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Grande produtor obtém mais de R$ 100 bilhões no mercado

Emissão de LCAs para financiar o setor deve continuar crescendo


Um grupo ainda restrito de grandes produtores agrícolas foi responsável no ano passado pela contratação de mais de R$ 100 bilhões de crédito no mercado financeiro por meio de uma forma ainda recente de financiamento do setor: as Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs). Somente na BM&FBovespa, a emissão de LCAs subiu duas vezes e meia, passando de R$ 36,4 bilhões no fim de 2012 para R$ 89,9 bilhões no fim do ano passado. Na Cetip, os estoques também cresceram, mas a um ritmo menor. Entre novembro de 2012 e 2013, o volume financeiro em estoque cresceu 21,77%, de R$ 22,5 bilhões para R$ 27,4 bilhões.

As LCAs são emitidas por instituições financeiras para investidores de acordo com o lastro em crédito concedido a produtores agrícolas, na mesma proporção. Porém, a maior parte dos bancos emissores prefere buscar lastro junto a produtores com alto faturamento como forma de minimizar o risco do título.

É o caso do Banco ABC Brasil, que trabalha apenas com clientes com receita acima de R$ 30 milhões. Segundo Paulo Romagnoli, diretor de produtos da instituição, o perfil das LCAs é para os grandes produtores. "Só quem já pegou tudo o que podia de crédito rural é que toma esse dinheiro", afirma o analista.

"Esse produto acaba sendo um recurso utilizado por falta de mais opção de linhas oficiais", afirmou ao DCI Arlindo Moura, CEO da Vanguarda-Agro.

Apesar de comandar uma das maiores empresas produtoras de grãos do País, Moura afirma que até agora não precisou recorrer às letras de crédito para se financiar. "Para investimento, buscamos sempre o Finame ou o FCO [Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste] e, para capital de giro, buscamos o crédito agrícola", disse.

Segundo o executivo da Vanguarda-Agro, o custo para o produtor brasileiro captar recursos junto aos bancos por meio de LCAs "é muito alto".

O aumento das emissões desses ativos está vinculado também à demanda vultosa por parte dos investidores, que buscam nas letras de crédito um ativo com retorno alto e no curto prazo, como alternativa à bolsa de valores.

"Pelo cenário econômico um pouco menos robusto, subiu a demanda por papéis com retorno no curto prazo com rentabilidade mais apropriada", diz Jorge Simão, responsável pela captação do Banco Espírito Santo. "O aumento do limite de seguro do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) para R$ 250 mil contribuiu para o aumento da procura", diz.

Para Simão, o retorno de uma LCA gira em torno de 110% ante a rentabilidade de um CDI, considerando um prazo de liquidez que varie entre um e dois anos.

Desequilíbrio

O crescente apetite do mercado financeiro pelas LCAs se ajusta também à ainda baixa quantidade de recursos disponíveis pelas linhas de crédito tradicionais, segundo o ex-ministro Alisson Paolinelli. "É um derivativo que estão arrumando para colocar o agricultor cada dia mais dependente do banco", afirma.

Para Paolinelli, a LCA deveria ser apenas um mecanismo de financiamento de urgência. "É bom na hora de comercializar, ou em situação de aperto. Não é que seja ruim, mas não devia ser instrumento de política agrícola".

Além do custo alto e restritivo para pequenos e médios produtores, ele critica a vulnerabilidade do agricultor em casos de crise de produção ou de crise financeira.

Expectativas para 2014

A emissão de LCAs para financiar o setor deve continuar crescendo neste ano, acredita Jorge Simão, do Banco Espírito Santo. "Com a volatilidade do mercado, querendo encurtar prazos, a LCA tende a ser um dos produtos mais demandados em 2014", aposta.

A perspectiva de crescimento dos recursos disponibilizados via LCA deve ocorre junto ao aumento de 51,2% no volume de crédito disponibilizado pelo governo para a safra atual, com R$ 158 milhões disponibilizados.

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