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Biofertilizantes - nutrição e controle de pragas e doenças

Leia sobre o uso de biofertilizantes para a nutrição e controle de pragas e doenças.


O que é biofertilizante?

Biofertilizantes são produtos formados por microrganismos vivos, que melhoram a fertilidade do solo, hormônios vegetais, que melhoram o desenvolvimento das plantas, além de promover a resistência a estresses ambientais, álcool e fenol, que ajudam as plantas a desenvolverem suas células, e nutrientes. Estes produtos podem ser produzidos nas propriedades ou podem ser comercializados. São uma alternativa aos fertilizantes químicos, e além de nutrir a planta e melhorar as condições do solo, aumentam a resistência às pragas e doenças.

Quando elaborados na propriedade, podem ser usados diversos ingredientes disponíveis, como leite, esterco, cinzas, caldo de cana etc. Esse material pode ser enriquecido com pó de rocha, microrganismos etc.

Os biofertilizantes possuem concentrações variadas de diversos nutrientes, tanto macro quanto micronutrientes, além de possuírem moléculas orgânicas benéficas, como vitaminas, enzimas, proteínas, bactérias benéficas e antibióticos naturais.

Esses são alternativas aos fertilizantes químicos, e além de nutrir a planta e melhorar as condições do solo, aumentam a resistência às pragas e doenças.

 

Benefícios dos biofertilizantes

Estima-se que aproximadamente 97% dos microrganismos conhecidos sejam benéficos, trazendo benefícios que auxiliam na produção da cultura:

  • Melhora a resistência a estresses abióticos e bióticos: microrganismos podem reduzir os prejuízos do estresse hídrico, interferindo na fisiologia da planta ou produzindo substâncias que hidratam as raízes. Além disso, microrganismos promovem controle biológico de pragas e doenças. Os gêneros Bacillus e Beauveria, por exemplo, podem controlar pragas, ao passo que os gêneros Bacillus, Purpureocilium e Trichoderma podem controlar doenças; 
  • Aumenta a produtividade e valoriza o produto;
  • Promove o crescimento de plantas, pois auxiliam na nutrição, no controle de patógenos e na melhoria de processos metabólicos;
  • Melhora a fixação de nitrogênio, a disponibilidade e absorção de nutrientes: no caso do nitrogênio, alguns microrganismos aumentam a nodulação do nitrogênio no solo, além de liberar nutrientes contidos nos minerais do solo. Além disso, os microrganismos produzem hormônios que estimulam o desenvolvimento das raízes e auxiliam na absorção de água e nutrientes.
  • Melhora os atributos químicos, físicos e biológicos do solo: os microrganismos do solo melhoram a porosidade (macroporos e microporos) do solo, melhorando a distribuição de ar e água, melhorando as características físicas do solo, além de melhorar o espaço para o desenvolvimento de raízes. Além disso, melhoram as características químicas e biológicas, conforme explicado acima;
  • Degradação de contaminações: alguns microrganismos do solo conseguem transformar substâncias contaminantes em fontes de energia, eliminando ou removendo esses compostos, processo chamado de "biorremediação"
  • Promove o desenvolvimento do sistema radicular;
  • Captura o carbono no solo.

 

Como preparar biofertilizantes?

Os biofertilizantes podem ser feitos com a presença de ar (forma aeróbica) ou na ausência de ar (forma anaeróbica).

Na fermentação aeróbica, o biofertilizante é preparado em um tanque ou tambor que é coberto, evitando a presença de água da chuva. Não deve ficar muito exposto ao sol, mas não deve-se vedar, mantendo uma entrada de ar. O conteúdo do tambor deve ser agitado sempre que possível. Utilizar somente água não clorada, manter o tambor em área ensolarada. A temperatura ideal para produzir biofertilizante é de 26 a 32ºC. O caldo deve borbulhar, o que significa que a produção do biofertilizante está ocorrendo, e quando o borbulhamento diminuir, cerca de 30 dias após, o processo se encerrou.

Na fermentação anaeróbica, o tambor é fechado com tampa, ficando um espaço de pelo menos 20 centímetros entre a tampa e o líquido, onde ficarão gases formados pela fermentação. Para evitar o estouro do tambor deve-se inserir uma mangueira plástica na tampa do tambor, vedando bem para o ar não entrar, e submersa em balde / garrafa com água, para que o ar possa escapar na água, fazendo-a borbulhar. O processo dura entre 20 a 40 dias, acabando quando cessar o borbulhamento da água da garrafa, o que significa quando parou de sair gases pela mangueira.

Após o preparo dos biofertilizantes, os mesmos devem ser coados.

 

Receita de biofertilizante para pomares e hortaliças

Ingredientes:

  • 50 kg de esterco bovino fresco;
  • 5 kg de cinzas de madeira (atua como corretiva e fonte de potássio);
  • 4 kg de melaço de cana ou açúcar mascavo;

Colocar 100 a 120 litros de água em tambor de 200 litros, e depois adicionar todos os ingredientes, mexendo bem e deixando fermentar por 30 a 40 dias. Apenas cobrir o tambor sem vedar, para não ficar diretamente exposto ao sol / chuva, mas deixando o ar circular (fermentação aeróbica).

Misturar 1 a 2 litros de biofertilizante coados com 100 litros de água e pulverizar nas plantas.

 

Receita de biofertilizante com materiais disponíveis em propriedade rural

Feito com estercos animais (de preferência o bovino devido à maior presença da bactéria Bacillus subtilis, que previne e controla diversas doenças), enriquecidos com outros materiais comuns na propriedade rural.

Ingredientes:

  • 50 a 80 kg de esterco de gado;
  • 1 kg de folhas verdes (plantas medicinais, leguminosas, urucum, embaúba, entre outras);
  • Cinzas;
  • Melaço ou açúcar;
  • Água

Receita 1: colocar 50 a 80 kg de esterco de gado fresco em tambor de 200 litros, e completar o resto com água (esta não é enriquecida);

Receita 2: 40 kg de esterco fresco + 1 a 2 kg de folhas verdes de plantas como leguminosas (feijão-de-porco, ingá, etc.), embaúba, urucum, medicinais etc. Adicionar água

Receita 3: 50 kg de esterco de gado fresco + cinzas + água.

Adicionar melaço ou açúcar mascavo favorece a fermentação.

A aplicação pode ser feita:

  • Nas folhas, diluindo 1 a 4 litros de biofertilizante em 100 litros de água;
  • No pé das árvores, aplicando 300 ml de biofertilizante (sem diluição) a cada 15 dias;
  • No solo, diluindo 10 litros de biofertilizante em 100 litros de água, aplicando a cada 15 dias no meio das linhas de cultivo. O biofertilizante se acumula no solo, e assim, deve-se reduzir as dosagens nos períodos e cultivos subsequentes.

 

Receita de calda biofertilizante

Serve como adubo foliar e promove resistência às pragas e moléstias.

Ingredientes:

  • 10 litros de esterco fresco;
  • 3 litros de esterco de galinha;
  • 500 gramas de açúcar;
  • Água.

Adicionar 10 litros de esterco de curral em recipiente de 20 litros, junto com o esterco de galinha e açúcar. Completar com água (sem transbordar), fechar sem vedar e deixar por 5 dias.

Para aplicar, diluir 1 litro de calda com 10 litros de água.

 

Receita de biofertilizante de urina de vaca

A urina da vaca contém quantidades de nutrientes superiores ao esterco, fenóis e hormônios, que nutrem as plantas e melhoram a sua defesa. A urina pode ser coletada durante a retirada do leite, quando a vaca geralmente urina. Em um recipiente fechado, a urina pode ser armazenada por até 1 ano sem perder o efeito.

A urina deve ser armazenada por 3 dias ou mais, em vasilhames bem fechados, como por exemplo garrafas pet de 2 litros, de forma que a urina vire amônio. Após, misturar 200 ml de urina em 20 litros de água, e pulverizar nas plantas a cada 15 dias, ou, no caso do alface, aplicar no solo duas vezes durante o ciclo da cultura.

 

Receita de biofertilizante de urina de vaca enriquecida

Ingredientes:

  • 200 ml de urina de vaca;
  • 20 litros de água;
  • 50 g de sabão neutro;
  • 100 g de farinha de trigo.

Dissolver a farinha de trigo em 1 litro de água. Paralelamente, dissolver 50 g de sabão neutro em 1 litro de água quente. Adicionar os 18 litros de água restantes às duas caldas previamente coadas, e adicionar, por fim, os 200 ml de urina de vaca. Pulverizar as folhas das culturas nas horas mais frescas do dia.

Observe abaixo indicações desse fertilizantes para algumas culturas:

  • Abacaxi: para até 4 meses de idade, usar concentração de 100 litros de água e 1 litro de urina, aplicando uma vez ao mês. A partir dos 4 meses de idade até a antes da indução e floração, usar 2,5 litros de urina para 100 litros de água. Suspender a aplicação antes da indução da floração, voltando a aplicar apenas após o avermelhamento das plantas;
  • Tomate, pimentão, pepino, feijão de vagem, alface e couve: usar 100 litros de água para meio litro de urina, aplicando uma vez por semana;
  • Berinjela, jiló e quiabo: usar 100 litros de água para um litro de urina, aplicando a cada 15 dias.

 

Cuidados ao usar biofertilizantes

  • Manter o biofertilizante longe de alimentos / rações;
  • Manter o biofertilizante afastado de animais e crianças;
  • Filtrar o biofertilizantes antes do uso, evitando entupimentos dos equipamentos;
  • Se houver entupimento de bicos, orifícios ou válvulas dos pulverizadores, não desentupi-los com a boca;
  • Utilizar EPI ao aplicar biofertilizantes;
  • Não utilizar equipamentos com vazamentos;
  • Não aplicar com ventos fortes ou contra o sentido do vento;
  • Aplicar nas horas menos quentes do dia (no início da manhã ou fim da tarde);
  • Não misturar receitas na mesma aplicação;
  • Fazer intervalo de um ou mais dias entre as aplicações de receitas diferentes;
  • Para o controle de pragas e/ou doenças, optar por produtos com menores efeitos sobre inimigos naturais das pragas.

 

Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo

 

Referências:

ANDRADE, L.N.T.; NUNES. M.U.C. Produtos alternativos para controle de doenças e pragas em agricultura orgânica. Aracaju: Embrapa-Tabuleiros Costeiros, 2001. 20p. (Embrapa Tabuleiros Costeiros. Documentos, 281.

AYRES, M. I. da C.; PUENTE, R. J. A.; NETO, J. G. F.; UGUEN, K.; ALFAIA, S. S. Cartilha para Produtores Familiares - DEFENSIVOS NATURAIS: Manejo alternativo para "pragas" e doenças. Manaus: INPA, 2020. 34 p.

BARCELLOS, L.A.R. Avaliação do potencial fertilizante do esterco líquido de bovinos. Santa Maria, 1991. 108p. Dissertação (Mestrado em Agronomia) - Universidade Federal de Santa Maria/RS.

EMBRAPA et al. MANUAL DE CALAGEM E ADUBAÇÃO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. 1. ed. Brasília, DF: Editora Universidade Rural, 2013.

KIEHL, Edmar José. Fertilizantes orgânicos. Piracicaba, SP: Ceres, 1985. 492 p.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIÊNCIA DO SOLO. Manual de Adubação e de Calagem Para os Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. 10. ed. Porto Alegre: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2004.

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