Análise semanal do mercado da soja
Comentários referentes ao período entre 03/08/2012 a 09/08/2012
Emerson Juliano Lucca²
A novidade da semana foi o retorno de algumas chuvas nas regiões produtoras estadunidenses, após longas semanas de clima seco. Tanto é verdade que, pela primeira vez depois de semanas, as projeções sobre as condições das lavouras permaneceram as mesmas da semana anterior, ou seja, até o dia 05/08, para a soja, havia 39% de lavouras entre ruins a muito ruins, 32% regulares e 29% entre boas a excelentes. Para o milho o quadro ficou em 50% entre ruins a muito ruins, 27% regulares e 24% entre boas a excelentes (crescimento, neste último estágio, em um ponto percentual).
Na verdade, nesse mês de agosto as lavouras de soja dos EUA entraram em estágio crítico para a definição de seu potencial em produtividade (93% das lavouras estão em floração e 71% em frutificação). Caso o mês seja de chuvas, as perdas ainda podem ser reduzidas. Por isso, o mercado deverá oscilar muito ao sabor das informações
climáticas. Mesmo assim, como já vimos no boletim da semana anterior, os institutos privados estadunidenses estão reduzindo bastante a projeção da futura safra. Nesse sentido, ganha muita força o relatório do USDA, de oferta e demanda, que será anunciado nesta sexta-feira (10/08), o qual iremos comentar com detalhes em nosso
próximo comentário.
O mercado espera um recuo de 9% na produção de soja e de 15% na produção de milho, em relação ao relatório de julho passado. Com isso, a soja viria para 75,8 milhões de toneladas e o milho para 278,7 milhões de toneladas. Ao mesmo tempo, o mercado espera estoques finais nos EUA de 3,13 milhões de toneladas (contra 3,54 milhões em julho) para a soja e de 16,5 milhões de toneladas (30 milhões em julho) para o milho.
Paralelamente, os registros de exportação dos EUA, até o dia 26/07, indicaram um volume de 246.400 toneladas de soja, ficando abaixo da expectativa do mercado, que chegava a cogitar um volume de até 605.000 toneladas. Já os embarques semanais, na semana encerrada em 02/08, atingiram a 346.200 toneladas, acumulando desde
setembro/11 (início do atual ano comercial) um volume de 35,2 milhões de toneladas, contra 39,6 milhões no mesmo período do ano anterior.
Pelo lado da demanda, confirmando a informação da semana anterior, a China, diante dos altos preços mundiais da soja, vendeu 400.900 toneladas de seus estoques de soja no seu mercado interno visando segurar a inflação local. O preço médio alcançado teria sido recorde, batendo em US$ 691,00/tonelada, ficando em sintonia com o que se assiste no mercado mundial. Novos leilões de venda de estoques deverão ocorrer naquele país. (cf. Safras & Mercado)
Já a Argentina anuncia que seus produtores negociaram 76% da safra de soja 2011/12, contra 69% em igual período do ano anterior.
agosto/setembro. Já em Rosário (Argentina), o prêmio fechou a semana entre 90 centavos e US$ 1,10/bushel, igualmente em elevação.
No mercado brasileiro, diante dos altíssimos preços internos, a comercialização das safras avança fortemente. No que diz respeito à safra passada (2011/12) o Brasil já teria negociado 95% (73% nesta época para a safra anterior) do seu total, enquanto o Rio Grande do Sul fica com 82% (56% nesta época para a safra anterior). Em todos os demais Estados brasileiros as vendas ultrapassam os 90%. Quanto as vendas antecipadas referentes à futura safra 2012/13, o país já negociou 39% do volume esperado (que poderá ser um recorde superior a 83 milhões de toneladas se o clima ajudar), contra apenas 14% nessa época na safra anterior. O Rio Grande do Sul acusa vendas futuras de 19% contra apenas 5% na safra anterior, nesta época. No Paraná o percentual está em 26%, no Mato Grosso em 55%, no Mato Grosso do Sul em 37%, em Goiás 47%, São Paulo 27%, Minas Gerais 37%, Bahia 43% e Santa Catarina 25%.
Quanto aos preços, os mesmos cederam um pouco na semana diante do recuo em Chicago e da estagnação do câmbio ao redor de R$ 2,02 por dólar. Ao mesmo tempo, não se pode esquecer que houve um recuo nos prêmios pagos nos portos nacionais.
Assim, o balcão gaúcho fechou a semana na média de R$ 69,94/saco, havendo regiões que já praticavam R$ 67,00 no final da semana. Quanto aos lotes, os mesmos oscilaram entre R$ 80,65 e R$ 81,15/saco. Nas demais praças do país, os lotes giraram entre R$ 70,25/saco em Sapezal (MT) e R$ 81,25/saco em Cascavel (PR). Já
na BM&F/Bovespa, o contrato para setembro/12 ficou em US$ 40,00/saco, enquanto o mês de novembro fechou em apenas US$ 29,01/saco. Para maio/13 o saco ficou em US$ 30,51.
Sobre os preços futuros, o Paraná registrou, para março/13, o valor de R$ 65,00/saco em Paranaguá (porto). No Rio Grande do Sul, o interior registrou, para maio/13, o valor de R$ 61,50/saco na compra. No Mato Grosso do Sul, para março/13, o valor do saco ficou em R$ 54,00. Em Goiás, para o mesmo mês, houve indicações de compra a R$ 59,00/saco. Na região de Brasília o preço bateu em R$ 56,00/saco para abril/13. A diferença entre o disponível atual e esses preços futuros tem sido ao redor de R$ 20,00/saco a menos no futuro, nas diferentes regiões do país. Em Minas Gerais, para abril/13 o mercado indicava a compra a R$ 59,00/saco. Enfim, na Bahia o maio/13 estava a US$ 26,30/saco (ao câmbio de hoje isso equivale a R$ 53,12/saco), enquanto no Maranhão o saco futuro valia R$ 55,00 para o mesmo mês. No Piauí, também para maio/13, o valor era de US$ 25,50/saco (R$ 51,50/saco). No Tocantins o valor futuro, para o mesmo mês, ficava em R$ 54,20/saco. (cf. Safras & Mercado)
Enfim, o governo brasileiro anuncia que não irá faltar farelo de soja no país, conforme muitos cogitavam, porque somente as usinas de biodiesel estarão ofertando 12 milhões de toneladas do produto durante o ano, resultado da produção de 2,4 bilhões de litros de óleo de soja para o biodiesel. O biodiesel produzido no Brasil é composto por 80% de óleo de soja, 15% de sebo bovino e 5% de outras fontes, como o caroço de algodão. (cf. Ministério da Agricultura)
Abaixo seguem os gráficos da variação de preços da soja e seus derivados no período de 13/07 a 09/08/2012.
1_Professor do DACEC/UNIJUI, doutor em economia internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA.
2_Economista, Analista e responsável técnico pelo Laboratório de Economia Aplicada e CEEMA vinculado ao DACEC/UNIJUÍ.