Como realizar a mistura de defensivos em tanques?
Leia sobre a mistura de defensivos agrícolas em tanques e evite problemas na hora da aplicação.
A mistura de defensivos é muito realizada para otimizar as aplicações, melhorar o controle, diminuir custo e usar diferentes modos de ação para evitar o surgimento de resistências por parte do alvo. Porém, em diversas situações não dispomos de informações suficientes sobre compatibilidade entre produtos defensivos e afins, e as misturas podem resultar em diversos problemas. Além disso, a redução do volume de calda torna a mistura de produtos no tanque mais complexa ainda. É fundamental o entendimento das misturas para manter boa eficiência na aplicação de produtos agrícolas.
Incompatibilidade na mistura de defensivos
As misturas de diferentes produtos agrícolas podem resultar em diferentes efeitos que não ocorreriam caso fossem aplicados individualmente. Misturar dois ou mais produtos pode aumentar, diminuir ou até anular o efeito destes. Já foram relatados diversos casos de efeitos antagônicos entre defensivos, causando desordens químicas e físicas. Ocorrem efeitos de degradação, oxidação, redução, hidrólise, complexação e encapsulamento.
A ocorrência de tais efeitos depende das características físicas e químicas dos produtos utilizados, intensidade de agitação, pH, temperatura da água, volume de calda e ordem de colocação dos componentes em água ou óleo. Neste último caso, em caldas aquosas, são diluídos primeiro produtos solúveis em água para posterior diluição de produtos oleosos. Já para caldas oleosas, primeiro deve-se emulsificar o óleo, se necessário, adicionar os produtos solúveis em óleo e posteriormente os produtos solúveis em água, completando o volume com esse diluente.
Avaliando a compatibilidade em misturas em tanque
Misturas complexas devem ser testadas antes de serem inseridas nos tanques. Uma das formas é o "teste da garrafa", podendo ser feita em garrafas plásticas (PET), jarras ou baldes. Aplica-se a sequência da mistura e as proporções desses produtos em algum desses recipientes, dosando-se com seringas ou provetas, e agita-se a calda. Então, podemos visualizar previamente problemas de compatibilidade entre os componentes. A quantidade inicial de água deve ser proporcionalmente equivalente à aplicação em campo. Porém, vale ressaltar que esse teste não reproduz 100% a situação da mistura no tanque do pulverizador, visto que no sistema de pulverização existem outras variáveis, como a possível presença de resíduos da calda anterior.
Reduzindo a incompatibilidade nas misturas em tanque
Primeiramente ressalta-se a importância de consultar a bula e fabricantes do produto para obter informações quanto à misturas. Na ausência de recomendação, realiza-se o teste da garrafa.
Não existem regras para a ordem de adição de produtos no tanque. De forma geral segue-se a sequência recomendada pelo fabricante, e na ausência dessa recomendação, cada norma possui uma ordem diferente, observe abaixo:
- ABNT-NBR 13875/2014: WG > WP >SC > SL > EC, iniciando a mistura com 60% do volume de água;
- ASTM E1518-05/2012: SL > WG > WP > SC > EC, em água (volume total);
Geralmente as formulações sólidas são diluídas em um volume menor de água, e depois adiciona-se mais água e dilui-se as outras formulações. Volumes maiores de água reduzem a chance de incompatibilidade. Além disso, sabe-se que a água usada na calda deve ser de boa qualidade, sem íons e argila, que podem inativar os ingredientes ativos dos defensivos e desestabilizar as misturas.
É pouco comum problemas de incompatibilidade entre formulações do mesmo tipo. Os problemas geralmente ocorrem com formulações diferentes ou ingredientes ativos diferentes.
É importante conhecer algumas misturas que geralmente causam incompatibilidade. Como exemplo, podemos citar misturas de produtos com enxofre com formulações de base oleosa, bem como mistura de formulações sólidas, como WG e WP, com formulações oleosas (EC) e misturas de glifosato com 2,4-D em volumes reduzidos. Ainda sobre glifosato, alguns produtos a base desse ingrediente ativo podem apresentar incompatibilidade com em misturas com fertilizantes foliares.
Outro ponto fundamental é manter uma agitação adequada da calda para manter a homogeneidade. Misturas com formulações do tipo SC, WP e WG exigem um bom sistema de agitação. O cuidado deve ser maior ainda para sistemas de calda pronta, pois se ocorrer precipitação e acumulação no fundo do tanque, é difícil homogeneizar a calda novamente.
Manter as misturas em tanque em períodos prolongados, como de um dia pro outro, pode resultar em diversos problemas de incompatibilidade e alteração dos componentes. Além disso, ressaltamos a importância de se realizar uma adequada lavagem e descontaminação do tanque de pulverização sempre que necessário.
Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo
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