Controle biológico de plantas daninhas
Leia sobre o controle biológico de plantas daninhas.
O controle biológico de plantas daninhas é feito através do uso de parasitas, predadores e patógenos que possuem capacidade de reduzir a população destas plantas, bem como a sua capacidade de competir. Além disso, o efeito alelopático das plantas sobre as plantas daninhas também é considerado controle biológico. Você pode ler mais sobre a alelopatia clicando aqui!
Para o controle de plantas daninhas, o controle biológico deve ser associado a outros métodos de controle, pois apenas o controle biológico não é suficiente para um controle satisfatório.
Fungos como Plectosporium alismatis podem matar plantas de Sagittaria montevidensis, assim como Bipolaris euphorbiae pode controlar leiteiro (Euphorbia heterophylla). Porém, deve-se avaliar a seletividade dos organismos utilizados, cuidando para que a cultura também não seja prejudicada. Além dos fungos, outros organismos também podem controlar plantas daninhas. Observe a tabela abaixo:
Agente biológico | Planta daninha | Efeitos na planta daninha | Referência |
Stromatinia cepivora (fungo) | Allium triquetrum | Sintomas da doença observados em 15 dias após a inoculação | Tehranchian et al. (2014) |
Alternaria euphorbiicola (fungo) | Euphorbia heterophylla | Necroses visíveis em após 48 horas da inoculação | Varejão et al. (2013) |
Mycosphaerella polygoni-cuspidati (fungo) | Fallopia japonica | Incidência da doença entre 78% e 100% após a inoculação | Kurose et al. (2015) |
Myrothecium verrucaria (fungo) | Sesbania exaltata | Infecção e mortalidade próxima a 100% nas mudas dentro de 48 horas após a inoculação | Boyette et al. (2014) |
Aspergillus alliaceus (fungo) | Orobanche cernua | Efeitos no número de tubérculos, número de brotos: entre 70% e 80% em relação ao controle | Aibeke et al. (2014) |
Pseudomonas fluorescens BRG100 (bactéria) | Setaria viridis | O fungo coloniza a porção ventral do revestimento das sementes, pêlos radiculares e raiz, suprimindo o crescimento da planta. | Caldwell et al. (2012) |
Pseudomonas syringae pv. tagetis (bactéria) | Ambrosia grayi | Parcelas inoculadas com sintomas em aproximadamente 80% em comparação com a testemunha. | Sheikh et al. (2001) |
Araujia mosaic virus (ArjMV) (vírus) | Araujia hortorum | Mosaico, cloroses e distorção foliar. Atraso no crescimento da planta. | Elliot et al. (2009) |
Tyria jacobeae (L.) (inseto) | Senecio jacobaea | Lançamento de 1000 a 2000 larvas em dois anos, expandem a população e causam desfolha na planta. | Markin e Littlefield (2008) |
Neochentina eichorniae e Eccritotarsus catarinensis (inseto) | Eichhornia crassipes | Adultos e larvas causam impactos no vigor e reprodução da planta daninha, reduzindo peso fresco em cerca de 70%. | Ajuonu et al. (2009) |
Neohydronomus affinis (inseto) | Pistia stratiotes | Em laboratório, um casal de insetos por planta controla a planta daninha em seis semanas. | Diop et al. (2010) |
Controle biológico clássico (inoculativo) em plantas daninhas
Este tipo de controle pode ser feito principalmente para controlar plantas daninhas oriundas de outras regiões ou continentes. Ocorre que, ao inserir uma planta em um ambiente diferente, os seus inimigos naturais não estarão presentes nessas regiões, e assim, deve-se importar também os inimigos naturais dessa planta daninha.
O controle biológico clássico não reduz ou elimina imediatamente as plantas daninhas na área, mas sim reduzem e estabilizam a população destas plantas ao longo do tempo. Essa estratégia tem sido utilizada para o controle das plantas daninhas em pastagens extensivas, ecossistemas frágeis e reservas florestais. Essa estratégia não é recomendada para culturas anuais devido à lenta resposta de controle frente à curta duração do ciclo das culturas anuais.
Os organismos utilizados para o controle biológico devem ser específicos para determinadas espécies / grupo de espécies de plantas, e não devem possuir hospedeiros alternativos na área onde será inserido.
Existem três fungos originários do Brasil que são utilizados para o controle biológico em outros países:
- Colletotrichum gloeosporioides sp. miconiae usado para o controle de Miconia calvescens no Hawaii e Tahiti;
- Uredo tubercula utilizado para o controle de Lantana camara na Austrália, e;
- Kordyana sp. usado para controle de Tradescantia fluminensis em florestas da Austrália e Nova Zelândia.
Porém, apesar do sucesso em outras regiões do mundo, o Brasil nunca adotou o controle biológico de plantas, mesmo com diversas plantas exóticas causando prejuízos nos ecossistemas brasileiros.
Controle biológico inundativo em plantas daninhas
Consiste na produção em massa e aplicação de grande inóculo do agente de controle biológico na área infestada com planta daninha, causando um rápido controle da planta. Para isso, devem ser feitas aplicações regulares do organismo de controle biológico, que pode ser um fungo, uma bactéria ou um vírus, usando técnicas semelhantes às usadas nas aplicações de defensivos, sendo por isso chamado também de "bioherbicida".
O uso de bioherbicidas ainda engatinha no cenário mundial, devido a alguns fatores que devem ser superados:
- Alta especificidade dos produtos;
- Dificuldades técnicas na estabilidade da virulência dos agentes;
- Formulações e tecnologias de aplicação apropriadas;
- Dificuldades no registro dos produtos;
- Definição de doses adequadas;
- Dependência de muitas horas de molhamento foliar;
- Necessidade de adjuvantes específicos;
- Integração de bioherbicidas com herbicidas químicos.
Controle biológico aumentativo em plantas daninhas
O controle biológico aumentativo em plantas daninhas é feito com insetos fitófagos e fungos fitopatogênicos de difícil produção em larga escala, com várias aplicações realizadas periodicamente em partes aéreas das plantas daninhas.
Deve-se manter a fonte de inóculo no ambiente liberando os inimigos naturais na estação de cultivo anterior. Estudos feitos com tiririca mostraram como a liberação anual de esporos da ferrugem na primavera inibiram o florescimento e formação de tubérculos da planta.
Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo
Referências:
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