CI

Plantas daninhas - entenda como e quando ocorrem os prejuízos

Entenda de que forma e em que situações ocorrem os prejuízos causados por plantas daninhas.


Nesta página iremos falar sobre como ocorrem os prejuízos causados por plantas daninhas. Caso você queira ler sobre o controle dessas plantas, clique aqui.

As plantas daninhas (também conhecidas como "plantas invasoras", "plantas infestantes", "plantas espontâneas" ou "mato") são aquelas plantas que crescem em um local / momento indesejado, e competem com as culturas por recursos, além de causar outros prejuízos. Quando essa competição ocorre no início do desenvolvimento da cultura, as perdas de produtividade podem ultrapassar 80%, chegando até a inviabilizar a colheita.

As plantas daninhas geralmente possuem características que favorecem a sua agressividade, tendo boa capacidade de desenvolvimento mesmo em ambientes mais hostis. Dentre estas características, podemos citar como as principais:

  • rápida germinação;
  • rápido crescimento inicial;
  • sistema radicular bem desenvolvido;
  • boa capacidade de absorver nutrientes e água;
  • uso eficiente de água;
  • produção de estruturas reprodutivas alternativas;
  • germinação em qualquer tipo de ambiente;
  • sobrevivência sob condições adversas;
  • grande produtividade, disseminação e longevidade de propágulos, mesmo em condições adversas;
  • dormência de propágulos;
  • características competitivas como alelopatia ou hábito trepador;
  • autopolinização, polinização cruzada ou ambas;
  • sementes com diversos mecanismos de dormência;
  • rápida passagem da fase vegetativa para a reprodutiva;

 

Evolução das plantas daninhas

A evolução das plantas daninhas está diretamente ligada ao ser humano e à atividade agropecuária. O controle das plantas daninhas nos cultivos agrícolas proporcionou uma forte pressão sobre essas plantas, principalmente pelo uso de herbicidas, mas também por uso de implementos, por exemplo, de forma que as plantas mais adaptadas foram resistindo. Dessa forma, essas plantas receberam uma seleção. Outro fator, é que plantas semelhantes às plantas cultivadas, devido à sua alta variabilidade genética foram selecionadas, se especializando na colonização de agroecossistemas com distúrbio no solo. Existem também casos de cruzamento entre plantas cultivadas e plantas selvagens que resultaram em plantas daninhas com alto potencial de danos aos cultivos agrícolas.

 

Prejuízos causados por plantas daninhas

As plantas daninhas competem pelos recursos água, luz, nutrientes e espaço físico, deixando menor quantidade de recursos para a cultura, reduzindo a produtividade. Estas plantas podem parasitar a cultura ou causar efeitos alelopáticos (produção de substâncias químicas tóxicas que interferem no desenvolvimento de outras plantas).

 

Competição por recursos

A competição por recursos ocorre naturalmente em uma comunidade de plantas com recursos limitados. A cultura econômica e a planta daninha competem por água, luz, nutrientes e dióxido de carbono. Quanto mais semelhantes são as exigências ambientais e o hábito vegetativo entre a cultura e a planta daninha, maior e mais prejudicial a ambos será a competição.

O melhoramento genético realizado nas culturas agrícolas faz com que essas plantas ganhem um acréscimo na produtividade econômica, mas, geralmente, em detrimento do potencial competitivo, e assim as plantas daninhas levam vantagem competitiva sobre as plantas cultivadas. Assim, na lavoura devemos usar métodos de controle e práticas culturais que aumentem as chances da cultura superar as plantas daninhas na competição pelos recursos.

água é escassa em muitas regiões, e a infestação de plantas daninhas eficientes no uso desse recurso limitam a produção nessas regiões. Algumas espécies de plantas daninhas causam mais danos em condições de baixa umidade no solo, ao passo que outras causam maiores danos em condições de alta umidade. Além de limitar o crescimento da cultura, a falta de água também reduz a eficiência fotossintética pelo fechamento dos estômatos. Dessa forma, deve-se conhecer as características de cada espécie quanto à umidade do solo, visto que uma espécie que não causa danos em condições de alta umidade pode causar severos prejuízos em condições de baixa umidade.

Quanto à adubação, as plantas possuem diferentes capacidade de absorção de nutrientes. Quando essas plantas são pequenas, a quantidade absorvida dos nutrientes não é tão significante, porém, quando são plantas de maior parte, os prejuízos começam a aparecer. Uma das estratégias utilizadas consiste em usar a adubação para superar a competição, o que pode resolver o problema ou agravar. Ocorre que adubações pesadas, apesar de aumentar o crescimento da cultura, aumentam também o crescimento das plantas daninhas, e a espécie mais capaz pode se sobressair. Geralmente, as plantas daninhas são mais favorecidas pelas adubações do que as plantas cultivadas, pois absorvem nutrientes de forma mais eficiente. Já em casos em que a cultura possui maior absorção de nutrientes, a adubação pode ser benéfica para o controle das plantas indesejadas. Assim, deve-se conhecer a capacidade de absorção de nutrientes da planta daninha antes de usar a adubação.

A competição por luz ocorre pelo fato de que as plantas precisam desse recurso para realizar a fotossíntese. A capacidade competitiva de uma planta por luz depende da sua capacidade de assimilar CO2 e utilizá-lo na fotossíntese, aumentando o seu tamanho e/ou área foliar. O posicionamento das folhas da planta acima ou abaixo das folhas da cultura interfere bastante no aproveitamento de luz. Além disso, plantas que possuem metabolismo C4 possuem vantagem competitiva na competição por luz.

Quanto ao espaço, as práticas culturais como o aumento do número de plantas por área e distribuição adequada no terreno podem resultar em uma maior cobertura do solo, resultando em melhor competição com plantas daninhas. Quanto menor o espaçamento adotado, menor o tempo necessário para a cultura cobrir o solo, melhor distribuição das raízes da cultura e maior sombreamento em plantas daninhas. Além disso, plantas que germinam e se estabelecem primeiro terão vantagem na competição.

O uso de um menor espaçamento aumenta a capacidade competitiva com as plantas daninhas, ocasionando maior sombreamento à essas, além de proporcionar melhor distribuição das raízes da cultura e melhor cobertura do solo, o que também prejudica as plantas daninhas. Para reduzir os prejuízos causados por plantas daninhas, deve-se optar por cultivares de estabelecimento rápido e uniforme e crescimento vegetativo vigoroso, optando por cultivares adaptadas para a região, utilizando espaçamento adequado, reduzindo quando possível o espaçamento entre fileiras, mantendo o solo fértil com nutrição balanceada.

 

Alelopatia causada por plantas daninhas

Alelopatia é o processo em que um organismo produz metabólitos secundários que influenciam o crescimento e desenvolvimento de outro organismo, e isso ocorre também com as plantas, muitas vezes resultando na redução de produtividade. Esses metabólitos são produzidos em diferentes partes da planta, sendo os com potencial alelopático, produzidos em maior quantidade nas folhas, e os estresses abióticos podem aumentar ou diminuir essa produção.

A alelopatia pode ser usada também com o objetivo de controlar plantas daninhas na rotação / sucessão de culturas, uso de cobertura viva na entressafra e uso de cobertura morta. Como exemplo de plantas que produzem aleloquímicos, temos trigo, sorgo, girassol, alfafa, mucuna, crotalária, ervilhaca, milheto etc. Porém, devemos nos atentar quanto à suscetibilidade da cultura a ser plantada à esses compostos, evitando que esta seja afetada.

 

Parasitismo causado por plantas daninhas

O parasitismo é uma interação entre organismos em que um se beneficia e o outro é prejudicado, como por exemplo, no caso das plantas, uma planta consumindo fotoassimilados produzidos por outra planta. No Brasil, podemos destacar como plantas daninhas parasitas a erva-de-passarinho e cipó-chumbo, porém, esse tipo de relação não é tão comum em áreas agrícolas.

 

Depreciação do produto causado por plantas daninhas

A presença de plantas daninhas nos produtos colhidos deprecia o produto, reduzindo a sua qualidade. Podemos citar como exemplo sementes de plantas daninhas em lotes de sementes de plantas cultivadas, algodão colhido com diásporos de picão-preto ou capim-carrapicho, batata colhida com tubérculos de tiririca, lã de carneiro com diásporos de carrapicho-de-carneiro etc.

 

Inicialismo

Inicialismo é uma interação mediada pela alteração na qualidade da luz com a presença de plantas vizinhas, resultando em uma alteração na distribuição de fotoassimilados entre raízes e parte aérea, de forma que algumas espécies vegetais fiquem mais sensíveis à competição.

Ocorre que, a presença de plantas vizinhas altera a qualidade da luz recebida por uma planta, que percebe essa alteração através dos fitocromos, que detectam o comprimento de onda entre o vermelho (V) e o vermelho extremo (Ve). A planta percebe a alteração na razão V:Ve como um sinal de que haverá competição no futuro, e dessa forma prioriza o desenvolvimento da parte aérea em detrimento das raízes, de forma a se tornar mais competitiva pelos recursos.

 

Hospedagem de doenças e pragas

As plantas daninhas podem ser hospedeiras de insetos, fungos, vírus, bactérias, nematóides, ácaros etc. que podem causar prejuízos às culturas agrícolas. Quando isso ocorre, a planta daninha aumenta a quantidade de praga / doença na área. Por exemplo, podemos citar o picão-preto e papuã, que hospedam os nematoides Meloidogyne spp., ou a serralha, carurus, leiteiro e guanxumas que são hospedeiras de mosca-branca.

 

Prejuízos das plantas daninhas aos tratos culturais e colheita

A presença de plantas daninhas pode prejudicar os tratos culturais, como aplicação de fertilizantes / defensivos ou colheita, reduzindo a eficiência destas atividades, podendo resultar em perdas na colheita, ainda que o prejuízo não seja diretamente na quantidade produzida pela cultura.

Podemos citar as plantas trepadeiras presentes no final do ciclo das culturas, como as cordas-de-viola, causando o embuchamento das colhedoras. Outros exemplos são plantas que contém substâncias alérgicas ou podem ferir os trabalhadores durante a colheita manual.

 

Redução da produtividade e perda do valor da terra

Com todos os prejuízos citados acima, a cultura agrícola pode perder grande parte ou até toda a sua produtividade. Porém, a presença dessas plantas indesejadas em uma área também desvaloriza o valor potencial dessa área, principalmente no caso de plantas tóxicas em áreas de pastagem, como guanxuma ou maria-mole, ou plantas de difícil controle como tiririca ou grama-seda.

 

Aspectos positivos das plantas daninhas

Apesar das plantas daninhas causarem diversos prejuízos aos cultivos agrícolas, conforme você leu acima, elas também podem trazer benefícios. Por exemplo, elas podem melhorar a estrutura do solo, manter a umidade, evitar perda de água por evaporação, reduzir a erosão e hospedar inimigos naturais de um patógeno ou uma praga. Além disso, algumas plantas daninhas possuem propriedades medicinais, como a mamona, fedegoso, melão-de-são-caetano, dentre outras. Podem servir também como plantas ornamentais, como no caso da corda-de-viola. Já plantas como os carurus, trevos e azevém podem ser usadas na alimentação humana e/ou animal.

 

Classificações das plantas daninhas

Existem diversas maneiras de classificar as daninhas:

  • Quanto ao grupo de plantas:
    • Folhas largas: plantas com limbo foliar largo e nervação peninérvea;
    • Folhas estreitas: plantas com limbo foliar estreito e nervação paralelinérvea;
  • Quanto ao habitat:
    • Terrestres;
    • Aquáticas (podendo ser classificadas em marginais / de talude, emergentes, flutuantes livres, flutuantes ancoradas, submersas livres ou submersas ancoradas);
    • Indiferentes
  • Quanto ao hábito de crescimento;
    • Herbáceas: de pequeno porte, eretas ou prostradas, geralmente com caules / colmos não lignificados;
    • Arbustivas e subarbustivas: médio porte, com caule lignificado e ramificado desde a base;
    • Arbóreas: eretas de grande porte com caule lignificado e ramificações acima da base do caule;
    • Trepadeiras: crescem utilizando outras plantas como suporte;
    • Parasitas: parasitam a parte aérea ou o sistema radicular, utilizando fotoassimilados da planta hospedeira;
    • Epífitas e hemiepífitas: semelhantes às parasitas, mas não utilizam fotoassimilados da planta hospedeira. Podem ou não ter contato posterior com o solo;
  • Quanto ao ciclo de vida:
    • Monocárpicas: anuais (completam o ciclo de vida em até um ano) e bianuais (completam o ciclo de vida entre 1 e 2 anos);
    • Policárpicas: perenes (completam o ciclo de vida em mais de 2 anos);
  • Quanto à morfologia.

 

O modo de dispersão das plantas daninhas também é classificado:

  • Anemocoria: dispersão pelo vento, muito comum em sementes com pelos, sementes pequenas e leves, ou diásporoso dotados de alas;
  • Hidrocoria: dispersão pela água, muito comum em várias espécies;
  • Zoocoria: dispersão é feita por animais, com a estrutura reprodutiva carregada internamente ao corpo (endozoocoria) ou externamente (epizoocoria)
  • Antropocoria: dispersão através da atividade humana.

 

Tempo de convivência entre plantas cultivadas e plantas daninhas 

Quanto mais longo o tempo de convivência entre plantas cultivadas e plantas daninhas, maior poderá ser o grau de interferência e prejuízos causados pelas daninhas. Claro, a interferência das plantas daninhas, bem como a ação de herbicidas, são influenciados por condições de clima e solo. Plantas daninhas da mesma espécie causam diferentes interferências em condições de clima e solo diferentes, assim como a ação dos herbicidas, que são menos perdidos por volatilização em climas amenos ou mais lixiviados em solos arenosos. Você pode ler mais detalhes nas nossas páginas sobre esse assunto. 

Quanto ao tempo de convivência, também é importante a época em que ocorre a convivência. Dessa forma, Pitelli e Durigan (1984) definiram três períodos de interferência:

  • Período anterior à interferência (PAI): é o período após o plantio, em que a quantidade de recursos do ambiente supre as necessidades tanto das plantas daninhas quanto das plantas cultivadas, iniciando o período no plantio ou emergência, e terminando no momento em que as necessidades das plantas cultivadas e das plantas daninhas superam a quantidade de recursos disponíveis no ambiente, iniciando assim a interferência e prejuízos.
  • Período total de prevenção à interferência (PTPI): a ação residual de um herbicida aplicado no solo deve ocorrer até o momento em que a própria cultura consiga inibir a emergência e/ou crescimento das plantas daninhas através do sombreamento e outros efeitos. Esse período é chamado de período total de prevenção à interferência. Após esse período, teoricamente, as plantas daninhas que crescerem não causam interferência. Mas em alguns casos, essas plantas podem interferir na eficiência dos tratos culturais ou colheita, ou até contaminar lotes de sementes, além de aumentar o banco de sementes de plantas daninhas no solo, piorando a situação nos cultivos seguintes. Nesses casos, o ideal é fazer o controle.
  • Período crítico de prevenção à interferência (PCPI): é o período que se inicia no fim do PAI e se estende até o final do PTI, quando a presença de plantas daninhas interfere na produtividade das culturas, devendo ser controladas neste período. Caso o PAI for mais longo que o PTI, teoricamente, não haverá PCPI. Assim, apenas um controle entre o final do PTPI e o final do PAI previne a cultura dos prejuízos das plantas daninhas.

 

Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo

 

Referências:

BLACK, C. C.; CHEN T. M.; BROWN, R. H. Biochemical basis for plant competition. Weeds, Champaign, v. 17, n.3, p. 338-344, 1969.

CARVALHO, L. B. de. Plantas Daninhas. 1. ed. Lages, SC: [s. n.], 2013. 90 p.

CORREIA, N. M.; REZENDE, P. M. de. Manejo integrado de plantas daninhas na cultura da soja. Lavras: Editora UFLA, 55p.

FLECK, N. G. Princípios do controle de plantas daninhas. Porto Alegre: UFRGS, 1992. 70p.

FONTES, J. R. A.; SHIRATSUCHI, L. S.; NEVES, J. L.; JÚLIO, L. de; SODRÉ FILHO, J. Manejo Integrado de Plantas Daninhas. Embrapa Documentos, Planaltina, DF, ed. 1, 2003.

RODRIGUES, B. N. Influência da cobertura morta no comportamento dos herbicidas imazaquin e clomazone. Planta Daninha, Campinas, v. 11, n. 1/2, p. 21-28, 1993.

VARGAS, L.; ROMAN, E. S. Manejo e controle de plantas daninhas na cultura da soja. Embrapa Documentos, [s. l.], n. 62, Setembro, 2006.

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.