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Condições climáticas ideais para a aplicação aérea de defensivos

Leia tudo sobre as condições climáticas durante a aplicação aérea de defensivos.


As condições climáticas para a aplicação aérea de defensivos são semelhantes às condições da aplicação terrestre, porém, com algumas diferenças importantes que você irá ler abaixo. Na literatura, geralmente recomenda-se realizar a aplicação de defensivos com umidade relativa acima de 50%, temperatura abaixo de 30ºC e velocidade do vento entre 3 e 10 km/h, ou até de 15 km/h no máximo em algumas fontes, a depender da situação. Não se deve aplicar em condições de ausência de vento, pois são momentos propícios para que ocorram inversão térmica ou correntes convectivas.

Quando ocorrem esses fenômenos, as gotas não são depositadas na lavoura, ficando suspensas no ar. Esse fenômeno pode ser observado quando, após o piloto fazer o balão no final de um tiro de pulverização, a aeronave entrar em uma nuvem de pulverização da passagem anterior, ocorrendo impregnação de gotas da pulverização no para-brisas. As inversões também podem ser detectadas quando observamos um nevoeiro derivando no sentido horizontal, com altura constante ao invés de subir verticalmente, e então, se dissipar rapidamente.

Vale ressaltar que cada produto e cada técnica de aplicação possuem suas especificidades, o que pode alterar os limites meteorológicos para a aplicação dos defensivos. Dessa forma, consulte sempre um engenheiro agrônomo.

Alguns fatores se diferenciam da aplicação terrestre, e é necessário entendermos tais pontos para que a aplicação seja efetiva. Se o sistema de aplicação utilizar óleo degomado no lugar da água como veículo (aplicação em Baixo Volume Oleoso - BVO), o limite de temperatura pode ser de até 32ºC. Além disso, nas aplicações com sistemas BVO e UBV, o limite mínimo de umidade relativa pode ser de até 40%.

 

 

Quanto à velocidade do vento, como citado acima, algumas aplicações podem ser feitas com ventos de até 15 km/h, desde que essa intensidade seja em uma direção que forme um ângulo mínimo de 30 graus em relação a direção do voo de proa ou de popa. Caso o vento esteja alinhado com os tiros (de proa ou de popa), ocorre um aumento na variação de depósito, aumentando os efeitos dos vórtices e resultando em deficiências nas faixas de deposição, principalmente em vôos mais baixos.

Diversos experimentos mostram que a aplicação aérea pode produzir mais deriva do que outros métodos, devido à alta velocidade de trabalho, maior altura de aplicação, vórtices causados pelos aviões etc. Dessa forma, devemos conhecer bem as condições climáticas, visando evitar prejuízos financeiros e ambientais, e os operadores devem ser bem treinados para evitar estes problemas.

 

Fator Amsdem (FA)

O Fator Amsdem é o resultado do produto da altura de voo versus velocidade do vento. Por exemplo, uma aplicação feita com vento de 10 km/h a uma altura de 3 metros resulta em um Fator Amsdem de valor 30 (10 x 3), o mesmo valor para uma aplicação a 6 metros de altura com vento de 5 km/h. Isso significa que as duas aplicações citadas acima terão resultados biológicos semelhantes, pois a neblina se comportará de forma semelhante. Assim, podemos concluir que, quanto maior a velocidade do vento, menor deve ser a altura de voo da aeronave.

O Fator Amsdem durante a aplicação aérea deve se situar entre 10 e 60. Observe a tabela abaixo:

Tabela 1. Relação Fator Amsdem e o efeito na deriva. Adaptado de CBB
Velocidade do vento (km/h) Altura do voo (m) Fator Amsdem Deriva Distância
5 3 15 Pequena 10 - 30
10 3 30 Pequena 10 - 30
15 3 45 Média 30 - 100
15 5 75 Grande 100 - 200

 

Estabilidade atmosférica

A estabilidade atmosférica influencia bastante a aplicação de defensivos, seja ela terrestre ou aérea. Em condições normais, a temperatura diminui com a altura da massa de ar. A noite, quando o solo perde calor por irradiação ou por resfriamento após uma chuva forte, a temperatura próxima ao solo pode ser mais baixa do que nas camadas superiores, causando o fenômeno chamado "Inversão Atmosférica", que impede que as neblinas de defensivos sejam depositadas nas culturas.

Alguns equipamentos como as torres de inversão térmica identificam a presença de inversão térmica, e existem também anemômetros que calculam o "Delta T" (diferença entre a temperatura do bulbo úmido e a temperatura do bulbo seco), que identifica que mesmo com a temperatura em elevação, se houver umidade do ar, o risco de evaporação diminui. Vale lembrar que a velocidade do vento também deve ser considerada. Mesmo com o DELTA T abaixo de 7, ventos fortes podem inviabilizar as aplicações.

Podemos calcular o grau de estabilidade atmosférica (GEA) através da seguinte fórmula:

GEA = ((T2 - T1) / V²) x 100.000
Sendo: 
T1 = temperatura do ar a 2,5 metros do solo (ºC)
T2 = temperatura do ar a 10 metros do solo (ºC)
V = velocidade do vento a 5 metros do solo (cm/s)

Para os valores de GEA, temos:

  • -1,7 a -0,1 = Atmosfera instável
  • -0,1 a 0,1 = Atmosfera neutra
  • 0,1 a 1,2 = Atmosfera estável
  • 1,2 a 4,9 = Atmosfera muito estável

 

Escala de Beaufort

Semelhante ao Fator Amsdem, a escala Beaufort classifica a intensidade dos ventos considerando a velocidade, relacionando com a altura de voo. Quanto maior a intensidade do vento, maior a escala e menor deve ser a altura de voo.

Tabela 2. Escala de Beaufort em relação à altura de voo.
Escala de Beaufort Velocidade do vento (km/h) Altura de voo (m)
1 2 5 a 8
2 2 a 4 3 a 5
3 7 a 10 1,5 a 3
4 10 a 15 1 a 1,5

 

Conclusões

Após a leitura, podemos concluir alguns pontos.

  • A aplicação aérea deve ser feita com a menor altura de aplicação possível sem comprometer a segurança;
  • Sempre observar as condições climáticas, verificando se é possível ou não realizar a aplicação de defensivos e, caso sim, em quais condições de aplicação;
  • Devemos utilizar instrumentos GPS para auxiliar a aplicação na área e faixas corretas;
  • Devemos optar sempre por maiores tamanhos de gotas possíveis;
  • Usar com cuidado o deslocamento lateral da pulverização, calculando a distância que o vento pode carregar o produto, e planejar as faixas considerando esse fator;
  • Colocar os bicos para trás (em direção à cauda da aeronave), reduzindo a formação de gotas pequenas.

Caso queira ler sobre a aplicação aérea de defensivos, clique aqui.

 

Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo

 

Referências

ANTUNIASSI, U. R.; CUNHA, J. P. A. R. da. Boas Práticas na Tecnologia de Aplicação dos Defensivos Agrícolas. In: ANTUNIASSI, U. R.; BOLLER, W. Tecnologia de Aplicação Para Culturas Anuais. 2. ed. Passo Fundo, RS: Aldeia Norte, 2019. p. 355-366.

CONTIERO, R.L., BIFFE, D.F., and CATAPAN, V. Tecnologia de Aplicação. In: BRANDÃO FILHO, J.U.T., FREITAS, P.S.L., BERIAN, L.O.S., and GOTO, R., comps. Hortaliças-fruto [online]. Maringá: EDUEM, 2018, pp. 401-449. ISBN: 978-65-86383-01-0

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