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Defensivos: como calcular a dosagem, volume, pressão e vazão?

Leia sobre a influência do volume e da pressão na pulverização de defensivos.


Foto: Canva

Diversos fatores devem ser observados quando buscamos uma boa eficiência na aplicação de defensivos, como por exemplo o tipo de bico, vazão e pressão, velocidade de trabalho, condições climáticas, manutenção do pulverizador, preparo da calda etc. Nesta página, vamos falar sobre a dosagem, volume, pressão e vazão corretos durante a pulverização agrícola.

 

Pressão

A pressão utilizada durante uma pulverização agrícola influencia na vazão, taxa de aplicação, qualidade da aplicação e na sustentabilidade do uso dos defensivos. A pressão, que pode ser medida pelo manômetro, é a energia utilizada para quebrar a tensão superficial da calda em gotas, e deve ser regulada de tal forma que produza gotas com diâmetro adequado, evitando tanto o escorrimento quanto a deriva. Caso o seu manômetro use unidades diferentes de bar, você pode calcular as equivalências:

  • 1 bar = 100 kpa
  • 1 bar = 1,02 kgf / cm²
  • 1 bar = 14,56 lbf / pol² ou PSI (pound per square inch)
  • 1 PSI = 0,07 kgf / cm²

A unidade padrão de pressão é o "bar", que é utilizada internacionalmente. Porém, a unidade mais corrente é a "libra", medida em "lbf / pol²".

A vazão de um bico de pulverização varia conforme a pressão. Simplificadamente, quando aumentamos a pressão em quatro vezes, a vazão é aumentada em duas vezes. 

Se utilizarmos uma pressão excessiva, ocorre maior desgaste das pontas de pulverização, filtros e mangueiras, além de aumentar a chance de deriva através da redução do tamanho das gotas, que serão perdidas com maior rapidez através da evaporação ou arraste pelo vento, resultando em prejuízos financeiros e ambientais.

Já no caso de pressão insuficiente, a calda pode não chegar em quantidade suficiente até o fim da barra, os jatos se tornam irregulares, o ângulo de aspersão não se abre o suficiente, as gotas ficam maiores, o que pode provocar o escorrimento. A cobertura ficará desuniforme e o controle será menos efetivo, resultando também em prejuízos financeiros.

 

Qual pressão utilizar na pulverização?

A pressão correta é determinada pelo modelo de ponta de pulverização, cobertura e penetração, características do produto utilizado e condições ambientais. Dessa forma, para descobrirmos a pressão adequada de trabalho, devemos consultar o catálogo do fabricante das pontas. As pontas de pulverização apresentam diferentes intervalos ideais de pressão, e quando não respeitamos esses valores, teremos os problemas mencionados acima.

Por exemplo, a maioria das pontas de jato plano trabalham com pressões entre 2 e 4 bars, ao passo que pontas de jato cônico trabalham melhor com pressões de aproximadamente 7 bars. Já as pontas de uso estendido podem trabalhar com maior amplitude de pressão, sendo úteis para trabalhar com uma maior variedade de alvos e produtos.

Devemos lembrar da razão entre pressão e vazão: a vazão é diretamente proporcional à raiz quadrada da pressão. Se aumentar em 4 vezes a pressão, a pressão é aumentada em 2x, o que implica também na redução do diâmetro das gotas. Observe a tabela abaixo, retirada do catálogo de um fabricante.

Tabela 1. Vazão (L/ha) para 50 cm de espaçamento entre bicos de jato plano.
11002 (jato plano) Pressão
bar
Tamanho
de
Gota*
Vazão
de um
bico
(l/min)
Velocidade (km/h)
4 5 6 7 8 10 12 16 18 20 25 30 35
1,0 VC 0,46 138 110 92 78,9 69 55,2 46 34,5 30,7 27,6 22,1 18,4 15,8
2,0 C 0,65 195 156 130 111 97,5 78 65 48,8 43,3 39 31,2 26 22,3
3,0 M 0,79 237 190 158 135 119 94,8 79 59,3 52,7 47,4 37,9 31,6 27,1
4,0 M 0,91 273 218 182 156 137 109 91 68,3 60,7 54,6 43,7 36,4 31,2
5,0 F 1,02 306 245 204 175 153 122 102 76,5 68 61,2 49 40,8 35
6,0 F 1,12 336 269 224 192 168 134 112 84 74,7 67,2 53,8 44,8 38,4

*VC: muito grossa; C: grossa; M: média; F: fina.

 

Volume

Quanto ao volume de calda, este leva em conta o índice de área foliar, alvo, técnica de aplicação e produto a ser aplicado, dentre outros. A bula dos defensivos apresenta informações sobre o intervalo de volume de calda indicado para determinado produto, em determinada cultura com determinado problema. Quanto menor o volume de calda, mais concentrada será a calda, pois seguiremos aplicando a mesma quantidade de ingrediente ativo, respeitando sempre as indicações da bula.

Atualmente existe uma tendência de redução do volume de pulverizações, de forma a aumentar a área tratada por hora, aumentando a capacidade operacional do pulverizador. Tal processo reduz o custo de coleta e transporte de água, além de reduzir o tempo necessário para reabastecimento, o que se mostra interessante em épocas em que o período disponível para o trabalho é curto.

Alguns produtos possuem melhor eficiência quando em maior concentração nas caldas, porém, nem todos.

Algumas pesquisas apontam que alguns herbicidas são mais eficientes com aplicações em baixo volume, pois a maior concentração do produto por litro de água acelera a sua passagem pela cutícula das folhas, trazendo efeitos mais rápidos. Porém, outros produtos como fungicidas e inseticidas podem ter seu efeito reduzido com o baixo volume de calda. Plantas com grande área foliar necessitam de boa cobertura de gotas para o controle ser efetivo, e o uso de baixo volume pode não proporcionar a boa cobertura necessária. Assim, percebemos que cada produto possui uma resposta diferente à redução do volume de calda.

Além disso, o menor volume torna a operação mais complexa, e o menor número de gotas pode degradar a qualidade da deposição. O uso de gotas mais finas faz com que a aplicação de volumes menores seja mais suscetível às condições climáticas, aumentando o risco de deriva.

Aplicações com "alto volume" são aplicações feitas até além da capacidade de retenção das folhas, causando o escorrimento, ao passo que o "ultra baixo volume" são aplicações com o mínimo de volume por área para alcançar o controle.

 

Nas tabelas abaixo podemos observar a classificação do volume de aplicação conforme dois autores:

Tabela 1 - Classificação do volume de aplicação (L/ha) (Matthews, 2000)
Classes Culturas anuais Culturas arbóreas
------ Volume (L/ha) ------
Alto volume > 600 > 1000
Médio volume 200 - 600 500 - 1000
Baixo volume 50 - 200 200 - 500
Muito baixo volume 5 - 50 50 - 200
Ultra baixo volume < 5 < 50

Fonte: Matthews (2000).

 

Tabela 2 - Classificação do volume de aplicação (L/ha) (ASABE, 2007).
Classes ------ Volume (L/ha) ------
Alto volume > 500
Médio volume 50 - 500
Baixo volume 5 - 50
Ultra baixo volume 0,5 - 5
Ultra ultra baixo volume < 0,5

Fonte: ASABE (2007).

 

Vazão 

A vazão do bico de pulverização depende do tamanho do orifício da ponta, características do líquido (viscosidade e densidade) e pressão. Existem fórmulas para se determinar a vazão correta. Na maioria das pontas de jato plano / leque e outras pontas, podemos utilizar a fórmula abaixo:

Sendo:

V1 = vazão da ponta na pressão 1;
V2 = Vazão da ponta na pressão 2;
P1 = Pressão 1;
P2 = Pressão 2.

A partir da fórmula, entende-se que, como mencionado nos tópicos anteriores, para dobrar a vazão de uma ponta, quadruplicamos a pressão de trabalho.

 

Dose de agrotóxicos

A dose a ser aplicada por hectare é de acordo com o recomendado na bula do produto e no receituário agronômico. Sempre respeite as doses indicadas. 

 

Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo

 

Referências:

ASABE- American Society of Agricultural and Biological Engineers. Terminology and definitions for application of crop, animal, or forestry production and protection agents. St. Joseph, 2007. (ASAE S, 327.3).

CONTIERO, R.L., BIFFE, D.F., and CATAPAN, V. Tecnologia de Aplicação. In: BRANDÃO FILHO, J.U.T., FREITAS, P.S.L., BERIAN, L.O.S., and GOTO, R., comps. Hortaliças-fruto [online]. Maringá: EDUEM, 2018, pp. 401-449. ISBN: 978-65-86383-01-0. https://doi.org/10.7476/9786586383010.0015.

MATTHEWS, G. A. Pesticide application methods. 3. ed. London: Blackwell Science, 2000. 

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