Controle (manejo integrado) de plantas daninhas no algodoeiro
Leia sobre o manejo integrado de plantas no algodoeiro.

O algodão é uma espécie muito sensível à competição com as plantas daninhas, pois a cultura possui um crescimento inicial lento e ciclo longo. As plantas daninhas crescem mais rápido, e competem com a cultura por recursos (água, luz, nutrientes), além de liberar substâncias alelopáticas que podem prejudicar o algodoeiro, e servir de hospedeiras para doenças, insetos-praga e/ ou nematóides. Além disso, algumas plantas podem também prejudicar a colheita do algodão, como a corda-de-viola e apaga-fogo, ou reduzir a qualidade da fibra por conta de umidade e impurezas, como no caso do picão-preto e capim-carrapicho.
Estudos mostram que o algodoeiro deve ficar livre da interferência de plantas daninhas entre os 20 e 50 dias após a emergência, a depender das características da cultivar, espaçamento e densidade de plantio, espécie infestante, manejo e características do clima e do solo. Estudos mostram perdas de até 97% do rendimento da cultura quando em convivência com as plantas daninhas durante todo o ciclo.
As principais plantas daninhas nas lavouras de algodão são:
- Caruru: herbácea anual que pode hospedar ácaros, tripes e fungos fitopatogênicos;
- Capim-carrapicho: gramínea anual, com frutos espinhosos que podem ferir os trabalhadores ou grudar nas roupas / animais, disseminando a planta;
- Capim-colchão: gramínea anual que pode hospedar fungos fitopatogênicos. A infestação dessa espécie pode ser inibida com o cultivo de milheto;
- Picão-preto: herbácea anual que pode abrigar tripes, cochonilhas e ácaros fitopatogênicos;
- Corda-de-viola: herbácea perene, hospedeira de insetos e ácaros fitopatogênicos;
- Trapoeraba: herbácea perene que hospeda ácaros e afídeos transmissores de vírus, além de liberar compostos alelopáticos no ambiente.
Manejo integrado de plantas daninhas no algodoeiro
O Manejo Integrado de Plantas Daninhas é o uso de dois ou mais métodos de controle destas plantas. É comum nos depararmos com situações em que os produtores usam apenas defensivos para o controle de plantas daninhas, porém, o uso de mais métodos torna o controle mais eficiente, além de causar menores prejuízos ambientais, reduzir o custo de produção e dar mais segurança ao trabalhador rural e ao consumidor final. Dessa forma, no algodoeiro, podemos utilizar várias estratégias integradas para reduzir
Controle preventivo
O controle preventivo consiste em evitar que a espécie de planta daninha entre em uma área onde ainda não exista. Esse controle é feito através do:
- Uso de sementes sadias de produtores certificados;
- Limpeza de máquinas, equipamentos e implementos utilizados em outras áreas;
- Evitar o transporte de propágulos de plantas aderidos às roupas ou aos animais;
- Controle pós-colheita das plantas daninhas, evitando que estas produzam sementes;
- Controle de plantas daninhas em margens, cercas, estradas próximas etc.
Controle cultural
O controle cultural visa usar o ambiente ou procedimentos que favoreçam o rápido crescimento da cultura, desfavorecendo as plantas daninhas. Ocorre que as primeiras plantas a ocuparem uma área excluem as demais, e a espécie melhor adaptada predominará no ambiente.
Essa técnica envolve várias práticas como o uso de cultivares adaptadas, densidade e espaçamento de plantas que adequados, profundidade e época de semeadura adequadas que irão favorecer a rápida germinação, emergência, estabelecimento vigoroso e uniforme da cultura, adubação adequada para aumentar o índice de cobertura da área (diminuindo o espaço para plantas daninhas) etc.
Quanto ao espaçamento e densidade de semeadura, o uso de uma população de plantas que promova rápida cobertura da área aumenta a vantagem competitiva do algodão, deixando menos espaço e recursos para plantas daninhas.
Além disso, a rotação de culturas também favorece o controle de plantas daninhas. As plantas daninhas são boas competidoras com determinadas espécies de culturas, porém a rotação cria diferentes competições e possibilita o uso de diferentes tipos de herbicidas, favorecendo o controle de plantas daninhas no algodão e em culturas subsequentes. As espécies utilizadas na rotação dependem das plantas daninhas existentes na área, além das características físicas, químicas e topográficas dessa área.
Controle mecânico
O controle mecânico é feito através do arranquio das plantas daninhas, sendo mais utilizado em pequenas propriedades, em que o uso de outros métodos de controle é limitado, mas pouco utilizado em grandes propriedades devido ao baixo rendimento. É feito com enxadas ou cultivadores de tração animal ou tratorizado.
O controle com enxada geralmente é utilizado para complementar outros métodos, geralmente em ação localizada, principalmente quando algumas espécies não foram controladas por herbicidas ou não é mais possível aplicar esses produtos.
O controle com cultivador, também utilizado como forma complementar, deve ser feito dentro do período crítico de competição, sendo feito logo após a emergência da cultura, pois quanto mais jovens as plantas daninhas, menor a necessidade de aprofundar o implemento. Porém, o sistema radicular do algodão é bastante superficial, devendo-se tomar cuidado com o uso de cultivadores quanto à regulagem de profundidade, principalmente a partir do início do florescimento. O limite de profundidade deve ser de 3 cm, pois o algodão apresenta raízes superficiais, logo, é uma operação complicada, e seu uso é mais comum na entrelinha.
O uso de cultivadores no período chuvoso tem eficiência reduzida, principalmente para controlar gramíneas, e não controla plantas daninhas nas linhas de plantio. Além disso, o uso de cultivadores não é recomendado em sistemas de plantio direto, pois nesse sistema não é feito o revolvimento do solo.
A frequência e número de cultivos dependem das condições de cada situação, levando-se em conta a incidência, espécies infestantes e uso de outros métodos de controle.
Controle físico
O uso de cobertura morta no sistema de plantio direto, além de trazer benefícios à produção e ao ambiente, pode trazer benefícios no controle de plantas daninhas. A cobertura morta reduz a oscilação de temperaturas no solo, reduz a disponibilidade de luz que chega ao solo, atua como uma barreira física para a germinação de plantas e, dependendo da espécie que forma a cobertura, pode liberar substâncias alelopáticas que prejudicam as plantas daninhas.
Controle químico
O controle químico de plantas daninhas do algodão é feito aplicando-se herbicidas no solo ou na parte aérea das plantas daninhas. Apesar dos herbicidas proporcionarem um bom controle das plantas daninhas em lavouras tecnificadas, o seu custo é alto em lavouras com pouca tecnologia, sendo muitas vezes antieconômico adotar esse tipo de controle, principalmente ao se usar herbicidas pós-emergentes para folhas largas seletivos ao algodão.
- Dessecação: feita em áreas de plantio direto ou cultivo mínimo, eliminando plantas daninhas antes da semeadura. Recomenda-se realizar a dessecação duas a três semanas antes da semeadura do algodoeiro. Os herbicidas geralmente são aplicados na pós-emergência das plantas daninhas, e por vezes também são utilizados herbicidas sistêmicos com efeito residual misturados com herbicidas de ação total, de forma a ampliar o número de espécies controladas e proporcionar efeito residual;
- Pré-plantio incorporado (PPI) e Pré-emergência (PRE): a aplicação de herbicidas em pré-plantio incorporado (PPI) ou em pré-emergência (PRE) controla plantas daninhas desde o início da instalação da cultura, antes que as plantas daninhas possam competir com a cultura. Os herbicidas utilizados possuem efeito residual, de modo a estender o controle por um período de tempo mais longo do que os herbicidas pós-emergentes. Esses herbicidas reduzem a competição com plantas daninhas no início do ciclo e podem diminuir as infestações mais tardias. Os produtos para uso em pré-plantio incorporado são sensíveis à volatilização ou fotodecomposição, por isso são incorporados para não haver perdas desses produtos. Assim, esses produtos não podem ser usados em áreas de plantio direto.
Já os herbicidas pré-emergentes não são tão utilizados devido ao desenvolvimento de cultivares transgênicas tolerantes aos herbicidas de ação total, mas podem retardar o uso dos herbicidas pós-emergentes e garantir a ausência de competição com plantas daninhas na emergência da cultura. - Pós-emergência com herbicidas seletivos (POS): algumas espécies de plantas daninhas não são controladas mesmo com o uso de herbicidas com efeito residual, ou pela perda do efeito residual com o passar do tempo, podendo ser necessário o uso de herbicidas pós-emergentes seletivos. Esses produtos possuem a vantagem de não exigir equipamentos especiais para a sua aplicação e controlar plantas daninhas na linha de plantio.
- Pós-emergência com herbicidas não seletivos (POSd): muitas vezes os herbicidas seletivos não promovem controle suficiente das plantas daninhas, seja por causa da espécie a ser controlada, ou por outros motivos como o atraso das aplicações. Assim, pode-se utilizar herbicidas não seletivos na entrelinha da cultura para controlar essas espécies e a emergência de outras plantas daninhas através do efeito residual, prolongando o controle até o final do ciclo do algodão. Esses produtos possuem maior espectro de controle e podem ser utilizados com plantas daninhas em estádios fenológicos mais avançados.
No algodoeiro não transgênico, relatos apontam que o uso combinado de herbicidas em PRE, POS e POSd combinados tem proporcionado as maiores eficiências no controle de plantas daninhas. Produtos não seletivos devem ser aplicados com proteção a cultura em relação ao jato, porém, o algodoeiro possui certa tolerância em relação a alguns produtos aplicados em jato dirigido sem a proteção, desde que a pulverização não atinja as partes mais sensíveis da planta. Para evitar maiores prejuízos, deve-se ajustar a altura do bico e o caule deve estar lenhoso. Já no algodoeiro transgênico resistente a herbicidas, podem ser usados herbicidas em área total que antes eram considerados não seletivos, como o glifosato e glufosinato de amônio.
Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo
Referências:
ARAUJO, A. E. de. Cultura do algodão no Cerrado. Campina Grande, PB: Embrapa Algodão, 2017. 71 p. (Embrapa Algodão. Sistema de produção, 2).
JOAQUIM JÚNIOR, C. Z.; BARBOSO, I. J.; CARDOSO, E. L. Manejo de plantas daninhas na cultura do algodoeiro: breve revisão. Revista Agronomia Brasileira, Jaboticabal, SP, v. 5, 4 out. 2021.
FERREIRA, A. C. de B.; BARROS, A. C. de; LAMAS, F. M. Manejo de plantas daninhas na cultura do algodoeiro. Campina Grande: Embrapa Algodão, 2006. 8 p. (Embrapa Algodão. Circular Técnica, 96)