MT: Queda área plantada do milho está confirmada. Resta saber o tamanho
Depois de semanas de especulações, Aprosoja/MT confirma impacto
Mato Grosso vai produzir menos milho nesta safra. A retração, não apenas na oferta, mas especialmente sobre a área plantada, é reflexo dos problemas enfrentados no mês de outubro, quando a forte seca inibiu o cultivo da soja, atrasando o início da safra 2014/15 no Estado e alterando o calendário das lavouras. O tamanho da retração espacial é regionalizado, mas os principais atores do setor, os produtores, afirmam que não haverá tempo hábil para se fazer a tradicional safrinha de milho logo após a colheita da soja. Há quem aposte em reduções pontuais de até 50% na área.
A afirmação de redução foi feita ontem pela Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado (Aprosoja/MT). Como o milho é a principal opção de segunda época para o produtor mato-grossense, e o cereal sucede a oleaginosa no ciclo produtivo, faltará terra disponível e janela agronômica para o milho, a partir de fevereiro de 2015. No Estado o milho é plantado na medida em que a soja é colhida. Quem tem maquinário, faz as duas coisas de forma simultânea, com a colheitadeira a frente e a plantadeira logo atrás. A seca que estreitou a janela de plantio da soja – melhor momento para o desenvolvimento da planta – é a mesma que estrangula a janela do milho, que se fecha em 20 de fevereiro. De agora em diante, qualquer novo atraso sobre a soja – probabilidade de chuvas durante a colheita é muito grande devido à intensidade das precipitações de janeiro e fevereiro – reduzirá ainda mais a disponibilidade de janela e área ao cereal.
Como aponta a Aprosoja/MT, até agora, 67% da área de soja foi plantada no Estado. No mesmo momento de 2013 eram 86%. De acordo com o diretor técnico da entidade, Nery Ribas, o comportamento climático tem sido determinante para a próxima safra. “Temos ouvido dos produtores decisões de reduzir drasticamente a área plantada de milho. Na região leste, por exemplo, essa queda pode chegar a até 40%”, enfatizou.
Ainda de acordo com estimativas da entidade, com base nas informações dos produtores e visitas in loco, as regiões oeste e sul podem reduzir 15% da área plantada. Já no norte, região de maior produção, a queda estimada pode chegar até 30%.
MERCADO - A notícia boa neste primeiro momento é que com uma safra quase 22% menor – na comparação entre 2012/13, 22,53 milhões de toneladas, ante 17,71 milhões em 2013/14 – as projeções que apontam para a falta de milho no mercado interno vão se concretizando e o mercado já começa a se antecipar ao problema. O cereal que até agosto/setembro não tinha preço atrativo para garantir investimentos para a nova safra e viu seu preço internacional ser reduzido à metade na Bolsa de Chicago, volta a ganhar valor. Em Mato Grosso, a saca que chegou a valer R$ 9 – metade do custo de produção por saca - em algumas praças há poucos meses, ensaia bater R$ 20 e é a aposta dos produtores.
Conforme o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), da safra 2013/14, 80% da produção está vendida, ou seja, mais de 14 milhões têm dono, restando pouco mais de 3 milhões para segurar a demanda até a chegada da nova safra, a partir de junho do ano que vem.
O produtor de Sinop (503 quilômetros ao norte de Cuiabá), Antônio Galvan, frisa que desde que o atraso no plantio da soja começou a desenhar os problemas de área ao milho safrinha, o mercado passou a reagir e a buscar o grão. “Acredito que logo a saca estará a R$ 20 e mesmo assim, vai faltar milho. O excesso de oferta que depreciou preços durante todo este ano dá espaço à escassez”. A tendência, com a possibilidade de ganhos sobre a saca, é de o produtor segurar o milho que tiver e deixar para comercializar somente em 2015, quando o cenário estará definido.
AVALIAÇÃO – O Imea explica que desde a safra 2008/09 verificou-se que, quando a semeadura da oleaginosa até final de outubro apresenta bons avanços, a área destinada ao cultivo de milho de segunda safra cresce. No entanto, a elevação da área do cereal não depende apenas deste fator. “Por exemplo, a safra 2013/14 da soja apresentou a maior área semeada da oleaginosa até final de outubro. Contudo, os preços baixos do milho do ano anterior desestimularam a produção do cereal na safra seguinte. Para a temporada 2014/15, as perspectivas são de queda para a safra de milho, pois, além do atraso na semeadura da soja até outubro, a paridade para julho/15 está menor do que a verificada no ano passado”. O atual momento está favorecendo a comercialização da safra 2013/14, ou seja, mexe de forma pontual nas cotações, ainda sem reflexos mais profundos que voltem a estimular a safrinha.