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Controle (manejo integrado) do percevejo-barriga-verde (Dichelops spp.)

Leia sobre o manejo integrado do percevejo-barriga-verde.


Existem duas espécies mais conhecidas de percevejo barriga-verde: Dichelops furcatus e Dichelops melacanthus, e ambos incidem em diversas espécies de plantas. Dichelops furcatus ocorre principalmente em Santa Catarina e Rio Grande do Sul, enquanto Dichelops melacanthus é mais frequente em locais com latitudes menores. Essas pragas causam danos em lavouras de soja, trigo e milho.

O percevejo é uma praga secundária na soja e não causa prejuízos significativos na cultura, mas a praga se estabelece na entressafra, causando danos significativos nas culturas sucessoras, como o milho ou trigo. Durante o final do ciclo da soja, o percevejo encontra condições ideais para o seu desenvolvimento. A palhada da soja cria um microclima favorável para a praga, se abrigando na palhada pós-colheita, e se alimentando dos grãos caídos de soja e da seiva de plantas espontâneas e invasoras, aumentando assim a sua população.

No milho, a praga pode causar danos sérios entre a germinação até a emissão do quinto par de folhas. Já quando o ataque ocorre em plantas com mais de cinco folhas, o estilete bucal do inseto não atinge o meristema apical da planta, causando apenas danos inexpressivos.

Os percevejos se alimentam do ponto de crescimento das plantas, deixando-as murchas, com crescimento retardado e com as folhas do cartucho secas, que se desenvolvem parcialmente enroladas, mal-formadas e com perfurações circundadas por áreas amareladas (imagem abaixo). Como a planta possui o seu crescimento reduzido, acaba ficando sombreada por outras plantas, reduzindo a sua produtividade.


Folha de milho danificada por percevejo barriga-verde. Imagem: Embrapa Trigo.

 

As plantas atacadas emitem maior número de perfilhos, e têm o seu crescimento e produtividade reduzidos, principalmente quando o ataque ocorre entre o alongamento do caule e presença de grão leitoso, deformando e secando as espigas e formando grãos chochos. Nesses casos, o trigo perde cerca de 1 saco por hectare para cada dois percevejos por metro quadrado da lavoura, em média.

Quando adulto, o percevejo-barriga-verde mede entre 9 e 12 mm de comprimento, com o dorso marrom-acinzentado e a parte ventral verde-clara, o que confere o nome comum "barriga-verde". As espécies possuem uma expansão pontiaguda em cada lado do tórax.

As fêmeas ovipositam entre 10 e 15 ovos por postura, agrupados em fila e possuem cor verde-clara. Em aproximadamente três dias após a postura, os ovos apresentam tuas manchas avermelhadas, e tornam-se escuros ao fim da incubação, que dura cerca de 6 dias.

 

Monitoramento

Para controlar o percevejo-barriga-verde no milho e trigo, deve-se controlá-lo no cultivo da soja. Inclusive, deve-se verificar o nível de infestação dos percevejos na lavoura antes de implantar as lavouras de milho e trigo.

Para detectarmos a incidência da praga na área, medimos 500 ml (aproximadamente 300g) de grãos de soja, colocamos em recipiente com água limpa por 15 minutos, escorremos a água, e posteriormente adicionamos meia colher de café de sal de cozinha e misturar. Após, posicionamos porções de 30g dessa isca sobre o solo ao fim da tarde, em dez pontos por talhão, seguindo a linha de maior extensão diagonal de cada área.

A análise das iscas é feita após 24 horas. Caso ocorra percevejos em duas das dez armadilhas, o risco de dano das pragas será baixo, recomendando-se apenas o tratamento de sementes com inseticidas sistêmicos. Caso ocorra a presença das pragas em três a cinco armadilhas, o dano causado na lavoura poderá ser moderado. Nesse caso, além do tratamento de sementes, recomenda-se monitorar frequentemente a presença da praga na lavoura. Se houver mais de cinco armadilhas com presença do percevejo, o risco será algo, devendo-se aplicar inseticidas antes da semeadura.

O monitoramento dos percevejos em lavouras deve ser feito no início da manhã (pois a praga se esconde nas horas mais quentes), na base da planta, em pelo menos dez locais espalhados em cada talhão.

Em lavouras de trigo, é indicado o controle na presença média de 4 percevejos / m² no período vegetativo ou 2 percevejos / m² no período reprodutivo. Já no milho, entre a germinação e o estádio de cinco folhas, recomenda-se o controle quando houver, em média, 0,58 percevejo / m² ou mais. Deve-se dar bastante atenção na fase inicial de desenvolvimento das plântulas, pois, nessa etapa, mesmo com as sementes tratadas, um único percevejo pode danificar várias plantas de milho até ser controlada pelo inseticida.

 

Controle do percevejo-barriga-verde

Algumas medidas devem ser tomadas para controlar o percevejo-barriga-verde. Deve-se reduzir as perdas na colheita da soja e promover bom controle das plantas daninhas, pois os grãos caídos no solo, junto com ervas daninhas (principalmente a trapoeraba) servem de alimento para a praga na entressafra. Inseticidas aplicados na dessecação podem não ser efetivos, devido ao efeito guarda-chuva. Pode ser mais interessante aplicar após o plantio antes da emergência.

Em casos de alta infestação, recomenda-se o tratamento de sementes junto com inseticidas na parte aérea da cultura (aplicados até uma semana após a emergência). Evitar aplicações à noite, em dias chuvosos ou após a chuva, e em temperaturas amenas ou frio. Realizar o controle até V4. Recomenda-se alternar os princípios ativos dos inseticidas para reduzir o surgimento de insetos resistentes.

Recomenda-se evitar o uso desnecessário de inseticidas, pois estes produtos eliminam também os inimigos naturais dos percevejos, efeito que se acumula ao longo do tempo.

O controle biológico também pode ser feito, usando inimigos naturais como a microvespa Telenomus posidi, que além de parasitar os ovos do percevejo-barriga-verde, também parasita ovos do percevejo marrom (Euschistus heros) e percevejo-verde-pequeno (Piezodorus guildinii).

Por último, ressaltamos também a importância da adubação equilibrada. Uma planta desequilibrada nutricionalmente terá maior chance de ser atacada por pragas, ainda que esse desequilíbrio não seja observado em uma análise visual.

 

Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo

 

Referências:

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