Cajucultura melhora vida de agricultores no semiárido da BA
Apesar de ser uma planta indicada para o semiárido, o caju só começou a despontar, como cultura economicamente atraente no nordeste baiano, há poucos anos
Apesar de ser uma planta indicada para o semiárido, o caju só começou a despontar, como cultura economicamente atraente no nordeste baiano, há poucos anos. “A área plantada, apesar de extensa, é totalmente irregular e oriunda de mudas não enxertadas. Há predomínio da exploração extrativista da castanha e o pedúnculo (polpa do caju) ainda é pouco utilizado”, conta o agrônomo da EBDA, José Augusto Garcia. Ele explica que o preço da castanha in natura, pago pelos “atravessadores” é baixo e, por esse motivo, pouco estimulante para os agricultores. O cenário começou a mudar com a instalação de fábricas de beneficiamento de frutas na região, que se interessaram pela compra da polpa do caju.
“Com comprador garantido, assistência técnica e financiamento, ficou bom investir no caju. Numa área de 4,5 hectares, tenho 724 pés de caju produzindo 18 toneladas do fruto por ano. A caixa de caju inteiro, com 18 quilos, é vendida com preços que variam entre R$20 e R$25, chegando a R$30, a depender da qualidade do fruto”, garante o agricultor Josiano Melo de Souza. Ele afirma que o foco da sua produção é o caju de mesa e o fornecimento de polpa para a indústria, por serem mais lucrativos. A castanha, cujo quilo é vendido por cerca de R$1, hoje é um subproduto.
A agrônoma da EBDA, Mary Ferreira de Souza, explica a vantagem de utilizar mudas enxertadas, que garantem uma produção uniforme e em acordo com o objetivo comercial. Ela indica as variedades CCP76, CCP09, BRS 189 e Embrapa51 para a comercialização da polpa, por suas características: “esses tipos possuem menor teor de tanino, substância que causa o amargor e o pigarro, grande concentração de açúcar e são visualmente atraentes, por isso são as melhores para o consumo de mesa e fabricação de sucos”, afirma.
Garcia defende o incentivo à cultura do caju por apresentar características que favorecem a fixação do agricultor no campo durante o período mais crítico do ano, a estação seca. “É na época da estiagem, entre novembro e janeiro, que acontece a colheita dos frutos. A cajucultura pode ser conciliada com as lavouras tradicionais de inverno, como feijão, milho e abóbora, ocupando a mão de obra e garantindo renda para as famílias durante todo o ano”, assegura.
O agricultor Demerval de Jesus confirma: “Antes, eu dependia das chuvas para ter feijão e ainda precisava trabalhar nas roças dos outros para completar minha renda. Depois do caju, sou eu quem contrata trabalhadores. Aqui só fica sem dinheiro quem quiser”.
Fomento à cajucultura
A EBDA, em parceria com órgãos municipais, cooperativas e associações de produtores, alavancou o desenvolvimento da cajucultura no sertão baiano. A empresa trouxe para o Estado a tecnologia para produção de mudas enxertadas, produzindo 60 mil clones de diversas variedades por ano. Realiza também atividades de pesquisa, assistência técnica e extensão rural (Ater) para aumentar a produtividade dos pomares.
Durante 2011, o Centro de Formação de Agricultores Familiares do Território Semiárido Nordeste II (Centrenor), em Ribeira do Pombal, ofertou cursos sobre as tecnologias para a cajucultura e beneficiamento dos produtos, qualificando a mão de obra de vários agricultores e agentes comunitários, que se tornam multiplicadores dos conhecimentos.
Nos Dias de Campo sobre o cultivo do cajueiro anão precoce e substituição de copas de plantas improdutivas, realizados nos municípios de Banzaê, Itapicuru e Tucano, mais de 600 agricultores familiares puderam conhecer o trabalho da EBDA e os benefícios da técnica que visa aumentar os índices de produção, produtividade e renda.