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Como controlar os percevejos na soja?

Leia sobre o manejo integrado dos percevejos verde, verde pequeno e marrom na soja.


Os percevejos sugadores reduzem o rendimento e qualidade da semente de soja devido às picadas e transmissão de doenças, causando danos irreversíveis. Os grãos atacados por essas pragas ficam menores, chochos e enrugados, ficando mais escuros. A má formação das vagens e grãos causam a retenção das folhas, que não amadurecem na época da colheita.

Dentre os percevejos mais importantes nesse aspecto, temos a Nezara viridulaPiezodorus guildinii e Euschistus heros

 

Percevejo verde - Nezara viridula

Mais comum no sul do Brasil, o percevejo verde é totalmente verde quando adulto. Os ovos são amarelados, normalmente encontrados na face inferior das folhas, unidos em massas regulares, semelhantes a colméias.


Ovos de percevejo verde. Imagem: Embrapa.

As ninfas possuem coloração preta com manchas brancas sobre o dorso, e ficam sempre agregadas e não causam danos à planta inicialmente. Porém, a partir do 3º ínstar, se alimentam dos grãos de soja, causando prejuízos.

Essa praga é polífaga, e no norte do Paraná, completa três gerações na cultura, e posteriormente usa outras plantas hospedeiras até completar seis gerações e colonizar novamente a soja. No resto da região sul, após a colheita de soja, o percevejo hiberna em abrigos, adquirindo coloração castanho arroxeado.


Percevejo verde adulto.

 

Percevejo verde pequeno - Piezodorus guildinii

Essa espécie possui ampla distribuição geográfica no Brasil. O adulto possui cor verde amarelada, com uma listra transversal marrom avermelhada no tórax, próxima à cabeça.

 

Os ovos são pretos, e diferentemente dos ovos do percevejo verde (Nezara viridula), os ovos do percevejo verde pequeno são colocados em fileiras pareadas, com 10 a 20 ovos por postura (imagem abaixo). Os ovos são depositados preferencialmente nas vagens, mas também podem ser colocados nas folhas, caule ou ramos.


Ovos de percevejo verde pequeno em vagem de soja. Imagem: Embrapa.

 

Percevejo marrom - Euschistus heros

O percevejo marrom é bem adaptado ao clima quente, sendo bastante comum do norte do Paraná ao Centro Oeste brasileiro. O adulto possui coloração marrom-escuro, com dois "espinhos" (prolongamentos laterais) no pronoto.

 

Os ovos do percevejo marrom são colocados em pequenas massas de cor amarela, com 5 a 8 ovos em média por massa de ovos, que ficam com mancha rósea próximo à eclosão das ninfas. São depositados geralmente nas folhas ou vagens de soja. As ninfas causam danos às sementes entre o 3º e 5º ínstar. 

O percevejo marrom se alimenta de um número menor de espécies de plantas quando comparado aos outros percevejos na soja. Pode se alimentar também de amendoim-bravo, e após a colheita, podem se alimentar de outras plantas hospedeiras, e entram em dormência na palhada da cultura anterior, ficando protegido de parasitoides e predadores.

 

Outros percevejos

Existem outros percevejos da família Pentatomidae, com menor abundância, que atacam grãos de soja, como o Dichelops furcatus (percevejo-barriga-verde), Edessa meditabunda (percevejo Edessa), Thyanta perditor (percevejo Tianta ou Neotropical) e espécies do gênero Acrosternum. Apesar dessas espécies não formarem uma população que ameace a produtividade e a qualidade da soja, seus danos se somam aos das demais espécies.

 

Controle de percevejos na soja

O controle químico dos percevejos na soja é feito quando se observa quatro percevejos adultos ou ninfas com mais de 0,5 cm, em média, por pano-de-batida, ou dois percevejos em lavouras para produção de sementes. Os percevejos podem estar presentes em diversas etapas do ciclo da soja, mas causam danos apenas durante o desenvolvimento de vagens e enchimento de grãos.

É comum ocorrerem altas populações de percevejos durante o período vegetativo, mas não representam risco para os grãos e não será essa a população que irá colonizar a lavoura a partir do final da floração.

O uso de cultivares de soja em diferentes estádios de maturação faz com que as primeiras lavouras colhidas possam servir de inóculos dos percevejos para as lavouras seguintes. A migração dos insetos nesse caso pode ser intensa e rápida, causando danos irreversíveis, sendo necessária especial atenção nesses casos.

Quando ocorrem populações de percevejos concentradas nas bordas da lavoura, o controle pode ser feito apenas nessas áreas, evitando a dispersão dos insetos para o resto da lavoura. Evitar ao máximo a repetição de inseticidas do mesmo grupo químico, evitando o surgimento de mais casos de resistência.

 

Uso de inseticidas com sal-de-cozinha para o controle de percevejos na soja

O uso de cloreto de sódio (sal de cozinha) com metade da dose de inseticida é uma alternativa econômica para o controle de percevejos. Deve-se usar 0,5% de solução de sal, ou seja, 500g de sal de cozinha para cada 100 litros de água colocados no tanque em pulverização terrestre, ou, no caso de aplicação aérea, 0,75% de concentração de sal.

Elabora-se uma salmoura separada, que deve ser misturada à água do pulverizador, e posteriormente, mistura-se com o inseticida. Lavar as partes do equipamento com água e sabão neutro após a pulverização, pois o sal causa corrosão.

 

Controle biológico de percevejos com Trissolcus basalis

A vespa Trissolcus basalis é uma importante agente de controle biológico para percevejos, e, apesar de ser uma espécie de ocorrência comum em lavouras de soja, o uso de inseticidas reduz drasticamente sua população. Dessa forma, recomenda-se liberar essa espécie na lavoura em áreas onde o controle foi feito com produtos biológicos.

Recomenda-se aplicar cerca de 5000 adultos de T. basalis por hectare, mas também pode-se fazer a liberação através de ovos parasitados, em cartelas de papelão, usando três cartelas/ha. O melhor momento para liberar as vespinhas para controlar os percevejos é no final da floração, preferencialmente em períodos de menor insolação. Nesse momento os percevejos estão iniciando a colonização nas bordas da lavoura. Fazer o monitoramento das pragas na lavoura após a liberação das vespas.

Não deve-se aplicar as vespas quando:

i) Não houver percevejos na cultura na cultura (a vespa precisa do hospedeiro para se multiplicar);
ii) A população de percevejos já estiver próxima do nível de dano econômico de 4 percevejos/pano, e;
iii) Tenha sido aplicado produto não seletivo para o controle de lagartas.

Pode-se realizar também o controle biológico com Telenomus podisi, que são parasitoides de ovos, para o controle do percevejo-marrom (E. heros).

Como as vespinhas são suscetíveis aos inseticidas, recomenda-se o controle biológico em áreas contínuas de microbacias hidrográficas, onde a vegetação nativa serve de refúgio para esses inimigos naturais.

 

Outras formas de controle para percevejos

Dentre outras formas de controle podemos citar o uso de cultivares precoces, que podem escapar dos danos dos percevejos, mas possibilitar a sua multiplicação, pois, na colheita dessas lavouras os percevejos migram para lavouras mais tardias, que serão danificadas. Assim, recomenda-se evitar cultivos mais tardios.

O percevejo marrom, durante a entressafra, permanece nos restos culturais da cultura anterior. Dessa forma, devemos examinar esses restos culturais, e, caso constatarmos a presença dos percevejos, realizar a eliminação enterrando a palha ou aplicando inseticidas.

 

Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo

 

Referências:

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CORRÊA-FERREIRA, B.S.; PANIZZI, A.R. Percevejos da soja e seu manejo. Londrina: EMBRAPA-CNPSo, 1999. 45p. (EMBRAPA-CNPSo. Circular Técnica, 24).

CORSO, I.C. Uso de sal de cozinha na redução da dose de inseticida para controle da soja. Londrina: EMBRAPA-CNPSo, 1990. 7p. (EMBRAPA-CNPSo. Comunicado Técnico, 45).

GAZZONI, D.L. Efeito de populações de percevejos na produtividade, qualidade da semente e característica agronômica da soja. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.33, n.8, p.411-424, 1998.

GAZZONI, D.L. Manejo de pragas da soja: uma abordagem histórica. Londrina: EMBRAPA-CNPSo / Brasília: EMBRAPA-SPI, 1994. 72p.

GAZZONI, D.L.; YORINORI, J.T. Manual de identificação de pragas e doenças da soja. Brasília: EMBRAPA-SPI, 1995.128p (Manuais de Identificação de Pragas e Doenças, 1).

OLIVEIRA, L.J.; MALAGUIDO, A.B.; NUNES JR., J.; CORSO, I.C.; ANGELIS, S. de; FARIA, L.C. de; HOFFMANN-CAMPO, C.B.; LANTMANN, A.F. Percevejo-castanho-da-raiz em sistema de produção de soja. Londrina: Embrapa Soja, 2000. 44p. (Embrapa Soja. Circular Técnica, 28).

SOSA GÓMEZ, D.R.; MOSCARDI, F. Retenção foliar diferencial em soja provocada por percevejos (Heteroptera: Pentatomidae). Anais da Sociedade Entomológica do Brasil, Londrina, v.24, n.2, p.401-404, 1995.

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