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O que é a resistência aos agrotóxicos / defensivos agrícolas? Como evitar?

Leia sobre o manejo da resistência ao aplicar defensivos agrícolas.


Foto: Divulgação

O que é a resistência aos agrotóxicos / defensivos agrícolas?

A resistência é um fenômeno que faz com que um organismo causador de problemas em uma lavoura (praga, doença ou planta daninha) fique menos suscetível aos efeitos do agrotóxico. O surgimento de resistências tem sido um desafio para a agricultura, pois o controle químico, frequentemente usado nas lavouras, ficou menos efetivo. Isso deixa as culturas mais suscetíveis aos problemas, resultando em maiores custos de produção e menor produtividade. 

 

Como ocorre a resistência aos agrotóxicos?

A resistência é um processo que ocorre naturalmente, mas o uso contínuo de agrotóxicos pode acelerar esse problema.

Os patógenos, plantas e insetos-praga são organismos altamente adaptáveis, que podem evoluir para a resistência a defensivos agrícolas, reduzindo a sua eficiência. O surgimento de resistências é uma ameaça à produção de alimentos a nível mundial. Existem inúmeros relatos de alvos biológicos com algum nível de resistência aos inseticidas, herbicidas, fungicidas etc. Mesmo com o aumento do controle químico nos diversos cultivos, a interferência das pragas agrícolas no Brasil não tem diminuído, devido ao aumento dos casos de alvos resistentes aos defensivos, dentre outros motivos.

Observa abaixo os mecanismos de resistência:

  • Destoxificação metabólica (enzimática): mais comum em insetos, ocorre quando os insetos possuem alto número de enzimas, ou formas alteradas de enzimas, que metabolizam o agrotóxico em uma taxa muito mais rápida;
  • Redução da sensibilidade no sítio-alvo: mais comum em fungos, ocorre quando o sítio de ligação do agrotóxico no alvo é modificado, e assim, o agrotóxico não se liga ao organismo alvo;
  • Redução da penetração: a cutícula de insetos resistentes reduz a penetração dos agrotóxicos;
  • Sequestro / compensação: enzimas são amplificadas ligando-se ao agrotóxico, e o mesmo não é metabolizado, mas sim, "sequestrado";
  • Resistência corporal: ocorre com insetos e ácaros. São alterações no comportamento da praga que evitem os efeitos letais dos agrotóxicos, como por exemplo se mover para fora do local onde o agrotóxico foi aplicado.

A resistência pode ser considerada um fenômeno de ocorrência natural, porém, é acelerada pelo uso inadequado dos defensivos. Alguns indivíduos já possuem, anteriormente à aplicação do defensivo, a característica de resistência, e a sua evolução ocorre pela alta pressão de seleção exercida pela aplicação repetida de produtos com o mesmo modo de ação.

Ocorre que, por exemplo, ao aplicarmos um inseticida em uma área, os insetos resistentes ficarão vivos, enquanto a maioria dos não resistentes irá morrer. Esses resistentes que ficarem vivos irão se reproduzir, e as próximas populações daquela espécie terão, proporcionalmente, mais indivíduos resistentes do que não resistentes.

Veja abaixo alguns exemplos de organismos com importância agrícola com alguma resistência aos defensivos:

  • Pragas: mosca-branca, ácaro da leprose, broca da cana-de-açúcar, gorgulho-do-milho, traça-do-tomateiro, ácaro rajado etc.;
  • Plantas daninhas: caruru-gigante, picão-preto, buva, capim-arroz, azevém, capim-marmelada etc.;
  • Fungos: mofo-cinzento, mancha-de-alternaria, mancha alvo, ferrugem-da-soja etc.

 

Como controlar pragas, doenças ou plantas daninhas resistentes aos defensivos?

As estratégias de manejo de resistência são bastante conhecidas pelos produtores, ainda assim, muitos não as implementam por motivos financeiros, ou adotam apenas as práticas mais convenientes. As estratégias envolvem três pontos básicos:

  • Monitoramento constante no campo, identificando mudanças na eficiência de defensivos utilizados;
  • Enfoque no controle considerando os níveis de dano econômico;
  • Uso de múltiplas estratégias de controle (manejo integrado);

Dentre as múltiplas estratégias de controle, podemos citar estratégias de prevenção, práticas culturais, controle biológico, plantas transgênicas, resistência genética, rotação de culturas, adubação e irrigação equilibradas etc. 

Também é importante usar agrotóxicos com diferentes modos de ação, usando apenas quando necessário, no momento mais adequado, respeitando as recomendações de aplicação e dosagem. Priorizar agrotóxicos com ação multi-sítio. Recomenda-se também evitar o plantio em grandes áreas com uma mesma cultivar suscetível, higienizar os equipamentos e máquinas utilizadas.

A proteção aos organismos benéficos que atuam como inimigos naturais também é uma estratégia eficiente, bem como o uso de produtos não específicos, como óleos e caldas, que possuem modo de ação não específico.

Quanto ao controle químico, a dosagem influencia muito na resistência. Doses acima do recomendado promovem uma alta pressão de seleção, ao passo que dosagens abaixo do recomendado permitem a seleção de diversas populações com diferentes níveis de resistência, havendo o intercruzamento entre elas, resultando também na evolução de resistências. Dessa forma, é fundamental respeitar as doses indicadas na bula, pois estas foram testadas pelas empresas em diferentes condições.

Diversos fatores podem alterar a dose do produto que atinge o alvo. Para evitar tais problemas, devemos escolher de forma adequada o volume de calda e a ponta de pulverização, bem como regular corretamente o equipamento de pulverização, e após, realizar a calibração do equipamento. Para ler sobre estas etapas, clique aqui! 

O uso de adjuvantes é uma alternativa que melhora a eficiência de defensivos agrícolas, o que auxilia no manejo da resistência, reduzindo as perdas que ocorrem durante a pulverização..

Ressaltamos também a grande importância de se rotacionar defensivos com diferentes mecanismos de ação, aplicar os produtos no momento correto, conforme indicado na bula (por exemplo, no estágio inicial de desenvolvimento das plantas ou no estágio mais vulnerável dos insetos), além de respeitar o intervalo de aplicação.

 

Plantas Bt e as áreas de refúgio

As plantas Bt são as plantas em que foram inseridos genes da bactéria Bacillus thuringiensis, que produz toxinas que matam algumas espécies de insetos-pragas. Essa tecnologia é usada nas culturas da soja, milho e algodão, fazendo com que estas variedades sejam resistentes a várias pragas, como a lagarta-da-soja, vaquinha, lagarta-elasmo, helicoverpa, spodoptera etc.

Porém, para usar a tecnologia Bt, deve-se fazer uma área de refúgio para evitar o aumento da resistência. A área de refúgio é uma área sem plantas Bt, onde terão os insetos não resistentes à tecnologia Bt. Estes irão se cruzar com os insetos resistentes (presentes na área Bt), combatendo a resistência. 

 

Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo

 

Referências:

AGOSTINETTO, D.; VARGAS, L. Resistência de plantas daninhas a herbicidas. In: AGOSTINETTO, D.; VARGAS, L. (Eds.) Resistência de plantas daninhas a herbicidas no Brasil. Pelotas: Editora UFPel, 2014. p.09-32.

BASS, C. et al. The global status of insect resistance to neonicotinoid insecticides. Pesticide Biochemistry and Physiology, v.121, p. 78-87, 2015.

HICKS, H. L. et al. The factors driving evolved herbicide resistance at a national scale. Nature Ecology and Evolution, v.2, p.529-536, 2018.

IRAC. Insecticide Resistance Action Committee. Disponível em: <https://www.irac-online.org/about/resistance/>. Acesso em 05 dez. 2023.

MELO, A. A.; ULGUIM, A. da R. Tecnologia de aplicação e a resistência aos defensivos agrícolas. In: ANTUNIASSI, U. R.; BOLLER, W. Tecnologia de Aplicação Para Culturas Anuais. 2. ed. rev. Passo Fundo, RS: Aldeia Norte, 2019. p. 247-260.

MORTIMER, A. M. Review of graminicide resistance. Disponível em: <http://ipmwww.ncsu.edu/orgs/hrac/monograph1.htm>. Acesso em: 05 dez. 2023.

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