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Manejo integrado de plantas daninhas na soja

Leia sobre o manejo integrado de plantas daninhas na soja.


Diversos pesquisadores divergem em relação ao período crítico de competição da soja com as plantas daninhas (momento em que as plantas daninhas devem ser controladas de forma efetiva, pois neste período, causam significativas perdas quantitativas e/ou qualitativas na produtividade). De forma geral, o início do período se inicia entre 9 e 30 dias após a emergência, terminando entre 31 e 50 dias após a emergência. O período crítico de competição varia de acordo com a cultivar, tipo de solo, tipo de análise realizada, ocorrência de chuva, data de semeadura, temperatura e outros fatores.

Durante o período crítico de competição, a soja deve estar livre de competição com plantas daninhas. Após esse período, a soja já possui boa cobertura do solo, não sendo mais tão afetada pela competição. Claro, após esse período, algumas plantas daninhas ainda podem causar problemas significativos na colheita, como embuchamento e quebra da navalha.

Durante esse período, as plantas daninhas devem ser controladas de forma eficiente, sempre evitando o nível de dano econômico (nível em que o valor das perdas é maior que o custo de controle). Vale ressaltar que o dano não depende apenas da quantidade de plantas daninhas por área, mas também da disponibilidade dos recursos (água, nutrientes, espaço e luz), época de estabelecimento e espécie de planta daninha.

 

Competição de plantas daninhas por recursos na soja

água é escassa em muitas regiões, e a infestação de plantas daninhas eficientes no uso desse recurso limitam a produção nessas regiões. Plantas daninhas como carrapichão, caruru e sorgo de alepo, que possuem maior eficiência no uso e absorção de água, causam maiores danos à soja em condições de baixa umidade no solo em comparação à solos com maior umidade. Já plantas como a ambrósia (conhecida também como losna-selvagem) e corda-de-viola causam maiores danos em condições de alta umidade do solo. Assim, devemos conhecer as características de cada espécie quanto ao aproveitamento da umidade do solo em relação à soja.

Quanto aos nutrientes, algumas plantas daninhas possuem melhor absorção de nutrientes do que a soja, o que não é tão significativo quando as plantas daninhas são de pequeno porte. Para os nutrientes, seguimos a mesma regra do caso da água: devemos conhecer a capacidade de absorção de nutrientes da planta daninha em relação à soja antes de usar a adubação. Caso a planta daninha tenha maior capacidade, a adubação poderá piorar bastante o problema.

Quanto à competição por luz, plantas como fedegoso branco e corda-de-viola posicionam suas folhas acima das folhas de soja, levando vantagem na competição por luz. A soja, sombreada por essas plantas, tem a sua produção de fotoassimilados diminuída, reduzindo o seu crescimento e afetando a produção de flores e vagens, e, consequentemente, a produtividade. O carrapicho de carneiro, além de causar prejuízos por alelopatia, consegue realizar fotossíntese acima e abaixo do dossel, podendo reduzir o rendimento da soja em até 80%.

No caso da soja, que possui alta cobertura de solo, as plantas daninhas entre as fileiras recebem menor quantidade de luz quando comparadas a culturas com baixa cobertura, como o milho. O espaçamento recomendado para a soja é de 35 a 50 cm, mantendo o número de plantas por área recomendado. O uso de um menor espaçamento aumenta a capacidade competitiva com as plantas daninhas, ocasionando maior sombreamento à essas, além de proporcionar melhor distribuição das raízes da cultura e melhor cobertura do solo, o que também prejudica as plantas daninhas.

Ocorrem também prejuízos causados pelas plantas daninhas como alelopatia, depreciação do produto, hospedagem de pragas e doenças, prejuízos aos tratos culturais e colheita, redução do valor da terra etc. Você pode ler mais sobre esses prejuízos clicando aqui.

 

Controle de plantas daninhas na soja

Antes da semeadura, são realizadas estratégias como escolha da área, preparo do solo, preparo antecipado do solo, uso de cobertura morta e/ou semeadura em época favorável. A dessecação é feita de modo que seja possível fazer a semeadura uma semana após a aplicação do herbicida.

É comum lavouras de soja com espécies perenes de plantas daninhas, como grama-seda ou capim-massambará, sendo necessário o uso de herbicidas específicos para tais espécies. Após a semeadura, ainda antes da emergência, podem ser usados herbicidas pré-emergentes, ou herbicidas pós-emergentes após a emergência.

São feitos também métodos preventivos como o uso de sementes puras, uso de alguma cultura na entressafra em sucessão para a redução de sementes de plantas daninhas, fazendo o seu manejo até o florescimento, ficando a cobertura morta sobre o solo, protegendo contra erosão e reduzindo a germinação de plantas daninhas.

 

Manejo preventivo de plantas daninhas na soja

O manejo preventivo de plantas daninhas na soja consiste em reduzir as possibilidades de introdução de propágulos de plantas daninhas em áreas ainda não infestadas.

  • Uso de sementes puras, isentas de sementes de espécies indesejadas;
  • Manejo na entressafra: feito com métodos químicos, mecânicos e culturais, o manejo de cultura na entressafra, em sucessão, reduz as sementes que germinam e vegetam durante o ano. A cobertura morta reduz a erosão do solo e a germinação de plantas daninhas, além de melhorar as características do solo. Plantas daninhas após a cultura de entressafra ou em áreas de pousio devem ser manejadas antes de formar sementes. Caso se trate de semeadura convencional, os restos vegetais devem possuir o menor porte possível e estar bem desintegrados.
  • Rotação e sucessão de culturas: a rotação de culturas, além de permitir uma rotação de herbicidas, mantém a área ocupada com a espécie desejada, reduzindo ou eliminando a presença de plantas daninhas. Esta técnica possui alta eficiência quando combinada com a semeadura direta. O não-revolvimento do mantém as sementes em profundidades que não conseguem germinar, e os restos culturais na superfície evitam a germinação de diversas espécies, além de trazer benefícios químicos, físicos e biológicos ao solo.
  • Manter hábitos de limpeza de máquinas, equipamentos, animais e pessoas, evitando a disseminação de propágulos de plantas daninhas;
  • Controle de plantas daninhas em canais, margens da lavoura e caminhos;
  • Ao utilizar adubos orgânicos, verificar se o material foi corretamente fermentado (de forma que os propágulos percam sua viabilidade);

 

Manejo cultural de plantas daninhas na soja

O manejo cultural de plantas daninhas na soja consiste em usar o ambiente ou algum procedimento para promover o crescimento da cultura em detrimento das plantas daninhas.

  • Escolha de cultivares adaptadas, de forma que estas se desenvolverão rapidamente, ocupando o espaço físico e deixando menos espaço para plantas daninhas;
  • Manejo populacional: escolha de uma densidade de plantio de forma a proporcionar boa ocupação do solo, reduzindo espaço disponível para plantas daninhas. Diversos estudos na soja mostram a redução de plantas daninhas com a diminuição do espaçamento das plantas de soja.
  • Correção do solo: neutralizar o teor de alumínio tóxico e corrigir o pH pode favorecer a cultura e desfavorecer algumas espécies de plantas daninhas que se desenvolvem em solos ácidos e com altos teores de alumínio. A adubação apenas na linha de plantio também desfavorece as plantas nas entrelinhas.
  • Plantio no período recomendado, garantindo melhores condições climáticas para o rápido estabelecimento e fechamento da cultura;

 

Manejo mecanizado de plantas daninhas na soja

O manejo mecanizado de plantas daninhas é feito através do arranquio manual. O controle mecânico é mais comum em pequenas propriedades, onde o uso de outros métodos é limitado pela falta de equipamentos ou topografia. Já em grandes propriedades o controle mecânico é reduzido, devido a necessidade de maior agilidade. 

Na soja, pode ser feito com cultivadores e um correto dimensionamento entre a área, a cultivar, o tamanho e o rendimento dos equipamentos utilizados. No primeiro cultivo, o cultivador não deve chegar muito próximo às linhas, pois as plantas de soja ainda são pequenas. No segundo cultivo, não aprofundar o cultivador, evitando prejudicar o sistema radicular da planta. Pode ser feita também a capina (manual ou mecânica). Dentre os mecanismos de controle mecânico, podemos citar o enterrio, o corte, a dessecação e a exaustão (estímulo da brotação repetida das gemas, levando à exaustão e morte, sendo importante para plantas perenes).

 

Manejo biológico de plantas daninhas na soja

O controle biológico pode ser pelo método clássico (inoculativo) e o bioherbicida (inundativo), sendo o método inundativo mais interessante para a soja e outras culturas anuais. Nesse método, são usados microrganismos como o fungo Helminthosporium sp. para o controle de plantas daninhas como a Euphorbia heterophylla (leiteiro), sendo alcançados até níveis acima de 60% de controle com esse microrganismo.

 

Manejo químico de plantas daninhas na soja

O controle químico é o mais usado na soja, sendo feitas aplicações antes da semeadura com incorporação no solo (PSI), após a semeadura e antes da emergência das plantas daninhas (PRÉ) e após a emergência das plantas daninhas e da cultura (PÓS).

No caso de aplicação em PSI, existem poucos produtos desse tipo registrados para a soja. Esses produtos são incorporados no solo para não se degradarem com a radiação solar. A aplicação com esses produtos são feitas com 15 a 20 dias de antecipação, em condições de seca, esperando-se a ocorrência de chuva para a semeadura.

Na aplicação em PRÉ, os herbicidas podem ser aplicados em mistura com dessecantes no sistema de plantio direto, ou após a dessecação ou preparo do solo.

Na aplicação em mistura com dessecantes no sistema de plantio direto, a operação é feita quando, durante a aplicação do dessecante, é necessário controlar plantas daninhas que germinam após a dessecação. Deve-se atentar a solubilidade do herbicida e retenção deste na palha. Na maioria das situações, não se recomenda o uso de dessecante junto com herbicida residual quando a cobertura verde ocupar mais de 30% da superfície do solo, pois a cobertura pode comprometer a eficácia do herbicida residual.

Na aplicação após a dessecação ou preparo do solo, a operação é feita após a implantação da cultura, na semeadura ou logo após a semeadura, antes da emergência da soja e da planta daninha. No sistema de plantio direto, deve-se observar as características da cobertura morta sobre o solo, pois esta pode reter o produto, não permitindo o contato deste com o solo, comprometendo a eficácia do produto. Este efeito depende também das características físico-químicas dos produtos e da quantidade de chuva após a aplicação.

Já na aplicação em pós-emergência, deve-se observar o estádio de desenvolvimento da planta daninha, condições de aplicação, entre outros. Em cenários onde existem diversas plantas daninhas de folhas largas, muitas vezes são feitas misturas de produtos de forma a aumentar a eficácia e o espectro de controle das plantas daninhas, ainda que apenas as misturas comerciais possuam respaldo técnico. Para controlar plantas daninhas com folhas estreitas na soja, existem diversos herbicidas graminicidas.

 

Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo

 

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