Controle (manejo integrado) de plantas daninhas no milho
Leia sobre o manejo integrado de plantas daninhas no milho.
O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de milho, cereal que serve de alimento para rebanhos, alimentação humana, matéria-prima para produtos como óleo, álcool, bebida etc. Porém, o Brasil ainda possui uma produtividade baixa de milho (cerca de 5,5 toneladas por hectare), sendo aproximadamente a metade da produtividade dos Estados Unidos.
Dentre os motivos que explicam essa menor produtividade, o controle inadequado de plantas daninhas é um dos principais fatores que resultam no baixo rendimento, podendo variar entre 10% a 80% de rendimento a menos.
Além de diminuir o rendimento, as plantas daninhas podem também reduzir a qualidade dos grãos, provocar maturação desuniforme, dificultar a colheita ou causar perdas na colheita, hospedar pragas e doenças e liberar aleloquímicos no ambiente que prejudicam o desenvolvimento das culturas. Caso você queira ler mais sobre as características e prejuízos das plantas daninhas, clique aqui.
Quando ocorrem os prejuízos causados por plantas daninhas no milho?
- Germinação e emergência: durante o período que se inicia na semeadura e ocorre até o aparecimento da plântula, os maiores problemas ocorrem quando a competição com plantas daninhas ocorre na linha de plantio, principalmente para o caso de plantas daninhas de folha estreita;
- Crescimento vegetativo: inicia-se na emissão da segunda folha definitiva (folhas totalmente emergidas do cartucho em que é possível observar, a olho nú, a linha de união entre a lâmina e a bainha da folha), terminando no início do florescimento. É o período mais importante quanto à competição com plantas daninhas, pois nessa etapa são definidos importantes componentes de rendimento do milho. Entre 6 e 9 folhas, é definido o número de fileiras de grãos na espiga. Entre 12 e 15 folhas é definido o número de grãos por fileira. Dessa forma, esse período é crítico quanto às consequências das plantas daninhas no rendimento final e o controle dessas plantas;
- Florescimento: inicia-se na polinização e vai até o início da frutificação;
- Frutificação: ocorre entre a fecundação e o enchimento de grãos, sendo conhecida como a fase de enchimento de grãos, durando entre 40 e 60 dias;
- Maturação: se inicia no fim da frutificação indo até a maturação fisiológica ou aparecimento da camada preta na base do grão de milho. Quando o controle das plantas daninhas é insuficiente ou em casos de alta infestação, devido ao baixo sombreamento da cultura nessa etapa, o que resulta em alta luminosidade, espécies daninhas com alta agressividade podem surgir. Pode ocorrer a emergência de gramíneas, por exemplo, que podem comprometer a qualidade e o rendimento de grãos final.
O período crítico de competição é o período em que as plantas daninhas devem ser controladas de modo eficiente para evitar perdas de produtividade. No milho, em condições normais, esse período em média ocorre entre os 20 e 60 dias após a emergência das plantas, ou seja, entre a terceira (V3) e décima segunda folha (V12). Esse período corresponde ao tempo entre a emergência de plântulas e diferenciação da espiga, período em que é definido o potencial de rendimento de grãos.
Durante esse período, deve-se estar atento à presença de plantas daninhas, evitando que seja atingido o nível de dano econômico, ou seja, o momento em que o valor das perdas é maior do que o custo necessário para controlar as plantas. O número de plantas daninhas que justifica o controle varia conforme a disponibilidade de água, nutrientes, luz, espaço e CO2, época de estabelecimento e espécies daninhas. Devido a essas variáveis não dispomos de níveis de dano econômico para a maioria das plantas daninhas.
Claro, o período crítico varia conforme as características das cultivares, condições ambientais etc. Já os prejuízos observados pelas plantas daninhas anterior aos 20 dias após a emergência e após 60 dias da emergência é tolerável, pois não afeta o rendimento de grãos. Porém, algumas espécies de plantas daninhas podem causar prejuízos fora do período crítico, na colheita, embuchando ou quebrando a navalha por exemplo, aumentando custos e riscos na colheita, prejudicando a qualidade do produto colhido.
Manejo integrado de plantas daninhas no milho
Para reduzir os prejuízos causados por plantas daninhas no milho, o controle químico é o método mais utilizado. Porém, o uso de outros métodos de controle (preventivo, cultural, mecânico e biológico) contribuem para um controle mais eficiente das plantas daninhas, além de causar menos impactos ambientais e contribuir para a saúde do solo e do ambiente, o que também reflete na produtividade final.
A redução da interferência de plantas daninhas em culturas produtoras de grãos é feita até o nível em que as perdas pela interferência sejam iguais ao incremento no custo de controle.
O monitoramento das plantas daninhas (espécies e proporções) é fundamental para a identificação precoce do problema, além de auxiliar a escolher o método de controle. O monitoramento pode proporcionar economia na quantidade de herbicida aplicado e permite identificar plantas resistentes no início do processo, facilitando o controle.
Antes da semeadura do milho
Antes do plantio da cultura, podem ser feitas as seguintes estratégias:
- Escolha da área: dar preferência ao cultivo em áreas livres ou com baixa infestação de plantas daninhas, ou pelo menos áreas com espécies daninhas de fácil controle;
- Preparo do solo: eliminar as plantas daninhas estabelecidas e tornar o ambiente favorável às sementes de milho e aplicação de herbicidas. Restrito ao sistema convencional de preparo do solo;
- Preparo antecipado do solo: induz a germinação das sementes e emergência das plântulas, que poderão ser controladas mecanicamente ou com herbicidas antes da semeadura da cultura. Restrito ao preparo convencional;
- Cobertura morta e semeadura em época favorável: proporciona rápido estabelecimento da cultura e baixa germinação de sementes de plantas daninhas.
No sistema de plantio direto, a dessecação pré-semeadura elimina plantas daninhas estabelecidas e proporciona cobertura morta, que também reduz a população de plantas daninhas através de efeitos físicos e alelopatia. A dessecação é feita em um momento tal que após uma semana da aplicação dos herbicidas possa ser feita a semeadura do milho. Plantas daninhas como grama-seda e capim-massambará devem ser controladas antes da instalação da cultura de milho ou do preparo do solo, pois os herbicidas em pré e pós-emergência não possuem eficiência para controlar estas espécies em estádios avançados de desenvolvimento.
Após a semeadura do milho
Após a semeadura do milho pode-se usar herbicidas pré-emergentes para controlar as plantas daninhas durante a emergência. Após a emergência destas espécies, pode-se usar o controle mecânico e/ou controle químico.
O controle mecânico com cultivadores reduz as plantas daninhas nas entrelinhas, mas não controla as plantas localizadas nas linhas. É comum o uso de cultivadores maiores, ineficazes para esse tipo de controle em que são usados próximos da linha de plantio ou profundo demais, podendo causar danos ao sistema radicular do milho, além de não controlar plantas daninhas de reprodução vegetativa.
Em casos em que é inviável o uso de cultivadores ou outras técnicas, o uso de herbicidas em pós-emergência é uma boa alternativa, podendo controlar as falhas dos outros métodos.
Métodos de controle de plantas daninhas no milho
Controle preventivo de plantas daninhas no milho
O controle preventivo consiste em evitar / reduzir a possibilidade de introdução e multiplicação de plantas daninhas em uma área. O controle é feito através do uso de sementes certificadas, limpeza de máquinas, implementos e equipamentos utilizados em áreas com plantas daninhas indesejáveis, evitar trânsito de animais de áreas infestadas para áreas não infestadas, controle de plantas daninhas em canais, curvas de nível, margens da lavoura, caminhos, cercas etc.
Controle cultural de plantas daninhas no milho
O controle cultural visa usar o ambiente ou procedimentos que favoreçam o rápido crescimento da cultura, desfavorecendo as plantas daninhas. Ocorre que as primeiras plantas a ocuparem uma área excluem as demais, e a espécie melhor adaptada predominará no ambiente.
Envolve a escolha adequada da cultivar de milho, adaptada ao clima e solo da região, densidade e espaçamento de plantas que favoreça o rápido fechamento da lavoura, profundidade e época de semeadura adequadas que irão favorecer a rápida germinação, emergência, estabelecimento vigoroso e uniforme da cultura, adubação adequada para aumentar o índice de cobertura da área (diminuindo o espaço para plantas daninhas) etc.
Além disso, a rotação de culturas também favorece o controle de plantas daninhas. As plantas daninhas são boas competidoras com determinadas espécies de culturas, porém a rotação cria diferentes competições e possibilita o uso de diferentes tipos de herbicidas, favorecendo o controle de plantas daninhas no milho e em culturas subsequentes. As espécies utilizadas na rotação dependem das plantas daninhas existentes na área, além das características físicas, químicas e topográficas dessa área.
Controle mecânico de plantas daninhas no milho
O arranquio de plantas é bastante utilizado em pequenas propriedades, onde o uso de outros métodos de controle é limitado, mas pouco utilizado em grandes propriedades devido ao baixo rendimento. Esse controle é feito com cultivadores como enxada fixa, enxada rotativa ou enxada rotativa de arrasto. O controle mecânico é feito por métodos como:
- Enterrio: plantas morrem por falta de luz (inibindo a fotossíntese) e esgotamento de reservas;
- Corte: separação da parte aérea das raízes;
- Dessecação: raízes, rizomas e estolões expostos à superfície do solo, desidratando e morrendo;
- Exaustão: estimular a brotação repetitiva das gemas, exaurindo as reservas e causando morte das gemas.
O controle mecânico é eficiente para plantas anuais e bienais, mas não é tão eficiente para espécies perenes que possuem sistema radicular profundo.
Um controle mecânico eficiente controla as plantas daninhas nas entrelinhas e cobre as plantas na linha da cultura por abafamento. A eficiência desse controle depende do uso correto do equipamento e das características da espécie da planta daninha, como capacidade de enraizamento, profundidade do sistema radicular, hábito de crescimento e tipo de reprodução. Além disso, as características da espécie irão determinar qual o equipamento adequado para o controle.
Controle químico de plantas daninhas no milho
O controle químico é bastante utilizado para controlar as plantas daninhas no milho, com novos produtos surgindo a cada ano e técnicas de aplicação cada vez mais aprimoradas. O controle químico, quando feito de acordo com a bula e as normas técnicas, é eficiente e rápido, podendo ser realizado quando outros tipos de controle são inviáveis. Porém, exige equipamentos adequados e regulados e mão-de-obra especializada. Quando a aplicação é ineficiente, resulta em aumento dos custos de controle, controle ineficiente, poluição ambiental e contaminação de alimentos.
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Manejo de plantas daninhas no sistema plantio direto
A cobertura morta formada por restos culturais no plantio direto auxilia no controle de plantas daninhas. Os restos culturais, além de produzir matéria seca que reduz a germinação e emergência das plantas, podem causar efeitos alelopáticos, como no caso da aveia-preta, aveia-branca e azevém, que causam efeitos alelopáticos no capim-marmelada, picão-preto e guanxuma, respectivamente, além de produzir grande quantidade de matéria seca. As plantas que irão formar a cobertura morta são dessecadas antes da semeadura, controlando as plantas daninhas e demais espécies. Porém, vale destacar que o excesso de palha também pode ser prejudicial no controle, retendo herbicidas que deveriam chegar ao solo.
O controle químico das plantas daninhas em plantio direto é semelhante ao do preparo convencional, porém, com duas diferenças:
- Plantas daninhas estabelecidas podem ser eliminadas antes da semeadura da cultura através do uso de herbicidas totais;
- Não é possível usar herbicidas de pré-plantio incorporado;
Controle de plantas daninhas perenes no milho
As plantas daninhas perenes que geralmente aparecem em cultivos de milho, como o capim-massambará, a tiririca, a grama-seda e a língua-de-vaca, devido à sua alta capacidade reprodutiva e persistência, podem causar sérios problemas para a cultura.
Essas plantas possuem um crescimento inicial rápido, o que confere uma maior capacidade competitiva, devendo ser controladas rapidamente. Além da competição por recursos (nutrientes, luz, água, espaço e CO2), podem causar também efeitos alelopáticos na cultura, reduzindo o rendimento.
A reprodução dessas plantas pode ser via sementes, ou de forma vegetativa, através de bulbos, tubérculos, rizomas e estolões. Quanto essas estruturas são fragmentadas, cada fragmento pode gerar outra planta, multiplicando a espécie. Dessa forma, devemos nos atentar às práticas de preparo do solo ou uso de equipamentos que fracionem esses órgãos, pois isso pode aumentar o número de plantas daninhas. Inclusive, o estabelecimento de uma planta oriunda dessas partes vegetativas é mais rápido do que de plantas oriundas de sementes. Soma-se a isso o fato de que indivíduos adultos dessas plantas daninhas perenes são tolerantes a quase todos herbicidas seletivos para o milho.
O controle de plantas daninhas perenes é mais efetivo quando é utilizado mais de um método de controle. O controle químico antes do preparo do solo junto com o controle em pós-emergência, uso de espaçamento e densidade adequados, práticas culturais como rotação de culturas (que permitem o uso de diferentes herbicidas) proporcionam um melhor controle das plantas daninhas.
Controle mecânico
Conforme explicado anteriormente, a fragmentação de estruturas de reprodução vegetativa de plantas daninhas perenes, causada pelo uso de cultivadores, pode aumentar o número destas plantas na área. Para que o controle mecânico seja eficiente sobre as plantas daninhas perenes, deve ser feito repetidamente em uma mesma estação, de forma a esgotar as reservas da planta. Porém, isso pode resultar em um alto custo operacional.
Controle químico
As plantas daninhas perenes devem ser controladas quando estiverem em pleno desenvolvimento vegetativo. O controle é feito com herbicidas totais, antes do preparo do solo, ou antes da instalação da cultura no sistema de plantio direto. O herbicida atinge os órgãos subterrâneos, sendo absorvido pela planta. No caso de plantas daninhas perenes jovens, originadas de sementes, o controle pode ser feito com herbicidas em pós-emergência inicial.
Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo
Referências:
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