Tudo sobre o manejo integrado de plantas daninhas
Leia sobre o manejo integrado de plantas daninhas e seus métodos de controle destas plantas.
Manejo integrado
O Manejo Integrado de Plantas Daninhas é o uso de dois ou mais métodos de controle destas plantas. É comum nos depararmos com situações em que os produtores usam apenas defensivos para o controle de plantas daninhas, porém, o uso de mais métodos torna o controle mais eficiente, além de causar menores prejuízos ambientais, reduzir o custo de produção e dar mais segurança ao trabalhador rural e ao consumidor final.
O manejo integrado associa a prevenção com métodos de curto (físicos, químicos e mecânicos) e longo prazo (biológico e cultural). Plantas daninhas anuais geralmente são controladas com herbicidas ou capinas, porém, plantas daninhas perenes, como a tiririca, são mais difícil de controlar, sendo necessário, muitas vezes, a integração de diferentes métodos de controle. Vamos ler abaixo sobre o controle das plantas daninhas!
Controle de plantas daninhas
O controle das plantas daninhas busca reduzir a infestação, sem necessariamente eliminar completamente as plantas. A redução é feita até o ponto em que as perdas por interferência sejam iguais ao custo de controle
Muitas vezes o controle das plantas daninhas deve ser feito antes da instalação da cultura ou até na safra anterior. O período crítico de competição com as plantas daninhas ocorre a partir da semeadura ou da emergência da cultura, momento em que as plantas daninhas devem ser controladas de forma efetiva, pois neste período, causam significativas perdas quantitativas e/ou qualitativas na produtividade.
Para realizar o controle, deve-se conhecer as espécies de plantas daninhas para elaborar a técnica de controle.
Controle de plantas daninhas antes da semeadura
Muitas vezes é necessário iniciar o controle das plantas daninhas antes da semeadura, realizando técnicas como:
- Escolha da área: optar pelo cultivo em áreas livres ou com baixa infestação de plantas daninhas, ou em áreas onde as espécies sejam de fácil controle;
- Preparo antecipado do solo: busca estimular a emergência de plantas daninhas que serão controladas mecanicamente ou quimicamente antes da semeadura;
- Preparo do solo: visa eliminar as plantas daninhas estabelecidas, deixando o solo favorável às sementes e à aplicação de herbicidas de pré-plantio incorporado / pré-emergência;
- Uso de cobertura morta e semeadura em época favorável à germinação: proporciona o rápido estabelecimento da cultura e reduz a germinação de plantas daninhas.
No sistema de plantio direto a dessecação pré-semeadura elimina as plantas estabelecidas, formando uma cobertura morta que inibe as plantas daninhas, inibindo passagem de luz, temperatura e umidade do solo, além de possíveis efeitos alelopáticos que inibem a germinação e estabelecimento dessas plantas.
Métodos de controle de plantas daninhas
Buscamos suprimir / reduzir o crescimento e número de plantas daninhas para níveis que não causem prejuízos. São utilizados métodos de controle que podem ser classificados em:
- preventivo;
- cultural;
- mecânico;
- físico
- químico;
- biológico.
O manejo integrado de plantas daninhas usa mais de um método de controle, aumentando a eficiência do controle e podendo diminuir o impacto ambiental e custo financeiro. Abaixo, vamos ler sobre cada um desses métodos.
Controle preventivo
A prevenção busca reduzir ou não aumentar o banco de propágulos de plantas daninhas no ambiente, limitando a entrada de estruturas reprodutivas de plantas daninhas na área e limitando a disseminação de espécies de plantas daninhas presentes na área. Podemos destacar alguns métodos:
- Limpar as ferramentas, implementos, equipamentos e máquinas utilizadas, principalmente quando são deslocadas de uma área para outra;
- Limpar roupas, sapatos e EPI's antes da entrada na lavoura;
- Usar sementes e mudas certificadas, evitando a presença de sementes de plantas daninhas no lote de sementes ou mudas com presença de sementes;
- Usar esterco muito bem fermentado, evitando a presença de sementes viáveis no material orgânico;
- Limpar os canais de irrigação;
- Ao levar animais de uma área para outra, mantê-los em quarentena. Os animais podem possuir sementes de plantas daninhas no aparelho digestório, que podem até ter sua dormência quebrada pela ação dos ácidos no intestino.
Controle cultural
O controle cultural visa usar o ambiente ou alguma técnica que estimule o crescimento da cultura, de forma a reduzir os danos das plantas daninhas. Esse controle se baseia nos fatos de que as primeiras plantas a ocupar uma área tendem a excluir as demais, e a espécie melhor adaptada predominará no ambiente. Podemos destacar as seguintes práticas:
- Uso de cultivares adaptadas e mais competitivas - existem cultivares, dentro da mesma espécie, que são mais ou menos competitivas, possuindo um crescimento inicial mais rápido ou maior enfolhamento. Geralmente, as cultivares que crescem e fecham as entrelinhas mais rápido (prejudicando o desenvolvimento de plantas daninhas) são as cultivares com menor ciclo.
- Redução do espaçamento - quando o espaçamento é menor, a cultura irá sobrear a entrelinha mais cedo, reduzindo o avanço das plantas daninhas. Porém, deve-se estar atento à interferência intraespecífica dentro da cultura, que é quando plantas da própria cultura se prejudicam entre si devido ao espaçamento insuficiente;
- Maior densidade de plantio - semelhante à redução do espaçamento, a maior densidade de plantio proporciona fechamento mais rápido da área, prejudicando o desenvolvimento de plantas daninhas.
- Correção do solo - neutralização do alumínio, correção do pH e adubação adequada favorecem a cultura e podem desfavorecer determinadas plantas daninhas;
- Sistemas de cultivo distintos - existem diferenças de manejo das plantas daninhas conforme o sistema de cultivo. O cultivo consorciado proporciona maior habilidade competitiva para as culturas através da maior e melhor exploração do solo, causando um sombreamento mais rápido;
- Plantas de cobertura - o uso de plantas de cobertura na entressafra é fundamental para impedir o aumento das sementes de plantas daninhas no solo. Podem ser usados adubo verde, cobertura verde, pastagem de inverno etc.
- Rotação de culturas - esta prática envolve o cultivo de diferentes espécies em uma mesma área, havendo culturas mais competitivas, culturas com efeitos alelopáticos, uso de herbicidas diferentes etc., dificultando a competitividade das plantas daninhas. Ocorre a quebra do ciclo de desenvolvimento das plantas daninhas.
Controle mecânico
Este tipo de controle é feito com instrumentos que arranquem ou cortem as plantas daninhas. Podemos destacar as práticas:
- Monda - a monda é o arranquio / corte das plantas daninhas usando as mãos. É uma prática muito trabalhosa e com baixo rendimento, sendo viável apenas em áreas pequenas e restritas;
- Capina - é o arranquio / corte manual das plantas com instrumentos como enxada, enxada-rotativa, rolo-faca etc. Pode ser manual (instrumento operado com as mãos) ou mecânica (com tração animal ou motorizada). A capina manual e a mecânica com tração animal possuem baixo rendimento, sendo viável em pequenas áreas com mão-de-obra onerosa, já a mecânica tratorizada possui um rendimento médio e é menos onerosa;
- Roçada - corte das plantas daninhas como instrumentos como roçadeiras elétricas / motorizadas, roçadeiras tratorizadas, foices, rolo-faca etc. Pode ser manual (instrumento operado com as mãos) ou mecânica (implemento acoplado ao trator). A roçada manual possui um rendimento médio, sendo utilizada em áreas com declive ou onde a entrada de máquinas é difícil. Já a roçada mecânica possui rendimento médio a alto, viável principalmente em lavouras perenes, tendo o custo dependente do consumo de combustível e manutenção da máquina / implemento, e não na mão-de-obra;
- Cultivo - é o arranquio das plantas através do revolvimento do solo feito por implementos cultivadores (arado de disco / aiveca, subsoladores etc.), chamado de cultivo mecânico, ou de cultivo manual quando o solo é preparado manualmente com enxada ou enxadão. O cultivo mecânico possui tração animal ou tratorizada, tendo a tratorizada maior rendimento, ao passo que o manual e o mecânico por tração animal possui rendimento médio-baixo é usado em pequenas áreas de agricultura familiar e/ou orgânica.
Controle físico
São usadas técnicas para realizar o controle físico das plantas daninhas, como:
- Fogo - queima da vegetação para controlar as plantas daninhas. É uma prática de uso limitado no Brasil;
- Inundação: usa-se água para controlar as plantas daninhas, sendo muito comum no arroz irrigado. As raízes ficam privadas de oxigênio, e quando não adaptadas a tal condição, acabam morrendo. É um método eficiente para espécies de difícil controle como grama-seda e tiririca.
- Cobertura morta - a cobertura morta proporciona alguns efeitos às plantas daninhas. Ocorre diminuição da absorção de luz pelas sementes de plantas daninhas, que acabam não germinando no caso das fotoblásticas positivas. Além disso, a cobertura atua como uma barreira física que impede a emergência. Podem ocorrer também efeitos alelopáticos oriundos das coberturas, suprimindo o crescimento ou até matando plantas daninhas. Porém, a cobertura morta melhora as condições biológicas do solo, que apesar de ser benéfico para o ambiente, pode auxiliar na quebra de dormência de algumas plantas daninhas.
- Solarização - consiste em cobrir o solo com um filme de polietileno, causando aumento de temperatura, matando as plantas ou o embrião dentro das sementes. É bastante utilizado no cultivo de hortaliças, possuindo alta eficiência. Não é uma prática recomendada em áreas infestadas com tiririca, pois essas plantas furam o filme ao emergirem;
- Controle térmico - é utilizado em ambientes aquáticos, com altas temperaturas que controlam plantas daninhas aquáticas.
Controle químico
Muito utilizados, são os herbicidas sintéticos usados para reduzir a infestação de plantas daninhas. Possuem algumas vantagens em relação aos outros métodos, como:
- Menor dependência de mão-de-obra;
- Prático, rápido e eficiente;
- Pode ser usado mesmo na linha de plantio, sem causar danos nas raízes das culturas (a depender da cultura e produto);
- Possibilita o cultivo mínimo e plantio direto;
- Pode controlar plantas daninhas de reprodução vegetativa.
Idealmente, esses defensivos deveriam ser usados como auxiliar aos demais métodos, mas por praticidade, diversas vezes os produtores usam apenas esse método, o que resulta em problemas como contaminação humana / ambiental e surgimento de plantas daninhas resistentes. Além disso, o controle químico possui algumas desvantagens como:
- Exige mão-de-obra mais técnica e qualificada;
- Pode causar poluição ambiental (solos, corpos d'água, flora, fauna etc.);
- Presença de resíduos de herbicidas em alimentos, trazendo riscos à saúde para humanos e animais;
- Presença de resíduos no solo, causando toxicidade às culturas seguintes;
- Risco de deriva;
- Desenvolvimento de plantas daninhas tolerantes / resistentes aos herbicidas.
Aplicação dos herbicidas
O controle químico pode ser feito com aplicações antes da semeadura com incorporação no solo (PSI), após a semeadura e antes da emergência das plantas daninhas (PRÉ) e após a emergência das plantas daninhas e da cultura (PÓS).
No caso de aplicação em PSI, alguns herbicidas devem ser incorporados no solo para não se degradarem com a radiação solar. Dessa forma, se forem aplicados no fim de tarde ou início da noite, podem ser incorporados até a manhã seguinte, mas caso sejam aplicados nas horas de maior incidência solar, devem ser incorporados o mais rápido possível. A aplicação com esses produtos são feitas com 15 a 20 dias de antecipação, em condições de seca, esperando-se a ocorrência de chuva para a semeadura.
Na pré-emergência, os herbicidas podem ser aplicados em mistura com dessecantes no sistema de plantio direto, ou após a dessecação ou preparo do solo. Podem ser aplicados também na pós-emergência.
Na aplicação em mistura com dessecantes no sistema de plantio direto, a operação é feita quando, durante a aplicação do dessecante, é necessário controlar plantas daninhas que germinam após a dessecação. Deve-se atentar a solubilidade do herbicida e retenção deste na palha. Na maioria das situações, não se recomenda o uso de dessecante junto com herbicida residual quando a cobertura verde ocupar mais de 30% da superfície do solo, pois a cobertura pode comprometer a eficácia do herbicida residual.
Na aplicação após a dessecação ou preparo do solo, a operação é feita após a implantação da cultura, na semeadura ou logo após a semeadura, antes da emergência da cultura e da planta daninha. No sistema de plantio direto, deve-se observar as características da cobertura morta sobre o solo, pois esta pode reter o produto, não permitindo o contato deste com o solo, comprometendo a eficácia do produto. Este efeito depende também das características físico-químicas dos produtos e da quantidade de chuva após a aplicação.
Já na aplicação em pós-emergência, deve-se observar o estádio de desenvolvimento da planta daninha, condições de aplicação, entre outros. Em cenários onde existem diversas plantas daninhas de folhas largas, muitas vezes são feitas misturas de produtos de forma a aumentar a eficácia e o espectro de controle das plantas daninhas, ainda que apenas as misturas comerciais possuam respaldo técnico.
Controle biológico
O controle biológico consiste em usar inimigos naturais (insetos, bactérias, fungos, aves etc.) para reduzir a população de plantas daninhas. O objetivo é atingir um equilíbrio populacional entre o inimigo natural e a planta daninha hospedeira. O controle biológico pode ser:
- Inoculativo (clássico) - é utilizado para controlar plantas daninhas introduzidas em novas áreas e que estejam separadas geograficamente dos inimigos naturais. Trata-se de uma estratégia de longo prazo para estabilizar a densidade dessas plantas. O inimigo natural não pode eliminar totalmente as plantas daninhas, mantendo hospedeiro para sobreviver, e não deve apresentar um hospedeiro alternativo. O inimigo é introduzido em massa e o impacto deve ser monitorado;
- Inundativo (bioherbicida) - trata-se da aplicação de um patógeno herbicida, como um fungo ou uma bactéria, através de métodos convencionais de aplicação, causando uma epidemia de doença nas plantas daninhas levando a sua morte. O bioherbicida não sobrevive nos restos vegetais, assim, deve ser reaplicado quando as plantas crescerem novamente;
- Aumentativo - geralmente usado com inimigos naturais de difícil produção em larga escala, aplicados periodicamente apenas nas partes das áreas que se busca o controle. Busca-se manter, anualmente, fonte de inóculo no ambiente liberando inimigos naturais endêmicos que causarão epidemias da doença na estação de cultivo.
Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo
Referências:
BLACK, C. C.; CHEN T. M.; BROWN, R. H. Biochemical basis for plant competition. Weeds, Champaign, v. 17, n.3, p. 338-344, 1969.
CARVALHO, L. B. de. Plantas Daninhas. 1. ed. Lages, SC: [s. n.], 2013. 90 p.
CORREIA, N. M.; REZENDE, P. M. de. Manejo integrado de plantas daninhas na cultura da soja. Lavras: Editora UFLA, 55p.
FLECK, N. G. Princípios do controle de plantas daninhas. Porto Alegre: UFRGS, 1992. 70p.
FONTES, J. R. A.; SHIRATSUCHI, L. S.; NEVES, J. L.; JÚLIO, L. de; SODRÉ FILHO, J. Manejo Integrado de Plantas Daninhas. Embrapa Documentos, Planaltina, DF, ed. 1, 2003.
RODRIGUES, B. N. Influência da cobertura morta no comportamento dos herbicidas imazaquin e clomazone. Planta Daninha, Campinas, v. 11, n. 1/2, p. 21-28, 1993.
VARGAS, L.; ROMAN, E. S. Manejo e controle de plantas daninhas na cultura da soja. Embrapa Documentos, [s. l.], n. 62, Setembro 2006.