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Faixas de deposição em aplicações aéreas de defensivos

Leia sobre as faixas de deposição nas aplicações aéreas de defensivos, e entenda como buscar maior qualidade na aplicação aérea.


A faixa de deposição é onde se depositam as gotas pulverizadas pela aeronave durante uma aplicação agrícola, sendo referida como faixa total e faixa efetiva. A faixa de deposição total é a faixa onde ocorrem depósitos dos produtos, independente da quantidade. Já a faixa de deposição efetiva é aquela que recebe quantidades de defensivos que atendem as necessidades recomendadas, e é dimensionada a partir de informações como volume de calda, tamanho da barra, altura do voo, direção e velocidade do vento, condições meteorológicas, tamanho das gotas, sentido e velocidade de deslocamento da aeronave e tipo de produto.

As extremidades da faixa total (no sentido perpendicular) recebem menor quantidade de produtos do que o centro da passada, não sendo suficiente para garantir a uniformidade da aplicação, e, portanto, devem ocorrer sobreposição das aplicações nas extremidades, de forma que a deposição das passadas seguintes sejam somadas, garantindo a qualidade do controle.

Para melhorarmos a qualidade das aplicações aéreas de defensivos e determinar a distância adequada entre as passadas sucessivas da aeronave, devemos analisar a variação dos defensivos depositados no campo, determinada através do coeficiente de variação. O coeficiente de variação é uma medida de valor estatístico que determina a uniformidade da distribuição da aplicação de defensivos ao longo da faixa efetiva. Para otimizar as aplicações aéreas, analisamos o coeficiente de variação das faixas sobrepostas (definidas pelas normas ASAE S341.1 e S386). Quanto menor o valor em porcentagem, mais homogênea e melhor será a distribuição dos defensivos. Para avaliar o depósito da calda de pulverização e calcular o coeficiente de variação, usamos opções como coletores, tiras de papel, lâminas de vidro, uso de papéis sensíveis, uso de corantes especiais etc.

A partir dos resultados, determina-se as melhores faixas de deposição para cada situação, o que inclui diferentes taxas de aplicação, configurações de barra e equipamentos. Existem alguns programas que auxiliam no processamento das amostras e geração de curvas.

Nas aplicações aéreas, geralmente ocorre recobrimento dos produtos durante as aplicações. Em aplicações terrestres o recobrimento depende do ângulo de abertura dos jatos, espaçamento entre bicos e altura da barra. Na aplicação aérea, o recobrimento resulta de passagens contíguas da aeronave sobre a área.

A aplicação aérea deve proporcionar uma faixa de deposição efetiva, com uniformidade esperada, com a maior distância possível entre as passagens da aeronave. Caso ocorra uma distribuição não homogênea dos depósitos adota-se procedimentos operacionais. Existem casos em que ocorrem desuniformidade na faixa de deposição efetiva,  provocadas por ações aerodinâmicas, pelo vórtice da hélice, pela distribuição dos bicos e/ou por equipamentos acoplados no avião, podendo resultar em falhas na lavoura. Nessas situações, ajustes e manutenções do equipamento podem amenizar o problema.

 

Como determinar as faixas de deposição na aplicação aérea de defensivos?

A seguir, vamos falar sobre alguns métodos para determinar a faixa de deposição na aplicação aérea de defensivos. Existem normas para os testes. Por exemplo, os testes devem ser feitos em três etapas:

a) Taxa de saída de líquido / sólido da aeronave;
b) Padrão de distribuição por faixa;
c) Largura da faixa de deposição efetiva e da uniformidade de distribuição das faixas sobrepostas;

A taxa de saída de líquidos é determinada medindo a descarga de líquido do tanque em um determinado tempo e em condições normais de voo. Uma opção é fazer o teste, e depois determinar a quantidade de líquido necessária para preencher o tanque até a condição inicial, ou medir a quantidade restante do líquido e comparar com a quantidade inicial.

Para o padrão da faixa de deposição, o teste é feito com a aeronave sobrevoando o centro de uma linha de coletores em um ângulo perpendicular em relação ao voo. A aplicação deve ser feita com vento de proa, evitando que o vento lateral interfira no resultado. É tolerado um vento de até 15º em relação ao voo. Devem ser registradas a temperatura, umidade relativa do ar, velocidade e direção do vento, e repetir o teste pelo menos três vezes para cada ensaio.

Caso sejam utilizados papéis hidrossensíveis ou lâminas de vidro, o espaçamento entre os alvos não deve ser maior do que um metro, e a linha de alvos deve ter ser de no mínimo 30 metros, preferencialmente maior do que 45 metros.

Vale lembrar que os materiais de teste devem ter características físicas semelhantes ao material a ser aplicado. Após a coleta, realiza-se um gráfico de deposição relacionado com a posição de coleta, avaliando o perfil de distribuição e simulando sobreposições com diferentes larguras de trabalho. A faixa de deposição efetiva é determinada respeitando um coeficiente de variação máximo, que é menor do que 20%. Com esses parâmetros, é possível estabelecer a taxa de aplicação e largura da faixa efetiva, corrigir erros de desuniformidade, determinar a uniformidade de distribuição volumétrica e estabelecer o procedimento de voo mais adequado.

 

Coeficiente de variação (%)

Relembrando, o coeficiente de variação é uma medida de valor estatístico que determina a uniformidade da distribuição da aplicação de defensivos ao longo da faixa efetiva. Trata-se de uma maneira de otimizar as aplicações agrícolas de defensivos. O coeficiente de variação é o desvio padrão dos resultados dividido pela média:


 

Sendo:

CV: Coeficiente de variação;
Xi: Depósito sobreposto;
Xm: média de depósitos sobrepostos;
n: número de amostras no padrão de sobreposição.

Quanto menor o coeficiente de variação, mais uniforme é o perfil de distribuição, sendo aceitável valores abaixo de 20%.

 

Papéis hidrossensíveis

São papéis sensíveis à água ou óleo, que mudam de cor quando expostos à umidade. Inicialmente determina-se o grid de amostragem e o planejamento de ensaio. Os papéis hidrossolúveis devem ficar a uma distância de um metro entre si, fixados em hastes de metal em uma faixa transversal em relação ao voo, com largura próxima ao dobro da largura esperada. Após a passagem da aeronave, as gotas são contadas com auxílio de programas computacionais, e monta-se o gráfico de depósito versus posição de coleta. Podem ser utilizadas lâminas de vidro no lugar dos papéis, realizando a avaliação por espectrofotometria, colorimetria ou cromatografia. Os cartões devem ser recolhidos na sequência, e avaliados mantendo a ordem sequencial.

 


Papel hidrossensível após deposição.
Imagem: Castor Becker Júnior/SINDAG

 

Os papéis possuem algumas limitações, por exemplo, a sobreposição de gotas pode ser contada como uma única gota, os valores informados pelos softwares podem ser mal interpretados pois o tamanho de gotas é superestimado, e os papéis não podem ser utilizados com umidade relativa do ar acima de 80%. Além disso, é um método trabalhoso, que demanda mão de obra e tempo.

 

Lâmina de vidro

A análise da deposição em lâmina de vidro segue os mesmos critérios e padrão de coleta dos papéis hidrossensíveis. Após a aplicação, as amostras passam por espectrofotometria, e quantifica-se a concentração de defensivo em cada lâmina.

 

Espectrofotometria de fio

O coeficiente de variação e a faixa de deposição efetiva também podem ser determinadas com a espectrofotometria de fio, sendo esse método mais prático. Nesse procedimento, utiliza-se um sistema eletrônico automático de coleta de deposição sobre um fio de poliéster. A aeronave sobrevoa o fio coletor, e após a deposição, recolhe-se o fio e faz a amostragem, formando uma amostra composta com pelo menos três repetições. Posteriormente o sistema faz a análise com espectrofotometria e informa a faixa de deposição ideal para cada configuração da aeronave. Deve-se registrar, durante os testes, a altura e direção do voo, velocidade e direção do vento e condições meteorológicas.

 

Conclusões

Alguns fatores que influenciam a qualidade da aplicação são:

  • Falhas ou acúmulo de calda sob a fuselagem ou próximas à raiz das asas;
  • Modelo do avião;
  • Vórtices de pontas de asas;
  • Altura inadequada de voo;
  • Número inadequado de bicos em cada parte do avião;
  • Volume de calda;
  • Tipo de ponta de pulverização;
  • Tamanho de gotas;

Uma aplicação aérea deve conciliar altura adequada de voo, escolha correta dos atomizadores ou pontas hidráulicas, condições meteorológicas adequadas, manutenção adequada do sistema de pulverização etc. A aplicação aérea deve proporcionar uma faixa de deposição efetiva, com uniformidade esperada, com a maior distância possível entre as passagens da aeronave. Porém, o uso de amplas faixas pode piorar a qualidade da aplicação, sendo necessário um bom estudo da faixa para cada aeronave, sendo parte de um planejamento inicial, necessário para o sucesso da aplicação.

 

Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo

 

Referências:

ABNT. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO 3534-1: Estatística- vocabulário e símbolos. Parte 1: Termos estatísticos gerais e termos usados em probabilidade. Rio de Janeiro, 2010.

ABNT. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. TB-344: Aplicação de defensivos agrícolas - Terminologia. Rio de Janeiro, 1988.

ALTHMAN, M. P. F. AVALIAÇÃO DA FAIXA DE DEPOSIÇÃO EM FUNÇÃO DO MODELO DE AERONAVE E VOLUME DE CALDA APLICADO. Orientador: Prof. Dr. Ulisses Rocha Antuniassi. 2021. 65 p. Dissertação (Mestre em Agronomia) - Faculdade de Ciências Agronômicas, UNESP, Botucatu, SP, 2021.

CARVALHO, F. K.; CUNHA, J. P. A. R. da. Estudos das Faixas de Deposição nas Aplicações Aéreas. In: ANTUNIASSI, U. R.; BOLLER, W. Tecnologia de Aplicação Para Culturas Anuais. 2. ed. Passo Fundo, RS: Aldeia Norte, 2019. p. 213-222.

SALVADOR, J. F. ANÁLISE DA DEPOSIÇÃO EM APLICAÇÕES AÉREAS DE DEFENSIVOS EM FUNÇÃO DE DIFERENTES ALTURAS DE VÔO E VOLUMES DE CALDA. Orientador: Prof. Dr. Ulisses Rocha Antuniassi. 2011. 64 p. Dissertação (Mestre em Agronomia) - Faculdade de Ciências Agronômicas, UNESP, Botucatu, SP, 2011.

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