CI

Controle (manejo integrado) da lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis)

Leia sobre o manejo integrado da lagarta-da-soja.


Foto: Agrolink

Lagarta-da-soja - Anticarsia gemmatalis

A lagarta da soja é o inseto desfolhador da soja mais comum no Brasil, podendo causar até 100% de desfolhamento, reduzindo a fotossíntese e prejudicando o enchimento das vagens e produção de grãos. Quando a folhagem é removida, a praga ataca outras partes da planta, como haste e pecíolos, e também pode injetar algumas toxinas nas plantas. Além da soja, a lagarta pode causar prejuízos na alfafa, amendoim, arroz, ervilha, feijão e trigo.

Geralmente as lagartas aparecem quando ocorrem condições favoráveis, a partir de novembro ou dezembro, ficando até março. Os ataques tardios causam maiores danos, pois ocorrem depois da floração, período crítico para a produtividade da cultura.

A mariposa possui coloração marrom, cinza ou bege, podendo ter uma linha transversal nas asas quando em repouso. Mede aproximadamente 40 mm de envergadura. A mariposa geralmente fica em locais sombreados durante o dia, como a base das plantas, e se reproduz à noite.

Os ovos são depositados isoladamente na parte de baixo das folhas, no caule, nos ramos e nos pecíolos com maior concentração nos terços médio e inferior das plantas. Possuem coloração verde clara inicialmente, passando para marrom escuro posteriormente.

As lagartas são verdes (podendo ficar escura sob alta população / escassez de alimento), com 5 estrias longitudinais brancas no corpo. Possuem os 2 primeiros pares de falsas pernas no abdômen, se movimento "medindo palmos" (não confundir com a falsa-medideira) raspam o parênquima das folhas, e quando mais desenvolvidas, conseguem perfurar as folhas. Podem medir até 40 a 50 mm de comprimento.

Quando a lagarta para de se alimentar, no último ínstar larval, entra na fase de pré-pupa por 1 a 2 dias, empupando no solo em profundidade de até 2 cm. A pupa se torna marrom escura e brilhante, dura de 9 a 10 dias, quando emergem as mariposas.

 

Monitoramento e amostragem da lagarta-da-soja

O monitoramento pode ser feito com pano-de-batida, semanalmente, até a fase de enchimento dos grãos. Utiliza-se um tecido ou plástico branco, preso em duas varas, com 1m de comprimento, colocado entre as fileiras, posicionando um lado na base das plantas e o outro estendido sobre as plantas de soja da fileira adjacente. Então, deve-se inclinar e sacudir vigorosamente as plantas sobre o pano, causando a queda dos insetos que deverão ser contados. Repetir o procedimento em vários pontos da lavoura, e considerar o valor médio de insetos por pano.

A amostragem pode ser feita em intervalos semanais, ou a cada três ou quatro dias, caso ocorra aumento do número de insetos. O número de amostras é determinado pelo tamanho da área:

  • 1 a 9 hectares: 6 pontos de amostragem / ha
  • 10 a 29 hectares: 8 pontos de amostragem / ha
  • 30 - 99 hectares: 10 pontos de amostragem / ha

O controle é feito quando forem encontradas, em média, 40 lagartas maiores que 1,5 cm por pano-de-batida (duas fileiras de plantas) ou 30% de desfolha antes da floração. Após a floração, o controle é feito quando forem encontradas, em média, 40 lagartas maiores que 1,5 cm por pano-de-batida (duas fileiras de plantas) ou 15% de desfolha. Em condições de seca prolongada, com plantas menores que 50 cm de altura, recomenda-se reduzir esses níveis para a metade.

 

Controle da lagarta-da-soja

O controle da lagarta-da-soja é feito quando forem contadas, em média, 20 lagartas grandes (igual ou maior que 1,5 cm) por metro, ou quando houver 30% de desfolha antes da floração ou 15% após as primeiras flores. Os maiores danos ocorrem em períodos de escassez de chuva.

O controle químico pode ser feito com inseticidas fosforados, piretróides ou carbamatos quando forem atingidos os níveis de controle. Além do controle químico, pode ser feito o controle biológico com Baculovirus anticarsia ou Bacillus thuringiensis var. kurstaki (Berliner). Quando o ataque ocorre no início do ciclo da soja, com três folhas trifolioladas, junto com períodos de seca, o controle deve ser feito com produtos químicos seletivos para evitar desfolha.

Os percevejos Nabis sp. e Geocoris sp. são predadores que se alimentam de ovos e lagartas dos primeiros ínstares, Podisus sp. se alimenta de lagartas e percevejos e os coleópteros da família Carabidae predam as lagartas.

Existem também os parasitóides Microcharops bimaculata que parasita as lagartas e Trichogramma sp. que oviposita nos ovos da lagarta.

Dentre os patógenos, podemos citar o baculovírus (leia mais abaixo), Bacillus thuringiensis, que age rapidamente mas tem curta persistência no campo e o fungo Nomurea rileyi que pode reduzir drasticamente a população dessa praga.

 

Controle da lagarta-da-soja com baculovírus

O controle com baculovírus é feito com a dose de 50 lagartas equivalentes (maiores que 3 cm) ou 20 g de lagartas mortas por baculovírus por hectare. Deve-se moer as lagartas mortas no liquidificador com água, coando a calda com gaze. O baculovírus formulado, disponível na forma de pó molhável, deve ser suspenso em água, e pulverizado com a dose de 20 g/ha em lavouras infestadas. A aplicação aérea também é possível, com 20g de lagartas mortas pelo vírus/ha, ou, em pó molhável, com no mínimo 15 l/ha de água ou 5 l/ha de óleo não refinado de soja.

Geralmente uma aplicação por baculovírus é o suficiente para uma safra. Para a safra seguinte, as lagartas mortas por baculovírus devem ser coletadas e lavadas em água corrente, podendo armazená-las em freezer por até um ano.

O controle com baculovírus pode ser feito quando houver, no máximo, 40 lagartas pequenas (no fio), ou 10 lagartas maiores que 1,5 cm e 30 lagartas pequenas por pano-de-batida. Em casos de estiagem, considerar a metade desses valores como nível máximo para aplicação do baculovírus. Caso a população de lagartas ultrapasse esse nível, aplicar o baculovirus junto com doses reduzidas de inseticidas.

Não aplicar o baculovírus quando:

i) a população de lagartas (pequenas + grandes) for maior do que 20 por metro de fileira ou 40 por pano-de-batida;
ii) a maioria das lagartas forem maiores do que 1,5 cm;
iii) a desfolha já tenha atingido 30% na fase vegetativa ou 15% após a floração e;
iv) junto com a lagarta-da-soja, ocorrerem outras espécies desfolhadores e/ou percevejos que necessitem ser controlados.

Nesses casos, recomenda-se seguir o manejo integrado de pragas na soja, e, se necessário aplicar inseticidas, procurar a assistência técnica.

 

Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo

 

Referências:

ÁVILA, C. J.; SANTOS, V. Manejo Integrado de Pragas (MIP) na Cultura da Soja: Um estudo de caso com benefícios econômicos e ambientais. Embrapa Documentos - 143, Dourados, MS, ed. 1, 2018.

GALLO, D.; NAKANO, O.; SILVEIRA NETO, S.; CARVALHO, R.P.L.; DE BAPTISTA, G.C.; BERTI FILHO, E.; PARRA, J.R.P.; ZUCCHI, R.A.; ALVES, S.B.; VENDRAMIN, J.D.; MARCHINI, L.C.; LOPES, J.R.S.; OMOTO, C. 2002. Entomologia agrícola. Piracicaba: FEALQ. 920p.

GAZZONI, D. L.; OLIVEIRA, E. B. de; CORSO, I. C.; FERREIRA, B. S. C.; VILLAS BÔAS, G. L.; MOSCARDI, F.; PANIZZI, A. R. Manejo de pragas da soja. Londrina: EMBRAPA – CNPSo, 1981. 44p. (Embrapa – CNPSo. Circular Técnica, 5).

HOFFMANN-CAMPO, C.B.; MOSCARDI, F.; CORRÊA-FERREIRA, B.S.; OLIVEIRA, L.J.; SOSA-GÓMEZ, D.R.; PANIZZI, A.R.; CORSO, I.; GAZZONI D.L.; OLIVEIRA, E.B. de. Pragas da soja no Brasil e seu manejo integrado. Londrina: Embrapa-CNPSo, 2000. 70 p. (Embrapa Soja. Circular Técnica, 30).

MOSCARDI, F. Utilização de Baculovirus anticarsia para o controle da lagarta da soja, Anticarsia gemmatalis. Londrina, PR: Embrapa Soja, 1983. 21p. (Embrapa Soja. Comunicado Técnico, 23).

PRAÇA, L. B.; SILVA NETO, S. P. da; MONNERAT, R. G. Anticarsia gemmatalis Hübner, 1818 (Lepidoptera: Noctuidae): BIOLOGIA, AMOSTRAGEM E MÉTODOS DE CONTROLE. Embrapa Documentos - 196, Brasília, DF, ed. 1, 2006.

SENAR (Paraná). SOJA: manejo integrado de pragas. Coleção SENAR, Curitiba, PR, 2010.

ZACHRISSON, B. A. S. Biecologia de Trichogramma pretiosum Riley, 1879, para o controle de A. gemmatalis Hübner, 1818, na cultura da soja. 1997. 105p. Tese (Doutorado) – Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo, Piracicaba.

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.