CI

Dormência e banco de sementes no controle de plantas daninhas

Leia sobre a dormência e banco de sementes de plantas daninhas.


A dormência de sementes é um mecanismo essencial para a sobrevivência de muitas plantas, especialmente plantas daninhas, impactando diretamente o manejo agrícola e o controle de ervas invasoras. Neste conteúdo, exploraremos os diferentes tipos de dormência, suas causas e como esse fenômeno influencia o banco de sementes no solo. Entender como a dormência afeta a germinação é crucial para implementar estratégias eficientes no controle de plantas daninhas, otimizando o preparo do solo e o uso de produtos químicos.

 

Dormência e germinação de sementes

A germinação de sementes depende de diversos fatores internos e externos. A disponibilidade de oxigênio, temperatura, água e, em alguns casos, presença de luz, são requisitos para ocorrer a germinação. Quando uma semente não germina, mesmo com as condições ambientais favoráveis, ela está em dormência, podendo ficar assim por dias, meses ou até anos.

A dormência é um mecanismo de sobrevivência, que evita que as plantas não germinem em condições não favoráveis, e assim, distribui a germinação das sementes ao longo do tempo. Tal fato contribui para formar um banco de sementes no solo, o que dificulta o controle de plantas daninhas, sendo praticamente impossível erradicar totalmente algumas espécies em uma área. O banco de sementes do solo é feito por muitas sementes, estando várias em dormência, retardando a germinação das plantas ao longo do tempo.

A dormência de sementes pode ser primária ou secundária.

 

Dormência primária

Ocorre quando as sementes ainda estão fisiologicamente ligadas à planta mãe, ocorre por ocasião da maturação destas. Impede que as sementes germinem quando estão ligadas à planta mãe. Esse tipo de dormência é facilmente superado pelo armazenamento das sementes secas por algum tempo.

 

Dormência secundária

A dormência secundária geralmente ocorre quando existem todas as condições necessárias para a germinação da semente, exceto uma. Pode ser baixo nível de oxigênio, temperatura elevada, baixa iluminação etc.

 

Diferença entre dormência e quiescência

A dormência é causada por um bloqueio feito pela própria semente. O controle da intensidade de dormência é feito por fatores genéticos. Já a quiescência é um estado em repouso que, quando a semente está viável, é superado assim que as condições ambientais se tornam favoráveis. A dormência é controlada por fatores endógenos, e a quiescência, por fatores exógenos.

 

Causas da dormência

Conhecer a causa da dormência é importante para planejar um método para superá-la. A causa é classificada conforme o mecanismo / localização do bloqueador ou inibidor:

  • Embrião imaturo / rudimentar: o embrião está morfologicamente imaturo, e geralmente precisa de três a quatro meses para completar o seu desenvolvimento, para posteriormente iniciar a germinação;
  • Impermeabilidade do tegumento à água: conhecidas como "sementes duras", possuem um tegumento que impede a absorção de água. Faz com que as sementes permaneçam viáveis por longo período
  • Impermeabilidade ao oxigênio: algumas espécies possuem o tegumento impermeável à absorção de oxigênio, liberação de gás carbônico ou ambos, sendo um mecanismo muito importante para espécies de poáceas;
  • Restrições mecânicas: ocorre quando as estruturas protetoras que envolvem o embrião possuem resistência mecânica que impedem o crescimento do embrião;
  • Embrião dormente: quando o próprio embrião está em dormência;
  • Inibidores internos: quando a compostos como o ácido abscísico (ABA), lactonas insaturadas ou compostos fenólicos reduzem a germinação de sementes;
  • Combinação de causas: quando ocorrem 2 destes mecanismos ou mais que impedem a germinação das sementes.

 

Dormência de sementes e o manejo de plantas daninhas

A dormência é um mecanismo de sobrevivência muito importante para as sementes de plantas daninhas, incrementando o banco de sementes no solo e assegurando a sobrevivência das espécies invasoras por diversos anos.

Para o controle de plantas daninhas, seria interessante que o máximo de sementes germine juntas através da manipulação da dormência. No campo, é difícil solucionar o problema de dormência das sementes de plantas daninhas. O preparo do solo promove a superação de dormência, ao passo que o não revolvimento promove a dormência de sementes enterradas.

Algumas alternativas de manejo podem mostrar bons resultados no controle de daninhas, como o plantio direto, o preparo do solo à noite (para evitar a germinação de sementes sensíveis à luz) e a aplicação de produtos químicos no solo para uniformizar a germinação das sementes. Porém, o uso de produtos químicos pode ter um alto custo, a ponto de serem inviáveis financeiramente. Um exemplo de estimulante de germinação é o etileno, podendo ser uma boa opção em alguns casos.

A persistência das sementes de plantas daninhas pode ser reduzida por operações de preparo do solo. Geralmente, sementes enterradas próximas à superfície do solo perdem a viabilidade de forma mais rápida do que sementes em posições mais profundas. Maiores temperaturas do solo também favorecem a perda de viabilidade das sementes. Ou seja, maiores taxas de deterioração ocorrem quando o preparo do solo é realizado várias vezes.

De forma geral, a ciência ainda carece de um melhor entendimento dos mecanismos de dormência e do processo de germinação das sementes de diversas espécies. O melhor entendimento destes processos poderá possibilitar o desenvolvimento de novas tecnologias para o controle da germinação das plantas daninhas.

 

Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo

 

Referências:

BRACCINI, A. de L.; Bancos de sementes e mecanismos de dormência em sementes de plantas daninhas. In: OLIVEIRA JÚNIOR, R. S. de; CONSTANTIN, J.; INOUE, M. H. Biologia e manejo de plantas daninhas. Curitiba, PR: Omnipax editora, 2011. cap. 2, p. 37-66.

MURDOCH, A. J.; ELLIS, R. H. Longevity, viability and dormancy. In: Fenner, M., (Ed.) Seeds: the Ecology of Regeneration in Plant Communities. Wallingford, EUA: CAB International, 1992. p. 193-229.

POPINIGIS, F.; Fisiologia da Semente. 2ª edição. Brasília, DF: AGIPLAN, 1985. 289 p.

TAYLORSON, R. B.; Environmental and chemical manipulation of weed seed dormancy. Rev Weed Sci, 3:135-154, 1987.

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.