Como aplicar herbicidas? Quais as formas de aplicação?
Leia sobre aspectos gerais da aplicação de herbicidas.
A presença de plantas daninhas pode reduzir significativamente a produtividade de uma lavoura. O prejuízo depende da densidade, espécie de planta daninha e da cultura, e a redução de produtividade pode ocorrer das seguintes formas, isoladas ou em conjunto:
- Competitividade: a planta daninha compete com a cultura por recursos do ambiente (água, luz, nutrientes e espaço);
- Alelopatia: a planta daninha libera alguma substância que prejudica o desenvolvimento da cultura;
- Pragas e doenças: quando a planta daninha é hospedeira de pragas e doenças que podem atacar a planta cultivada.
O ataque de plantas daninhas nem sempre é percebido pelo produtor, e quando a interferência destas plantas indesejadas é percebida, o prejuízo já está estabelecido. Para buscarmos valores maiores de produtividade é fundamental realizar o controle das plantas daninhas, podendo ser feito o controle preventivo, químico, cultural ou mecânico. Quanto maior a integração destes métodos, maior será a efetividade do controle. Isso é reforçado pelo fato de que diversas plantas daninhas se tornaram resistentes aos herbicidas, diminuindo a efetividade do controle químico.
Existem cerca de 50 relatos de resistência no Brasil, sendo 16 de resistência múltipla. Dentre as plantas daninhas que se tornaram resistentes, podemos citar o azevém, buva, capim amargoso e capim-pé-de-galinha, que apresentam resistência ao herbicida glifosato. Dessa forma, as empresas têm concentrado seus esforços em desenvolver herbicidas com diferentes sítios de ação, sendo sempre necessário conhecermos a resistência das culturas à esses produtos, de forma a não prejudicarmos as plantas cultivadas.
Aplicando herbicidas
A escolha da forma de aplicação de herbicidas depende do tipo de alvo (planta ou solo) e suas condições (umidade, estádio de desenvolvimento, cobertura do solo etc.), das características do herbicida e das condições climáticas durante a aplicação.
Os herbicidas podem ser móveis ou imóveis dentro das plantas. Herbicidas sistêmicos penetram nas plantas e se movimentam pelo xilema e/ou floema. Quando aplicados em pré-emergência, são absorvidos pela raiz e translocados pelo xilema. Já quando são absorvidos em pós-emergência, tendem a ser absorvidos pelas folhas e inicialmente se translocam pelo floema. Como estes produtos se movem dentro das plantas, não é necessária uma cobertura total da superfície foliar, o que possibilita o uso de gotas mais grossas, que são menos suscetíveis à deriva.
Já os herbicidas de contato atuam próximo ou no local em que penetram nas plantas, sem ser translocado para o caule ou raiz. Como vão agir nos locais em que se depositam, é recomendado uma aplicação buscando maior cobertura da planta, feita com gotas mais finas.
De forma geral, o aumento do volume de aplicação ou o aumento da cobertura através do uso de gotas finas melhora a eficiência dos herbicidas. Em alguns outros casos, a redução do volume proporciona melhores resultados. O volume médio de aplicação varia muito, e existe uma tendência de redução desse volume para buscar aumento da eficiência operacional. Quanto ao tamanho de gotas, deve-se utilizar gotas mais finas (ou aumentar o volume) quando se busca boa cobertura do alvo, sempre tomando os cuidados necessários para evitar a Deriva. Para produtos móveis dentro das plantas, com menor dependência de cobertura, pode-se aumentar o tamanho das gotas, reduzindo o risco de deriva. Quando as condições climáticas são adversas, também recomenda-se o aumento de tamanho das gotas associado ao aumento do volume de aplicação, o que pode exigir o uso de bicos com orifícios maiores.
Além disso, condições climáticas adversas também colocam as plantas em situações de estresse, que reduzem tanto a absorção quanto a translocação dos herbicidas. Já no solo, condições favoráveis de umidade podem diminuir a sorção e aumentar o transporte e disponibilidade de herbicidas pré-emergentes para as plantas, e favorecer a penetração de herbicidas pós-emergentes. A umidade do ar e temperatura também influenciam a velocidade de secamento da calda aplicada e o estabelecimento do produto líquido na superfície da folha.
Aplicação de herbicidas em área total
A aplicação de herbicidas em área total cobre toda a área, atingindo todas as plantas presentes. É feita em situações de alta infestação de plantas daninhas e/ou em áreas muito extensas, sendo feito via tratorizada ou aérea. A cultura deve ser tolerante ao herbicida. Como exemplo, podemos citar o glifosato e o propanil.
Aplicação de herbicidas em jato dirigido (aplicação localizada)
A aplicação de herbicidas via jato dirigido é comum em culturas como algodão e cana de açúcar, possibilitando o uso de herbicidas não seletivos sem atingir as culturas. A calda é direcionada diretamente para as plantas daninhas e solo, sem atingir a planta cultivada, podendo ser feita em diferentes estádios da cultura. No algodão, geralmente ocorre aos 45 ou 50 dias após a emergência, após a lignificação do caule na base da planta, e visa controlar as plantas daninhas remanescente, possibilitando a colheita no limpo. Caso a aplicação seja feita antes da lignificação do caule, deve-se proteger as folhas e o caule ainda verde, utilizando uma proteção física, evitando efeitos tóxicos à planta. Podemos utilizar diferentes herbicidas em jato dirigido, geralmente associando um produto residual com um pós-emergente não seletivo.
Aplicação aérea de herbicidas
A aplicação aérea de defensivos é muito importante em diversas propriedades rurais de grandes extensões, pois a operação permite o tratamento fitossanitário de grandes áreas em pouco espaço de tempo. Porém, a aplicação deve ser feita dentro das condições adequadas, evitando a Deriva e o prejuízo financeiro. O cuidado deve ser redobrado em casos de pulverização aérea de herbicidas não seletivos, buscando sempre fazer uma boa escolha do equipamento e sistema a ser utilizado. Vale lembrar: siga sempre as orientações da bula quanto às aplicações aéreas, verificando também se o herbicida possui recomendação para a aplicação aérea.
Nas aplicações aéreas de herbicidas, as pontas de pulverização hidráulicas são as mais usadas, sendo aplicados volumes de calda entre 10 e 100 L/ha. Como esses modelos de pontas formam gotas bastante desuniformes, o potencial de deriva muitas vezes é alto, sendo necessários protocolos, avaliações das pontas, uso de adjuvantes, procedimentos operacionais etc., que visam melhorar a qualidade da aplicação. Quanto ao tamanho das gotas, deve-se, sempre que possível, evitar o uso de gotas finas.
As áreas de maior relevância da aplicação aérea de herbicidas, é a aplicação em arroz irrigado, no sul do Brasil, e a aplicação em pastagens. O arroz é uma cultura que dificulta o acesso de máquinas, sendo a aplicação aérea uma opção muito mais viável em diversos casos. Já as pastagens, por serem áreas extensas, também costumam receber esse tipo de aplicação.
A aplicação aérea possui um ajuste de faixa de deposição mais complexo do que a aplicação terrestre, sendo necessários bons ajustes das pontas de pulverização, altura de voo, tamanho das gotas etc.
Como vantagens, a aplicação aérea pode ser feita em áreas de difícil acesso, como o arroz irrigado, ou nas pastagens onde existem obstáculos como árvores ou cercas. Além disso, as aeronaves possuem um rendimento operacional muito maior, cobrindo mais áreas por tempo do que a aplicação terrestre. Evita-se também problemas como amassamento das culturas e compactação do solo.
Já dentre as desvantagens, podemos citar a deriva, que pode ser mais intensiva na aplicação aérea. Diversos aspectos técnicos devem ser observados durante a aplicação para evitarmos esse problema. Além disso, a aplicação aérea exige maiores cuidados com segurança na área e no entorno da área.
Uniformidade na aplicação de herbicidas
A deposição de um herbicida no campo pode variar em até dezenas de vezes em casos extremos, não sendo uniforme, resultando em uma grande variação de doses e pressões de seleção. Dessa forma, a dose que aplicamos corresponde à dosagem média da área. Algumas plantas recebem doses elevadas, ao passo que outras recebem sub-doses, e isso ocorre por fatores como:
- Movimentos horizontais e verticais da barra de aplicação;
- Proteção pela palha presente no solo;
- Efeito "guarda-chuva" entre as plantas.
Mesmo o uso de sub-doses ou doses elevadas na área não elimina o problema. Ocorre que, quando aplicamos doses baixas de um herbicida, ocorre seleção de genes de resistência, e mesmo na aplicação de dosagens elevadas, apesar da alta mortalidade das plantas, pode ocorrer seleção de genes de resistência de alto nível. Além disso, essa variação na dosagem também pode contribuir para falhas de controle das plantas daninhas ou efeitos tóxicos na cultura. Dessa forma, recomenda-se dar atenção aos fatores que contribuem para a variabilidade da distribuição.
Resistência de plantas daninhas a herbicidas
Existem mais de 50 espécies de plantas daninhas resistentes aos herbicidas no Brasil, com destaque para as espécies resistentes ao glifosato (sendo algumas espécies com resistência múltipla) como azevém, buva, capim-amargoso, capim-pé-de-galinha etc., sendo necessário o uso de herbicidas com ação em sítios diferentes. Muitas vezes é necessário utilizar híbridos ou variedades que possibilitem o uso de herbicidas antes não recomendados para a cultura.
Porém, é necessário termos cuidados com áreas próximas ao utilizar cultivares resistentes, bem como o cuidado para não aplicar o herbicida errado dentro da área. A forma de trabalho atual com herbicidas mostra que surgirão outros problemas de resistência no futuro, sendo indispensável o uso cada vez mais correto, eficiente e consciente desses produtos.
Continue a leitura:
- Qualidade da distribuição na pulverização de defensivos
- Aplicação de herbicidas pré-emergentes
- Aplicação de herbicidas pós-emergentes
Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo
Referências:
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