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Como controlar o nematoide-de-cisto-da-soja com adubação verde / plantas de cobertura

Entenda o controle do nematoide-de-cisto-da-soja com plantas de cobertura.



O Heterodera glycines, conhecido como o nematoide-de-cisto-da-soja, é um dos mais importantes problemas fitossanitários na soja, atingindo mais de 2 milhões de hectares da cultura. O manejo do nematoide geralmente é feito com cultivares resistentes, rotação e sucessão de culturas, porém, em testes a campo, o uso de cobertura verde mostrou ótimos resultados para o controle da densidade populacional do nematoide.

Abaixo, vamos ler sobre algumas espécies de cobertura verde que podem ser usadas para controlar o nematoide-de-cisto-da-soja. Vale lembrar que o nematoide-de-cisto-da-soja possui diferentes raças fisiológicas, assim, determinadas plantas podem promover o controle de determinadas raças, mas não controlar outras.

 

Uso de crotalárias para o controle do nematoide-de-cisto-da-soja (Heterodera glycines)

Os juvenis de estádio J2 de H. glycines muitas vezes penetram nas raízes de fabáceas, mesmo das espécies não hospedeiras. Quando ocorre penetração em algumas espécies de Crotalaria, o desenvolvimento do nematoide é parcialmente ou até totalmente inibido, resultando em baixa reprodução ou supressão. Assim, estas plantas atuam como plantas-armadilhas para o nematoide.

Um estudo feito com juvenis de H. glycines (raça 3), avaliando as raízes de C. paulina, C. spectabilis, C. striata e C. juncea, inoculou 4200 ovos nas plantas. Apenas na C. juncea o nematoide atingiu o estádio de fêmea adulta, ainda assim, em número inferior a 10% do que o observado em cultivar de soja suscetível. Nas outras crotalárias, não foi atingido o estádio de fêmea adulta.

Um outro estudo avaliou as espécies de crotalária C. paulina, C. striata, C. anagyroides, C. spectabilis, C. juncea, C. breviflora, C. retusa e C. ochroleuca para o controle de H. glycines (raça 10). Apesar da penetração do nematoide nas raízes, os nematoides atingiram os estádios J3 e J4 apenas em C. retusa, C. juncea e C. ochroleuca. Posteriormente, fêmeas adultas e ovos foram observados apenas nas raízes de C. retusa e C. ochroleuca, em quantidades muito reduzidas (4,7% e 3,2% da quantidade observada em soja "FT Cristalina"). Assim, as outras crotalárias podem ser consideradas como armadilhas para o controle de H. glycines.

Como existem várias opções de culturas de sucessão e rotação para o controle do nematoide-de-cisto-da-soja, as crotalárias são pouco usadas, exceto para casos em que se pretende controlar também o nematoide-das-lesões (Pratylenchus brachyurus). Normalmente, C. spectabilis é a mais utilizada para consórcio com milho, e C. ochroleuca com as braquiárias. Uma prática que vem sendo feita é misturar sementes de crotalárias com outras plantas de cobertura, obtendo mais biomassa (e consequentemente palhada), e favorecendo a atividade microbiológica do solo.

 

Uso de mucunas para o controle do nematoide-de-cisto-da-soja (Heterodera glycines)

Um estudo conduzido em casa-de-vegetação verificou que dois acessos de mucuna-preta não são hospedeiras da raça 14 de H. glycines, pois não ocorreu a formação de fêmeas adultas, ainda que os juvenis (J2) tenham penetrado nas raízes. A mucuna, além de atuar como uma planta armadilha, também promove mudanças na microflora do solo associada às raízes da mucuna, alterando a comunidade microbiana na rizosfera, o promove a supressão do nematoide. Além disso, as raízes ou parte aérea produzem elementos químicos que podem apresentar ação nematicida.

Outro estudo avaliou a rotação de soja com outros adubos verdes, e foi observado efeito supressivo da mucuna sobre a população de nematoide-de-cisto-da-soja e outros nematoides, além de aumentar a produtividade da cultura. Outro teste também foi realizado com soja, com 1 ou 2 anos de mucuna antecedendo a cultura, o que resultou em supressão significativa do adubo verde nas populações mistas de H. glycines e Meloidogyne spp.

 

Uso de guandu e poáceas para o controle do nematoide-de-cisto-da-soja (Heterodera glycines)

Ainda que o nematoide-de-cisto-de-soja consiga completar seu ciclo no guandu, penetrando nas raízes mais do que na soja, apenas um número muito pequeno de fêmeas é formado. Semelhante ao que ocorre com a mucuna-preta, as raízes de guandu lixiviam elementos que estimulam a eclosão do nematoide. Tais efeitos foram observados principalmente em casa-de-vegetação, sendo necessário mais estudos em condições de campo.

Já a poácea grama-batatais é bastante recomendada para o controle do nematoide-de-cisto-da-soja nos Estados Unidos.

 

Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo

 

Referências:

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