Feijão faz as pazes com o mercado
Preços mais equilibrados devem pressionar menos a inflação
Com espaço cativo no prato do brasileiro, o feijão tem variações de preços que passam de 50% ao ano no campo e interferem drasticamente no custos dos alimentos – e na inflação do país. Num momento de problemas econômicos, no entanto, promete mais equilíbrio, com relação menos conflitante entre o setor produtivo e consumidor.
O plantio da principal das três safras anuais começa neste mês, na Região Sul. O Paraná, maior produtor nacional, com participação de 20% tanto na safra das águas (verão) quanto na produção anual, revê o espaço da cultura com possibilidade de reduzir a produção. Mas colheita de 200 mil a 300 mil toneladas na Argentina direcionadas ao Brasil rebate a tendência de alta.
As importações deste ano estão estimadas em 150 mil toneladas, metade do volume de anos como 2012 e 2013. Com a oferta argentina, o Brasil pode até dispensar importações da China, aponta o presidente do Instituto Brasileiro do Feijão (Ibrafe), Marcelo Lüders.
Esse quadro está sendo considerado essencial para amortecimento das oscilações nos preços internos, que em plena entressafra têm sua tendência de alta arrefecida. Isso vale principalmente para o feijão preto, disponível no mercado internacional.
Em relação ao carioca, a menor pressão por parte da soja, que perdeu valor no mercado internacional e tende a avançar menos sobre outras culturas, cumpre o papel de limitar as correções de preços. Esse quadro pode virar se os Estados Unidos confirmarem problema no plantio, diz Lüders.
No campo, os preços limitados dosam o cultivo do feijão preto. Em Prudentópolis, reduto produtor no Centro-Sul do Paraná, a cultura pode perder até 10% de sua área, aponta a equipe técnica local do Instituto Emater. “O produtor ainda tem margem menor no feijão do que na soja e só a notícia de que o Brasil vai importar reduz os preços imediatamente”, conta o extensionista Marlon Tiago Hladczuk. As lavouras do feijão preto estão caindo de 14 mil para 12,5 mil hectares, afirma. Esse corte não é considerado suficiente para alavancar os preços.
Cotações ao produtor 77% acima das praticadas um ano atrás rebatem a pressão da soja, conta o produtor de feijão carioca Nitio Feversani, de Bom Sucesso do Sul (Sudoeste do Paraná). Ele normalmente cultiva 100 a 120 hectares e vai destinar 150 hectares à leguminosa em 2015/16. “Na última safra tivermos preços entre R$ 100 e R$ 120 por saca, bem melhores que os R$ 30 a R$ 40 da colheita anterior [quando a qualidade do produto foi afetada pelo excesso de chuva]”.
200 mil
mil toneladas de feijão preto devem ser ofertadas pela Argentina ao Brasil na entressafra brasileira. Volume é maior que o produzido pelo Paraná nesta variedade e provoca pressão sobre os preços em redutos como o de Prudentópolis, no Centro-Sul do estado. Mesmo assim, queda no preço é de 10%, enquanto carioca, sem fonte externa, subiu mais de 70%.
20%
da produção nacional de feijão sai das lavouras do Paraná, seja na safra das águas ou na produção anual. Com 700 mil toneladas, estado lidera colheita, à frente de Minas Gerais e de Mato Grosso. A produção nacional de aproxima das 3,35 milhões de toneladas consumidas anualmente. As lavouras mato-grossenses focam no feijão caupi, para exportação.
Peso dobrado
Para cada quilo de feijão preto, o consumidor brasileiro compra três quilos de carioquinha, o que determina a produção. Como essa variedade não é importada e a produção vinha caindo, os preços subiram no campo. Os produtores tendem a manter ou ampliar a área do carioca, a não ser que a soja mostre força para continuar roubando área de leguminosa.
Coadjuvante
O cultivo de feijão preto perde impulso diante de preços menos atraentes que os de um ano atrás. A R$ 85, a saca não dá prejuízo, mas tem margem bruta de cerca de 20%, menor que os 30% a 40% esperados na soja. A entrada de feijão argentino é apontada como a principal causa dessa retração. Como o feijão preto é minoria na lavoura, esse quadro não determina a safra.