potencializado por altas temperaturas e baixa umidade relativa do ar. Dessa forma, muitas pulverizações com água utilizam altos volumes de calda. No caso de pulverizações com baixo ou ultrabaixo volume, é necessário o uso de diluentes não voláteis, como melaço ou óleos emulsionáveis, claro, sempre testando antes a compatibilidade dos inseticidas com estes diluentes.
Volume de aplicação de inseticidas
O volume de calda aplicado varia bastante conforme a modalidade de aplicação do inseticida / acaricida. No tratamento de sementes, por exemplo, usa-se o menor volume de calda e menor quantidade de ingrediente ativo por hectare, comparado a outras modalidades. Se o volume de água for excessivo, pode ocorrer uma germinação indesejada, inviabilizando as sementes para a semeadura. Volumes comuns utilizados nesta modalidade podem ser de 5 ou 10 ml por kg de semente, a depender da cultura. Polímeros e secantes podem facilitar esse processo, melhorando a cobertura e reduzindo o volume de calda.
Na aplicação em jato dirigido no sulco de semeadura o volume de calda é um pouco maior que no caso anterior, cerca de 5 a 10 L / ha, e pode ser feita com formulações comerciais mais baratas. A aplicação de inseticidas granulados no sulco pode ser feita com granuladeiras adaptadas na semeadora, sem a necessidade de calda, modalidade esta que melhora a eficácia de aplicação e controle das pragas em vários casos, como o controle de insetos-praga de solo no trigo, soja ou arroz irrigado.
Já as pulverizações em área total possuem uma ampla variação do volume de calda, podendo variar entre ultrabaixo volume (abaixo de 5 L/ha) e alto volume (acima de 600 L/ha), que geralmente resulta em escorrimento da calda e depende da concentração da calda preparada.
Cobertura do alvo
Existe uma tendência de redução do volume de aplicação de defensivos. O diâmetro de gota adequado depende do alvo biológico, e, no caso de insetos, o tamanho ótimo das gotas é de 20 a 50 micrômetros, ou seja, gotas finas. Quanto menor o tamanho das gotas, maior é a cobertura e densidade de gotas no alvo biológico. Porém, ocorre que quanto menor o tamanho das gotas, maior a chance de perda do produto por deriva, especialmente em condições climáticas desfavoráveis, resultando em prejuízos financeiros e ambientais. Idealmente, recomenda-se pulverizar quando a velocidade do vento estiver entre 3,2 a 6,5 km/h.
Podemos manipular o tamanho das gotas através do uso de diferentes pontas de pulverização ou variando a pressão. A variação da pressão pode ser mais interessante pois a maioria das aplicações usa um volume de calda reduzido. A cobertura também pode ser aumentada com o uso de adjuvantes, conforme explicado anteriormente.
Deriva de inseticidas / acaricidas
Quando buscamos aumentar a cobertura de gotas em uma pulverização de inseticida, as gotas são produzidas com menor diâmetro, e maior a chance de serem transportadas pelo vento. A proximidade da agricultura com ambientes naturais faz com que muitas vezes a deriva leve esses inseticidas para organismos não alvo, que são benéficos para o meio ambiente, como por exemplo insetos polinizadores como a abelha. Dessa forma, é fundamental ler a bula e conhecer o produto que está sendo aplicado, regular corretamente o pulverizador, usar pontas e adjuvantes redutores de deriva e respeitar os limites das condições climáticas para a aplicação desses produtos.
Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo
Referências:
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