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Fertilizantes fermentados

Leia sobre os fertilizantes fermentados "Bokashi".



As formulações do tipo "Bokashi" são misturas de materiais orgânicos, de origem animal e/ou vegetal, submetidos a processos fermentativos controlados (predominantemente lácticos), sendo utilizado como adubo orgânico, fornecendo nutrientes sob a forma de quelatos orgânicos, ou seja, presos na estrutura orgânica, de forma que não se percam facilmente por volatilização ou lixiviação. Este adubo contém teores elevados de nutrientes, sendo recomendado para cultivos exigentes em nutrição, podendo ser aplicado no plantio ou em cobertura. É formulado com ingredientes que não contenham resíduos tóxicos, geralmente feitos de materiais com elevado teor de nitrogênio misturado com materiais de elevado teor de carboidratos. Sua produção é mediada por uma misturar de organismos (atuando como inoculante) que fermentam a matéria orgânica, produzindo ácidos orgânicos, vitaminas, enzimas e polissacarídeos, todos possuindo importância às plantas. Além disso, proporciona condições favoráveis à multiplicação e atuação da microbiota benéfica existente no solo, exercendo assim um efeito revitalizador, interessante para solos exauridos e degradados. Estes organismos incluem bactérias produtoras de ácido lático, bactérias fotossintetizantes, leveduras, actinomicetos e fungos. Na ausência deste inoculante, pode-se usar Kefir, o que confere ao produtor autonomia para preparar seu próprio inoculante.

Experiências com produtores orgânicos no RJ apontam a viabilidade de uma formulação simplificada de "Bokashi" feita a partir da fermentação de 60% de farelo de trigo e 40% de torta de mamona, com o inoculante comercial EM4©. Os resultados são promissores, porém os altos preços dos componentes (além da indisponibilidade, a depender da região) tornam este produto relativamente caro. Embora as matérias-primas para a produção deste fertilizante possam ter um alto custo por kg, ele geralmente é aplicado em dosagens baixas (2 a 3 toneladas por hectare ou 200 a 300 gramas por m²).

Resíduos de corte de determinadas espécies vegetais podem servir como fontes de nitrogênio e carboidratos para o bioprocesso fermentativo. Trata-se de uma maneira de se agregar valor a um produto de descarte, além de gerar uma fonte de renda alternativa e cumprir um papel ambiental e social. Desta forma, dá-se importância aos estudos e pesquisas para verificar a diversidade de formulação de adubos fermentados, dando preferência à resíduos orgânicos de fácil obtenção na unidade de produção.

 

Fazendo o Bokashi

Quanto à formulação, existem várias opções, mas geralmente é elaborado com farelos e tortas vegetais, como por exemplo farelo de arroz ou de trigo e torta de mamona, dentre outros, e pode ser enriquecido com matérias de origem animal, como farinha de carne e osso ou farinha de peixe, e com alguns minerais naturais como pó de rocha ou fosfato, em pequenas quantidades para não atrapalhar a fermentação. Relembrando que é importante optar por matérias-primas fáceis de encontrar na região ou na propriedade, de forma a baratear a produção bem como evitar degradação ambiental causada por estes materiais. 

Além de matéria orgânica balanceada, o Bokashi necessita também de fermentos biológicos para sua produção, podendo ser capturado em solos de mata, kefir ou produtos comerciais que aceleram a compostagem, formados por grupos de leveduras, actinomicetos e bactérias láticas ou fotossintetizadoras.

 

Para capturar os organismos na mata, deve-se proceder da seguinte forma:

  1. Cozinhar cerca de 700 gramas de arroz (sem sal e sem óleo)
  2. Colocar o arroz cozido em uma bandeja de madeira, plástico ou calhas de bambu
  3. Cobrir o recipiente com tela fina para proteger o arroz
  4. Colocar o recipiente com o arroz sobre solo saudável, na mata, próximo a sua borda, retirando a serrapilheira embaixo da bandeja e colocando sobre a tela no recipiente.
  5. Após 10 ou 15 dias, retire as partes mofadas rosa, azul, amarelo e laranja para uso, descartando os mofos cinza, marrom e preto.

 

Para ativar os microrganismos, proceda da seguinte forma:

  1. Coloque o arroz colorido em um recipiente com 10 litro de água sem cloro
  2. Adicione um litro de melaço de cana ou 1 kg de açúcar mascavo (o melaço ou o açúcar podem ser substituídos por caldo de cana na proporção de 5 litros de caldo para 5 litros de água limpa sem cloro)
  3. Colocar a mistura em um recipiente de 10 litros com tampa (pode-se substituir por 5 garrafas pet de 2 litros) e feche bem
  4. Abrir a cada dois dias para sair o gás, fechando em seguida
  5. Quando não houver mais produção de gás, os organismos estarão prontos. Isto ocorre em aproximadamente 10 a 15 dias. O cheiro deve ser doce, agradável, e o produto possuir um aspecto alaranjado. Caso o cheiro seja ruim, o produto não deve ser usado. Armazenar o produto em local fresco e escuro, podendo durar até 1 ano. 

 

Produção do bokashi

O bokashi deve ser feito em um local coberto, abrigado do sol de da chuva, e com piso liso para facilitar a mistura. Pode ser feito em cima de lonas plásticas.

As matérias recomendadas para fazer o Bokashi são farelos de diversos cereais (arroz, trigo, cevada), oleaginosas (soja, amendoim) ou farinha de origem animal (peixe, carne e osso). Pode-se também usar cascas de arroz, café ou soja, desde que não ultrapassem 15%.

Um exemplo de receita básica de Bokashi é 120 kg de farelo de trigo, 100 kg de torta de mamona, e fermento preparado com 50 a 60 litros de água, 500 ml de fermento ou 2 litros de Kefir e 500 g de melaço de cana, açúcar mascavo ou cristal.

Conforme citado anteriormente, a composição do Bokashi depende dos materiais disponíveis na região e/ou na propriedade, podendo ser um produto mais sofisticado ou mais simples. 

Tabela 1. Tipos de materiais e porcentagens médias para a produção de Bokashi.
Tipo Exemplo Quantidade
Farelos de cereais Farelos de trigo, de cevada, de arroz etc. 50 a 60%
Tortas de oleaginosas Torta de mamona, de soja, de algodão, de girassol, de dendê 35 a 40%
Outros materiais vegetais Palhas e cascas trituradas, resíduo de banana, aipim, resíduos de agroindústria, fubá etc. Máximo 15%
Materiais de origem animal Farinha de carne e osso, farinha de peixe Máximo 3%
Minerais Fosfato natural, pó de rocha, calcário Máximo 2%

 

O material seco deve ser pesado e misturado, acrescentando-se o fermento em seguida e homogeneizar com auxílio de enxada, microtrator ou betoneira. A homogeneização é uma etapa fundamental na qualidade do produto, devendo ser feita de maneira eficiente. A fermentação pode ser feita de maneira:

  • Aeróbica: com a presença de ar, fica pronto em 7 dias. Deve ser feito em local coberto, com piso liso, misturando os ingredientes na forma de canteiro (máximo 30cm de altura), e depois cobrindo com os sacos dos farelos. O material deve ser revirado com pá ou enxada sempre que ultrapassar a temperatura de 45ºC, e não podendo atingir 50ºC. Deve ser revirado do segundo até o sétimo dia, porém a partir do terceiro dia, não há mais a necessidade de cobrir com sacos dos farelos. Já no quarto dia, deve-se baixar a altura do canteiro para 10 cm e revirar diariamente para que o material fique seco, finalizando com 5 cm de altura no sétimo e último dia, com o material bem seco. Os materiais usados são:
    • 3 litros de microrganismos eficientes (ou 30 litros de Kefir)
    • 1 tonelada de material seco
    • 3 litros de melaço ou 3 kg de açúcar mascavo
    • Completar com água até chegar a 300 litros

 

  • Anaeróbico (Kenki-Bokashi): realizado sem a presença de ar, normalmente fica pronto em 21 dias. Em locais de altas temperaturas, pode ficar pronto antes. Pode ser feito em local descoberto, sobre uma lona, porém não podem ocorrer chuvas. Os materiais utilizados são:
    • 1 tonelada de material seco
    • 1,5 a 2,0 litros de microrganismos eficientes (ou 20 litros de kefir)
    • 1,5 a 2,0 litros de melaço (ou 1,5 a 2,0 kg de açúcar do tipo mascavo)
    • Completar com água até atingir 150-200 litros, conforme a necessidade.
  • Misturar bem o material, acrescentando a água aos poucos, podendo-se usar um regador. Revirar o material a cada regador com a solução de fermento. O processo de homegeneização da umidade no material é demorada, mas é atingida quando ele é apertado com a mão e se formar um torrão que se desfaz facilmente. Após a mistura, guarda em sacos plásticos grandes e resistentes, com sacos de ráfia por fora. O ar deve ser retirado dos sacos antes de fecha-los. Para evitar a umidade, colocar uma camada de 3 centímetros de farelo de trigo seco antes de fechá-lo. Pode-se também guardar em bombonas de plástico com tampa, desde que sejam vedadas. Após 21 dias, o produto está pronto para uso, podendo ser usado até um ano depois, a depender das condições de armazenamento. 

 

Aplicação do bokashi

A aplicação é feita mensalmente, ao longo do ciclo da cultura, evitando excessos. Abaixo apresentamos doses generalizadas para o uso do Bokashi. Ressaltamos a importância de se analizar a composição do Bokashi, bem como consultar um Engenheiro Agrônomo para se realizar uma análise do cenário e fornecer recomendações adequadas.

  • Preparo do solo: aplicar 200 a 400 gramas por m² a lanço, a depender da situação de fertilidade do solo e exigência da cultura. Se o Bokashi ficar exposto, pode ser lavado pela chuva ou prejudicar a infiltração de água. Assim, recomenda-se cobrir o solo após a aplicação, usando palhada ou roçada. Para aumentar a eficiência, aplicar em cima de uma fonte de matéria orgânica produzida localmente, e incorporar à uma profundidade de 10 centímetros, e fazer o plantio em aproximadamente 10 dias depois, para evitar risco de aquecimento. Caso seja aplicado em covas, misturar à terra e aguardar também o período antes do plantio.
  • Cobertura:
    • Plantas com pequeno espaçamento (alface, cebolinha, rúcula...): aplicar 200 gramas por m² entre as linhas, misturar e cobrir com cobertura morta, evitando aplicar a menos de 5 centímetros das mudas.
    • Plantas com espaçamento médio (tomate, berinjela, quiabo...): aplicar 200 gramas por metro quadrado divididas em cada pé.
    • Fruteiras: aplicar sobre a projeção da copa em sulcos ou sobre o solo, protegendo com palha da roçada, a quantidade de 1 a 3 kg por ano. Dividir a dose em três momentos de aplicação: início da época das chuvas, final da época das chuvas e na floração

 

Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo

 

Referências:

OLIVEIRA, Eva Adriana G. de et al. Compostos orgânicos fermentados tipo "bokashi" obtidos com diferentes materiais de origem vegetal e diferentes formas de inoculação visando sua utilização no cultivo de horatliças. 1. ed. Seropédica, RJ: Embrapa Agrobiologia, 2014.

OLIVEIRA, Eva Adriana Gonçalves de et al. Formulações tipo “bokashi” como fertilizantes orgânicos no cultivo de hortaliças. Orientador: Raul de Lucena Duarte Ribeiro. 2015. Dissertação (Doutorado em Fitotecnia) - Instituto de Agronomia, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ, 2015.

SIQUEIRA, Ana Paula Pegorer de; SIQUEIRA, Manoel F. B. de. Bokashi: Adubo Orgânico Fermentado. Niterói, RJ: Coordenadoria de Difusão de Tecnologia CDT/Pesagro-Rio, 2013.

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