Pragas de grãos e sementes armazenados: Quais são? Como Controlar?
Conheça as principais pragas de grãos e sementes armazenados e o seu controle!
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Importância das pragas nos grãos e sementes armazenados
Quais são as principais pragas de grãos e sementes armazenados?
Manejo integrado de pragas de grãos e sementes armazenadas
- Controle físico de pragas de grãos e sementes armazenados
- Controle químico de pragas de grãos e sementes armazenados
- Controle biológico de pragas de grãos e sementes armazenados
Importância das pragas nos grãos e sementes armazenados
As sementes e grãos colhidos nas lavouras devem ser armazenados com o menor percentual de perdas, sejam elas qualitativas ou quantitativas, até o consumo final. As perdas qualitativas são as mais preocupantes, pois podem comprometer totalmente o uso do grão ou desclassificá-lo para outro uso que tenha menor valor agregado.
Um dos principais pontos para se manter a qualidade dos grãos e sementes armazenados é o controle de pragas. Estes organismos prejudicam o produto tanto na qualidade quanto na quantidade final, e são favorecidos por certas condições.
As pragas podem ser primárias ou secundárias:
- As pragas primárias atacam os grãos e sementes sadias, podendo ser pragas primárias internas (penetram dentro dos grãos e se alimentam do seu interior) ou externas (destroem a parte exterior do grão e se alimentam da parte interna sem penetrar nesta).
- Já as pragas secundárias atacam somente grãos danificados ou quebrados, não conseguindo atacar grãos sadios.
Dentre as causas da conservação inadequada dos grãos e sementes, podemos citar uma estrutura inadequada, com deficiente (ou até ausente) sistema de controle de temperatura e aeração. Se as sementes são produzidas com alto investimento de tecnologia no campo, devem ser armazenadas com uma qualidade proporcional, evitando a redução do vigor e poder germinativo. O local de armazenamento deve possuir temperaturas adequadas, deve ser bem ventilado, e as sacas do produto devem ser colocadas sobre estrados de madeira, evitando empilhá-las contra as paredes.
Quanto às temperaturas, estas não devem ultrapassar os 25ºC, e a umidade relativa deve ser inferior a 70%. Um ponto muito importante consiste em manter o ambiente limpo de pragas, evitando a presença desses organismos que diminuem a qualidade dos produtos.
Conhecer as características e danos de cada praga é fundamental para se adotar a melhor forma de controle. Para isso, vamos conhecer as características das principais pragas de grãos e sementes armazenadas!
Quais são as principais pragas de grãos e sementes armazenados?
Rhyzopertha dominica (Gorgulho dos cereais)
É uma praga primária com elevado potencial de destruição em grãos de trigo, podendo destruir cerca de 5 a 6 vezes o seu peso em uma semana, além de possuir alta incidência e grande dificuldade de se evitar os prejuízos, sendo assim considerada a principal praga de pós-colheita de trigo no Brasil.
Os danos são causados tanto por adultos quanto por larvas, deixando os grãos perfurados e com a presença de resíduos na forma de farinha. Além do trigo, a praga causa danos em cevada, triticale, aveia e arroz, e adapta-se facilmente a diversas condições climáticas.
O gorgulho dos cereais é um besouro com coloração castanho-escura, corpo cilíndrico e cabeça globular, que possui de 2,3 mm a 2,8 mm de comprimento quando adulto. As pupas possuem coloração inicial branca, tornando-se castanhas próximo à emergência dos adultos, quando possuem cerca de 3,9 mm de comprimento. Já a forma larval possui coloração branca com cabeça escura, possuindo cerca de 2,8 mm quando desenvolvidas. Os ovos são inicialmente brancos, e posteriormente tornam-se rosados e opacos, com cerca de 0,6 mm de comprimento e 0,2 mm de diâmetro, e são colocados em grupos ou isolados, em fendas ou rachaduras de grãos.
As fêmeas podem colocar cerca de 250 ovos, dependendo das condições de temperatura e umidade e da qualidade do alimento. Os adultos podem durar até 29 dias com temperaturas médias de 30ºC e umidade relativa de 70%. As larvas duram cerca de 22 dias, e as pupas 5 dias. Assim, o ciclo de vida da praga totaliza cerca de 60 dias.
Sitophilus oryzae e Sitophilus zeamais (Gorgulho do milho)
Trata-se de duas espécies de gorgulhos muito semelhantes entre si, diferenciando-se apenas pela genitália. As duas espécies podem ocorrer ao mesmo tempo nos grãos ou sementes.
É uma praga primária interna bastante importante, pois pode infectar tanto os grãos no campo quanto no armazém, além de apresentar alto potencial de reprodução e possuir muitos hospedeiros, como milho, trigo, arroz, cevada e triticale. Tanto a larva como o adulto são prejudiciais. A postura dos ovos é feita nos grãos e sementes. As larvas se desenvolvem, empupam e se transformam em adultos ainda no grão / semente, causando redução de peso e de qualidade do produto.
Os adultos possuem coloração castanho-escura, com manchas mais claras nos élitros, e com 2,0 mm a 3,5 mm de comprimento, e possuem a cabeça projetada à frente, com forma de rostro curvado.
As larvas possuem coloração amarelo-clara e cabeça marrom-escura, já as pupas possuem coloração branca. As fêmeas colocam em média 282 ovos.
Tribolium castaneum (Besouro castanho)
Trata-se de uma praga secundária, ou seja, depende do ataque de outras pragas para se instalar nos grãos armazenados. A praga se alimenta dos grãos quebrados, farinhas e rações, e pode causar altos prejuízos, causando a deterioração dos produtos.
Os adultos são besouros com coloração castanho-avermelhado, com 2,3 a 4,4 mm de comprimento, com corpo achatado e duas depressões transversais na cabeça. As larvas possuem coloração branco-amarelada, com formato cilíndrico e aproximadamente 7 mm de comprimento. As fêmeas colocam entre 400 e 500 ovos nos grãos, sacarias ou em fendas nas paredes.
Lasioderma serricorne (Besourinho do fumo)
É uma praga de fumo armazenado que começou a ocorrer com mais frequência em grãos e sementes de cereais e oleaginosas (como a soja) armazenados, além de atacar também frutos secos, condimentos, farelos, farinhas, massas biscoitos e rações. A praga está presente em todas as regiões e estados produtores do Brasil, e possui elevado potencial de destruição de alguns produtos armazenados como grão de soja.
As larvas do besourinho possuem coloração branco-leitosa, são recobertas por pelos finos e escavam os grãos / sementes fazendo galerias. Após a eclosão, são ágeis e escavam rapidamente. As pupas possuem coloração parecida com as larvas. Já os adultos são besouros com corpo em forma oval, medindo 2 a 4 mm de comprimento e com coloração castanho-avermelhada, recoberto por pelos claros. Possuem antenas salientes e dentadas. Os adultos duram até 20 dias e não se alimentam. O ciclo completo da praga dura de 30 a 90 dias.
No fumo, as fêmeas podem colocar os ovos em fendas nos fardos ou nos charutos, mas não nas folhas de fumo no campo. Na soja, perfuram sementes e grãos armazenados, reduzindo a qualidade dos produtos.
Oryzaephilus surinamensis (besouro)
Trata-se de uma praga secundária, ou seja, ataca apenas grãos quebrados, fendidos ou restos de grãos. Causam bastante dano quando ocorrem em grande densidade populacional, causando grande elevação da temperatura. Esse besouro é bastante tolerante a inseticidas químicos, sendo uma das primeiras espécies a colonizar a massa de grãos após a aplicação desses defensivos.
É uma praga que ocorre em produtos armazenados, e está presente em todas as regiões de produção de grãos do Brasil, tendo preferência por regiões de climas quentes. Pode atacar os grãos de diversas culturas como arroz, milho, trigo, soja, aveia, cevada, frutos secos etc. Também pode infestar estruturas de armazenamento (moegas, máquinas de limpeza, elevadores, túneis, secadores etc.).
O besouro possui o corpo achatado, alongado (cerca de 1,7 a 3,3 mm), com coloração vermelho-escura. Possui seis dentes laterais que permitem sua identificação. As fêmeas colocam os ovos em orifícios nos grãos ou no interior da massa de grãos, e podem colocar até 352 ovos em condições favoráveis.
Cryptolestes ferrugineus (besouro / escaravelho)
É uma praga secundária importante no armazenamento de milho, soja, arroz, trigo, cevada, aveia, nozes e frutos secos, além de poder infestar também estruturas de armazenamento (moegas, máquinas de limpeza, elevadores, túneis, secadores, fundos de silos etc.).
O besouro penetra e destrói grãos quebrados, rachados e fendidos, consumindo os grãos, restos de grãos, farinhas etc, causando aumento da temperatura da massa de grãos e deterioração. A praga possui tolerância a diversos inseticidas, reaparecendo rapidamente nos produtos armazenados após os tratamentos. Dessa forma, deve-se avaliar o potencial de dano da praga, considerando a sua facilidade de reprodução e nível de resistência aos inseticidas.
São pequenos besouros (com aproximadamente 2,5 mm de comprimento), com corpo achatado e antenas longas. Possuem coloração marrom-avermelhada-pálida e grande facilidade de deslocamento. Os ovos são colocados na superfície ou no interior da massa de grãos, e cada fêmea pode colocar entre 300 e 400 ovos. O ciclo de vida pode variar de 17 a 100 dias dependendo das condições de temperatura e umidade da massa de grãos, e possui alto potencial de reprodução.
Inseto adulto de Cryptolestes ferrugineus. Imagem: Irineu Lorini / Embrapa.
No Brasil ocorre em todas as regiões produtoras de grãos e sementes, geralmente associada com a ocorrência de outras pragas de produtos armazenados nas regiões com climas mais quentes do país.
Acanthoscelides obtectus (caruncho-do-feijão)
Trata-se de uma praga primária de produtos armazenados, que ataca principalmente leguminosas como feijão, presente tanto em regiões temperadas como tropicais, em condições de baixa umidade. Os prejuízos nos grãos / sementes incluem a perda de peso, redução da qualidade nutricional e poder germinativo, introdução de contaminantes secundários (fungos, micotoxinas) etc. As larvas possuem rápido desenvolvimento, podendo causar danos severos.
Os adultos possuem cerca de 2 a 4 mm de comprimento, com coloração pardo-escuros e pontuações avermelhadas no abdome, pernas e antenas, e possuem um espinho ventral nos fêmures posteriores. As fêmeas são maiores do que os machos. Como os adultos voam, a infestação pode se iniciar no campo por carunchos vindo dos armazéns, e as larvas se alimentam dos grãos em maturação, porém, os adultos não se alimentam e possuem vida curta. O ciclo de vida pode ser completado em 23 dias, tendo a espécie grande potencial de desenvolvimento.
As larvas possuem coloração branca, forma curvada e corpo robusto, e são encontradas no interior dos grãos e sementes. O empupamento ocorre no interior das sementes broqueadas, durando entre 8 e 25 dias.
Os ovos são colocados nas vagens no campo ou diretamente nas sementes e grãos armazenados. Cada fêmea pode colocar, em média, 40 a 60 ovos, e as larvas duram entre 12 e 150 dias, a depender das condições ambientais. Condições próximas a 30ºC e 70% de umidade relativa são ótimas para o desenvolvimento das larvas.
Sitotroga cerealella (traça dos cereais)
Trata-se de uma praga primária (que ataca grãos inteiros), que afeta a superfície da massa de grãos, destruindo os mesmos, causando prejuízos no peso e na qualidade destes. Além dos grãos, atacam farinhas, deteriorando este produto.
Os adultos são mariposas que possuem 6 a 8 mm de comprimento e 10 a 15 mm de envergadura, com asas anteriores franjadas, com cor palha, e asas posteriores com franjas menores e coloração mais clara. Os adultos vivem de 6 a 10 dias, e as fêmeas colocam os ovos sobre os grãos, principalmente nos quebrados e/ou fendidos, colocando de 40 a 280 ovos, dependendo do substrato.
As larvas penetram no interior dos grãos, se alimentando e completando a fase larval por cerca de 15 dias. As larvas são brancas, com mandíbulas escuras, e podem atingir cerca de 6 mm de comprimento. Já durante a fase de pupa, o inseto possui coloração inicial branca, progredindo para marrom-escura próximo à emergência. O período de ovo a adulto dura 30 dias em média.
Plodia interpunctella (traça indiana da farinha)
Trata-se de uma praga primária externa, de superfície de massa de grãos. Não ocorrem muitos prejuízos no trigo e no milho armazenados a granel, pois os danos são limitados à superfície exposta da massa de grãos. Os danos são mais elevados em grãos armazenados em sacaria devido a maior superfície exposta.
Os adultos são mariposas com aproximadamente 20 mm de envergadura, cabeça e tórax com coloração pardo-avermelhada, asas anteriores com dois traços avermelhados e o terço basal acinzentado. As larvas possuem coloração branca com algumas partes rosadas e formam um casulo de seda para empupar quando desenvolvidas, fazendo-o em fendas de parede e bordas de sacaria.
A fêmea pode colocar entre 100 e 400 ovos na superfície dos grãos, e o período de desenvolvimento de ovo a adulto dura cerca de 28 dias.
Ephestia kuehniella (traça dos cereais)
Trata-se de uma praga secundária cujas larvas se desenvolvem sobre os resíduos de grãos e farinhas formados pela ação de pragas primárias. Os danos causam redução da qualidade dos grãos e das sementes. A traça penetra dentro dos lotes de sementes, colocando os ovos nas costuras da sacaria.
A traça-dos-cereais ocorre em todas as regiões produtoras de grãos no Brasil, sendo relatado em cacau, fumo, vegetais desidratados, frutos secos, cereais e oleaginosas. Os grãos e sementes mais atacados são de milho, soja, trigo, sorgo, arroz, cevada e aveia. Além disso, a praga também pode atacar produtos como chocolates, biscoitos ou barras de cereais. Desde que haja disponibilidade de alimento, a praga pode ocorrer durante o ano todo no armazenamento.
Os adultos são mariposas com coloração parda, medindo cerca de 20 mm de envergadura, asas anteriores estreitas e longas com coloração acinzentada e manchas transversais cinza-escuras. Já as asas posteriores são mais claras.
As fêmeas podem colocar 200 a 300 ovos. As larvas são rosadas, com pernas e cabeça castanhas, podem atingir até 15 mm de comprimento, e tecem um casulo de seda onde irão empupar. O período de ovo a adulto dura cerca de 40 dias.
Manejo integrado de pragas de grãos e sementes armazenadas
É fundamental integrar os diferentes métodos de controle para obter sucesso no controle das pragas, seja no campo ou durante o armazenamento. Além do maior sucesso no controle, o manejo integrado diminui o surgimento de organismos resistentes, reduz o impacto ambiental, diminui a contaminação dos produtos com resíduos de defensivos, pode diminuir os custos de controle etc.
Para o sucesso do manejo integrado, todas as pessoas envolvidas nas unidades armazenadoras devem se comprometer e participar do processo. Os funcionários devem se conscientizar da importância e dos danos que as pragas causam no armazenamento. Os funcionários também devem conhecer a unidade armazenadora em todos os seus detalhes. Devem ser identificados e previstos os pontos de entrada e abrigo de pragas dentro do sistema de armazenagem, bem como considerar também o histórico de controle de pragas nos anos anteriores.
Outro ponto fundamental é adotar medidas de limpeza e higienização. O simples uso de vassouras, escovas e aspiradores em máquinas de limpeza, moegas, túneis, passarelas, dentre outras estruturas, promovem grandes ganhos no processo. Após a limpeza, realizar o tratamento periódico de toda a estrutura armazenadora, usando inseticidas protetores de longa duração.
As pragas devem ser devidamente identificadas, pois os métodos de controle dependem da espécie de praga em questão. Também deve-se conhecer o potencial de dano da praga e os possíveis casos de resistência das pragas aos inseticidas, de forma a não contribuir para a piora desse problema, além de evitar o insucesso do controle, resultando em perdas financeiras.
Os grãos podem ser tratados preventivamente com inseticidas protetores no momento de abastecer o armazém. Os grãos devem ser monitorados durante todo o período armazenado, detectando sempre o início de possíveis infestações. Podem ser usadas armadilhas fixas de captura de insetos ou peneiras com malha de 20 mm ou superior. Também deve-se medir constantemente a temperatura e a umidade da massa de grãos. O tratamento curativo pode ser feito quando houver presença de pragas nos grãos, fazendo o expurgo com fosfina, observando o período mínimo de exposição para o controle de todas as fases da praga.
As pragas podem ser primárias ou secundárias. As pragas primárias atacam os grãos e sementes sadias, podendo ser pragas primárias internas (penetram dentro dos grãos e se alimentam do seu interior) ou externas (destroem a parte exterior do grão e se alimentam da parte interna sem penetrar nesta). Já as pragas secundárias atacam somente grãos danificados ou quebrados, não conseguindo atacar grãos sadios. Para ler sobre a identificação das pragas de grãos e sementes, clique aqui!
Monitoramento das pragas na massa de grãos
O monitoramento é fundamental para detectar pragas em estádios iniciais em grãos e sementes armazenados, possibilitando o controle já no início, minimizando os prejuízos. A amostragem de insetos deve ser acompanhada da medição da temperatura e da umidade do grão e da detecção da presença de fungos.
Para o monitoramento de insetos que vivem no interior da massa de grãos, existem dois métodos:
- Método tradicional: é feito coletando-se amostras de grãos em vários pontos do armazém, e passá-los por uma peneira de 20 cm x 20 cm, com malha de 2 mm, dotada de um coletor que irá reter as pragas para identificação e quantificação.
- Armadilhas: é feito usando armadilhas de plástico do tipo "Burkholder Grain Probe", feitas de tubos de plástico com 2,5 cm de diâmetro e 36 cm de comprimento, perfurados na metade superior, introduzidos na massa de grãos, ficando lá por determinado tempo. Os insetos, ao se deslocarem na massa de grãos, e devido a maior concentração de oxigênio, caem nas perfurações da armadilha, que internamente possui um coletor que impede a saída das pragas. Após um período de 7 a 15 dias, retira-se as armadilhas para identificar e quantificar as pragas. Também pode-se usar feromônios para atrair os insetos para as armadilhas.
Limpeza e higienização das unidades armazenadoras de grãos e sementes
As medidas preventivas são as mais importantes para proteger os grãos do ataque de pragas. A limpeza consiste em eliminar todos os resíduos no armazém / silo, corredores, passarelas, túneis, elevadores e moegas. Recomenda-se queimar ou enterrar os resíduos para evitar a proliferação de insetos e fungos. Após a limpeza, o local deve ser higienizado através de pulverização / termonebulização com inseticidas.
Controle físico de pragas de grãos e sementes armazenados
Consistem em manipular a temperatura, umidade, atmosfera controlada, usar pós inertes, radiação, luz, som e remoção física para controlar as pragas.
Temperatura
Tanto a alta quanto a baixa temperatura podem ser usadas para o controle de pragas. Observe a tabela abaixo:
Ação | Temperatura (ºC) | Efeito |
Letal | > 62 | Morte em menos de 1 minuto |
50 a 60 | Morte em menos de 1 hora | |
45 a 50 | Morte em menos de 1 dia | |
35 a 42 | Populações podem morrer | |
Subótimo | 35 | Temperatura máxima para reprodução |
32 a 35 | Lento crescimento populacional | |
Ótimo | 25 a 32 | Máxima taxa de crescimento populacional |
Subótimo | 13 a 25 | Lento crescimento populacional |
Letal | 5 a 13 | Lenta mortalidade populacional |
3 a 5 | Cessam os movimentos | |
-5 a -10 | Morte em algumas semanas ou meses | |
-15 a -25 | Morte em menos de 1 hora |
Algumas pragas, como por exemplo R. dominica, possuem maior tolerância ao calor, sendo necessário temperaturas mais elevadas para o seu controle. Um ponto importante é que a temperatura e tempo de exposição podem afetar também a qualidade final do produto.
Umidade
A umidade relativa ótima do ar para as principais pragas de grãos e sementes armazenadas é de aproximadamente 70% A diminuição da umidade relativa reduz a longevidade e sobrevivência das pragas. Um estudo feito por Evans (1982) verificou a diminuição da longevidade média de S. oryzae de 24 semanas para 11,5 semanas em trigo, a 15ºC, ao reduzir a umidade dos grãos de 12,5% para 10,3%, o que corresponde à redução na umidade relativa de 50% para 35%.
Atmosfera controlada
Consiste em modificar a atmosfera, alterando as concentrações dos gases CO2, O2 ou N2, deixando o ambiente letal para as pragas. Essa modificação pode ser feita adicionando CO2 sólido ou gasoso, adicionando gases com baixa concentração de O2, ou permitindo processos metabólicos que removam O2, geralmente com liberação de CO2. Para fazer esse procedimento, as instalações do armazém / silo devem ser fechadas.
Observe a tabela abaixo:
Tipo de atmosfera controlada | Fonte | Composição (%) | |||
O2 | CO2 | N2 | Ar | ||
Baixo O2 | Nitrogênio líquido ou outras fontes (<0,1% de O2) | 0,5 | - | 99,4 | - |
Queima de gás propano | 0,5 | 13,4 | 85,1 | 1,0 | |
Combustão de gases | 0,5 | 20,8 | 78,2 | 0,5 | |
CO2 líquido ou outras fontes (<0,1% de O2) | 0,5 | 97,5 | 2,0 | - | |
Armazém hermético | Metabolismo dentro do armazém | 2 | 18 | 81 | 1 |
Alto CO2 | CO2 líquido ou outras fontes (98% puro) | 4,2 | 80 | 15,6 | 0,2 |
8,4 | 60 | 31,2 | 0,4 | ||
12,6 | 40 | 46,9 | 0,5 |
Para todas as fases de vida das principais pragas, as doses e os regimes de aplicação devem ser:
a) concentrações de O2 menores do que 1% por mais de 20 dias;
b) concentrações de CO2 mantidas a 80% por 5 dias, 60% por 11 dias ou 40% por 17 dias;
c) concentrações de CO2 inicialmente superiores a 70% e reduzidas para não menos do que 35%, por pelo menos 15 dias.
Uso de pós inertes na dessecação
É um método eficaz, seguro e apresenta baixa toxicidade aos mamíferos, pode ter um longo efeito residual, não promove a resistência em insetos e pode controlar pragas resistentes, além de não afetar a qualidade de grãos para panificação. O uso desses métodos vem aumentando pois os inseticidas químicos causam alguns problemas, como falhas de controle, resíduos em alimentos e surgimento de pragas resistentes.
Os pós inertes podem ser:
- Argilas, areias e terra;
- Terra de diatomáceas;
- Sílica aerogel;
- Não derivados da sílica.
A terra de diatomáceas possui excelente performance para diversas pragas. A eficiência desses pós inertes pode ser afetada pela mobilidade do inseto, características como número e distribuição de pêlos na cutícula e lipídios cuticulares, tempo de exposição, umidade do ar e fatores que influenciam a taxa de perda de água.
A aplicação é feita com auxílio de uma máquina que deve misturar homogeneamente o produto, que também pode ser usado para o tratamento de estruturas de armazenamento, polvilhando paredes, por exemplo.
Remoção física
A remoção física é feita com um sistema de peneiras. Pode-se remover os insetos durante o recebimento e armazenagem. A secagem dos grãos pode eliminar parte dos insetos, podendo-se também usar uma mesa de gravidade para reduzir mais ainda os insetos.
Radiação
Diversas espécies de insetos-pragas são sensíveis à radiação. A radiação pode ser radiação gama ou aceleração de elétrons. Os ovos são os mais sensíveis, seguido das larvas, pupa e adulto, sendo necessárias doses maiores conforme a praga se desenvolve. A radiação também pode tornar as progênies estéreis. Porém, a radiação também pode diminuir a qualidade dos cereais, principalmente em trigo. Já em cevada, o uso de radiação afeta a germinação do cereal.
Luz e som
A luz pode ser usada para atrair e monitorar algumas pragas, mas é pouco eficiente como método de controle.
Já as ondas sonoras podem ser eficientes para controlar as pragas. Porém, é viável apenas em algumas situações restritas.
Controle químico de pragas de grãos e sementes armazenados
É um dos métodos mais utilizados, aplicados de forma preventiva ou curativa, porém, apresentam algumas desvantagens, como o surgimento de pragas resistentes e a presença de resíduos nos produtos.
Tratamento preventivo de grãos e sementes
Se o período de armazenagem dos grãos / sementes for superior a 60 dias, pode-se realizar o tratamento químico preventivo dos grãos / sementes, podendo-se aplicar os inseticidas sobre os grãos, na correia transportadora, no momento de carregar o armazém ou no ensaque das sementes, homogeneizando bem o produto nos grãos. Geralmente são usadas dosagens de 1 a 2 L de calda por tonelada.
Não se deve pulverizar os inseticidas com a massa de grãos quente, pois tal ação resulta em perda de eficiência do controle. Não se deve também realizar o tratamento via líquida na correia transportadora caso exista infestação de pragas na massa de grãos, pois isso pode causar falhas de controle e problemas de resistência das pragas.
Tratamento curativo (expurgo) de grãos e sementes
A fumigação / expurgo é a aplicação de um gás inseticida para eliminar pragas em sementes e grãos armazenados. O local a ser expurgado deve ser vedado, fechando-se qualquer saída ou entrada de ar, e então aplica-se o gás em concentrações letais para as pragas, sempre observando as normas de segurança para os produtos em uso. Pode-se usar por exemplo uma lona de expurgo para vedar o ambiente, com no mínimo 150 micras de espessura.
A fosfina é um inseticida bastante tóxico usada para o expurgo, sendo liberada na presença de umidade do ar para o controle das pragas em todas as fases de desenvolvimento (ovo, larva, pupa e adulto). A aplicação de fosfina deve ser acompanhada do uso de EPI's, além de seguir as normas de segurança e as orientações da bula.
Ao retirar a lona deve-se tomar cuidado por conta da alta concentração de fosfina, que deve ser imediatamente ventilada de forma a se dissipar e se degradar na atmosfera com o oxigênio. Assim, o armazém deve estar com as portas abertas e a ventilação forçada, ficando proibida a presença de pessoas sem EPI nos armazéns onde ocorrem operações de expurgo.
A distribuição do gás deve ser uniforme em toda a massa de grãos / sementes, e a taxa de liberação do gás determinará o tempo necessário para a mortalidade das pragas e eficiência do controle.
Não se recomenda realizar o expurgo em temperaturas abaixo de 10ºC ou umidade relativa do ar inferior a 25%, pois fica dificultada a liberação do gás. Para o expurgo ser eficiente, a concentração de fosfina deve ser de pelo menos 440 ppm por pelo menos 120 horas. A medição da concentração da fosfina durante a operação deve ser feita com equipamentos medidores.
Resistência das pragas aos inseticidas
A resistência aos inseticidas é um dos maiores problemas do controle de pragas. Existem relatos de resistência em mais de 500 espécies de insetos e ácaros.
Quanto às pragas de produtos armazenados no Brasil, algumas espécies possuem grande relevância. Dentre as pragas de grãos armazenados com casos de resistência, podemos destacar as espécies Rhyzopertha dominica, Sitophilus oryzae, Sitophilus zeamais, Tribolium castaneum, Cryptolestes ferrugineus, Oryzaephilus surinamensis. Dessa forma, destacamos a grande necessidade de se realizar o manejo integrado de pragas no armazenamento.
Controle biológico de pragas de grãos e sementes armazenados
Como o controle químico é muito comum em armazéns, e devido à ausência de plantas hospedeiras para manter alguns inimigos naturais das pragas, o controle biológico não é tão adequado nestes ambientes. Alguns estudos apontam a tolerância de alguns inimigos naturais das pragas aos inseticidas usados nestes ambientes. Porém, ainda faltam mais estudos para se determinar organismos e protocolos para o controle biológico em armazéns. A liberação de parasitóides em grandes quantidades nos armazéns deve ser muito bem estudada, pois envolve a necessidade de se manter uma população mínima do hospedeiro no ambiente.
Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo
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