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Como fazer a calibração em pulverizadores agrícolas de barras?

Leia sobre a calibração de pulverizadores agrícolas.


Foto: Divulgação

A calibração é a aferição do funcionamento do pulverizador, observando se todos os componentes estão operando de forma adequada após a regulagem. É necessário que todos os componentes estejam em bom estado de conservação para fazer a calibração.

O processo é feito medindo o espaçamento entre os bicos do pulverizador (em metros), e demarcando uma distância horizontal de 50 metros, na área que receberá a pulverização ou em área semelhante (existem diferenças nos tipos de solo, compactação e topografia que influenciam diretamente na movimentação do trator, desta forma, o processo deve ser feito na mesma área ou em área semelhante).

Após, abastecemos o tanque do pulverizador com água até a metade da capacidade. Então, andamos 50 metros com a máquina, mantendo uma velocidade igual a velocidade de trabalho e operando o motor com uma rotação que proporciona 540 rpm na TDP, e cronometrando o tempo. Recomenda-se iniciar o deslocamento cinco metros antes do ponto marcado para uniformizar a velocidade. Em terrenos irregulares, recomenda-se realizar essa tomada de tempo cerca de 3 vezes e calcular a média. Após, dividimos 180 por esse tempo médio para percorrer 50m, obtendo a velocidade de deslocamento.

Por exemplo: caso o tempo gasto para percorrer 50 metros, repetindo 3 vezes, seja de 38s, 42s e 40s, a média será 40. Dividindo 180 por 40, teremos a velocidade de 4,5 km/h.

 

Calibrando o pulverizador conforme o tempo gasto para percorrer 50 metros

  1. Com o trator/pulverizador parado, ligamos a TDP, mantendo a mesma rotação do motor utilizada para percorrer os 50 metros, conforme detalhado acima;
  2. Após, abrimos os registros que direcionam a calda para as barras, e regulamos a pressão de pulverização desejada. Caso se tratar de pulverizadores com uma válvula para cada seção da barra, realizamos a regulagem para cada válvula, mantendo a vazão fechada. Verificar, no final do procedimento, se o fechamento de qualquer seção irá manter o nível de pressão estabelecido inicialmente;
  3. Durante o mesmo tempo que foi gasto para percorrer os 50 metros, devemos coletar a vazão em todas as pontas, observando se a vazão das pontas não exceda em 10% a vazão estabelecida conforme o catálogo. Caso exceder, deve-se substituir a ponta;
  4. Após, calculamos a média de vazão das pontas. Caso a vazão de alguma se diferencie muito da média, pode significar que haja algum entupimento ou desgaste;
  5. Calculamos a largura útil (número de bicos multiplicado pelo espaçamento entre eles) e depois multiplicamos por 50 metros, obtendo a área pulverizada, em metros quadrados, para cada percurso de 50m;
  6. Somamos a vazão das pontas e dividimos o volume pela área pulverizada (calculada no item 5), calculando o volume de aplicação em litros por hectare.

Abaixo, vamos fazer um exemplo desse cálculo:

Utilizando um pulverizador com 28 bicos distanciados com 0,5 metros entre si, foi gasto 35 segundos para percorrer 50 metros. A vazão média coletada por bico foi de 300 ml.

Vazão total da barra: 28 bicos x 0,3 L/bico = 8,4 litros
Largura útil: 28 bicos x 0,5 metros = 14 metros
Área pulverizada: 14 metros (largura útil) x 50 m = 700 m²
Taxa de aplicação (feita com regra de 3):
8,4 L - 700 m²
   X L - 10.000 m²

X =84.000 / 700 = 120 L/ha

 

Caso ocorra pequenos desvios de vazão, podemos alterar a pressão em até 25%, de forma a manter a qualidade da pulverização. Se este ajuste for insuficiente, podemos alterar a velocidade de deslocamento ou substituir as pontas por outras com vazão e tamanho de gotas adequados.

A medição da coleta deve ser feita com uma proveta graduada ou com uma balança de precisão. Caso todas as pontas e filtros estejam em perfeitas condições, pode ser feita a coleta em apenas duas ou três pontas de cada seção da barra. Também pode-se medir o volume utilizando vasos calibradores, que apresentam escalas para espaçamento entre bicos, permitindo a leitura direta da taxa de aplicação por hectare. Porém, é o método menos recomendado pois podem ocorrer erros na escala de leitura do volume coletado.

 

 

Calibrando o pulverizador em função da velocidade calculada

Neste método, realizamos os mesmos passos do método anterior, porém, ao invés de coletar a vazão de cada ponta durante o tempo gasto para percorrer os 50 metros, coletamos durante o tempo fixo de 1 minuto. Após, realizamos o cálculo abaixo:

Onde:
Q = taxa ou volume de aplicação (L/ha)
q = vazão total de todas as pontas (L/min)
V = velocidade de operação no campo (km/h)
f = largura útil da barra do pulverizador (m)

Abaixo, vamos fazer um exemplo desse cálculo:

Vazão total por minuto = 28 bicos x 0,5 L/min = 14 L/min
Velocidade de deslocamento = 180 / 40s = 4,5 km/h
Q = (14 L/min * 600) / (4,5 km/h x 14 m) = 133 L/ha

 

Essa equação permite calcular a vazão total da barra necessária para obtermos a taxa de aplicação desejada. Basta dividir o valor pelo número de bicos, obtendo a vazão em cada ponta. Também podemos fazer simplificações, assim como no outro método. Por exemplo, caso todas as pontas e filtros estejam em perfeitas condições, pode ser feita a coleta em apenas duas ou três pontas de cada seção da barra. Porém, a coleta deve ser realizada em no mínimo duas pontas por seção da barra. Dessa forma, o "q" assumiria o valor da vazão média dos bicos, e "f" assume o valor da distância entre bicos (metros).

Em alguns casos, dependendo da qualidade da água e tipo de formulação do defensivo, a calibração deve ser repetida, se possível, em todos os dias de uso do pulverizador. Para a maioria dos pulverizadores, devemos manter a mesma marcha e rotação do motor utilizados durante a calibração, evitando alterar a dose aplicada e taxa de aplicação.

Se o volume obtido estiver abaixo do desejado, podemos aumentar a pressão, reduzir a velocidade ou trocar as pontas por outras de maior vazão. Se o volume estiver acima do desejado, podemos reduzir a pressão, aumentar a velocidade ou trocar o conjunto de pontas por outros com menor vazão. Porém, devemos tomar cuidado com estas alterações.

As pontas são projetadas para trabalharem em uma faixa de pressão específica, de forma a não ocorrer um desgaste prematuro e manter uma qualidade de deposição, evitando problemas como a deriva. Alterar a pressão é um ajuste realizado quando ocorre a necessidade de pequenos ajustes no volume de aplicação, pois, o aumento de vazão ocorre em uma proporção bem menor ao ajuste de pressão.

A velocidade de trabalho, a depender da capacidade do trator, topografia e relevo também pode ser ajustada, devendo ser feita quando necessitar ajustes intermediários no volume de aplicação. Porém, a decisão mais adequada é a troca das pontas de pulverização, principalmente quando há necessidade de ajustes no volume de aplicação.

 

Calculando a quantidade de produto fitossanitário por tanque de calda

Além da calibração, também devemos calcular de forma adequada a quantidade de defensivos a ser colocada no tanque. O cálculo pode ser feito através da regra de 3 ou com a seguinte equação:

Onde:
Pr: quantidade de produto (L ou kg) a ser adicionada no tanque no reabastecimento
Dose: dose do produto a ser aplicada (L/ha, g/ha...)
Ct = capacidade volumétrica do tanque
Q = taxa de aplicação ou volume de aplicação (L/ha)

Obs: o resultado será na mesma unidade utilizada na dose do produto!

Por exemplo, considerando um tanque de 800 L, com uma taxa de aplicação de 200 L/ha, e um produto com dosagem de 200g / ha.

Pr = (800 L * 200 g/ha) / 200 L/ha = 800 g.
Logo, a cada reabastecimento do tanque, devemos adicionar 800 gramas do produto.

 

Por fim, ressaltamos que a aferição das pontas de pulverização devem ser feitas periodicamente. Conforme a Norma ISO 16122 (2015), pontas de vazão menor que 1 L/min que excederem ± 10% e pontas com vazão maior ou igual a 1 L/min que excederem ± 15% da vazão, quanto à especificação técnica na máxima pressão de trabalho permitida para o modelo, devem ser substituídas.

 

Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo

 

Referências:

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE DEFESA VEGETAL • ANDEF. MANUAL DE TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO. [S. l.: s. n.], 2000.

RAETANO, C. G.; BOLLWR, W. Regulagens e Calibração de Pulverizadores. In: ANTUNIASSI, U. R.; BOLLER, W. Tecnologia de Aplicação Para Culturas Anuais. 2. ed. Passo Fundo, RS: Aldeia Norte, 2019. p. 67-90.

SCHLOSSER, J. F. REGULAGEM, CALIBRAÇÃO, ESTADO DE CONSERVAÇÃO E USO DE PULVERIZADORES AGRÍCOLAS NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. Série Cadernos de Extensão, Santa Maria, RS, ed. 1, 2017.

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