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Trigo: como comercializar a safra?


Adelson Gasparin
A poucos dias do início da colheita no Rio Grande do Sul, muitas dúvidas em relação à comercialização surgem na cabeça do produtor. Colher e já vender? Colher e esperar até dezembro? Colher e vender somente no primeiro trimestre de 2014? Afinal o resultado de todo um trabalho e dedicação passa a depender de um ponto apenas após a colheita: a comercialização. O fato é que esta decisão não é tão simples, haja vista as inúmeras variáveis que articulam os preços ao qual não há ciência exata e sim sentimentos, razões e emoções de cada agente que participa do mercado.
Desta maneira, eis que várias respostas podem ser corretas a estas perguntas, já que muitos pontos de vistas se convergem, de analista para analista, de produtor para produtor, de região para região. Na opinião humilde deste que escreve, é necessário em primeiro lugar conhecer os fundamentos do mercado, a dinâmica. Outro ponto importante é que o produtor tenha em mente qual mercado visa buscar e em qual mercado obterá melhores preços, observando o cenário fundamentalista para a próxima temporada, antes mesmo de iniciar o plantio.
E a partir destes princípios produzir trigo com boa qualidade proteica para o mercado de exportação, ou com força de glúten e estabilidade mediana de classificação Doméstica, para atender o mercado de biscoitos, ou ainda com excelente coloração, força de glúten e alta atividade enzimática, de classificação Melhoradora, destinado ao mercado de panificação e massas de primeira linha. Para cada segmento, se devem buscar as sementes mais indicadas. Contudo, o produtor ainda precisa lidar com uma variável ainda mais complexa e impossível de se ter controle: o clima. Aliás, este somente São Pedro.
Mas e as respostas às perguntas? Bem, vamos aos números fundamentais. A temporada 2013/2014 iniciou com grandes expectativas sobre a safra do Mercosul de modo geral. Após a significativa quebra de produção sofrida no Rio Grande do Sul, na safra anterior, o mercado interno brasileiro viu seu quadro de ofertas ainda mais comprometido, precisando importar volume de fora do Mercosul. Com tanto, a CONAB aproveitou para vender todo seu estoque regulador em leilões, no início deste ano, e mesmo assim na entressafra os estoques privados eram os menores da história. Fato que ocasionou toda esta valorização aos preços no mercado interno.
O clima novamente veio a prejudicar a nova safra em algumas regiões. O Paraná, que já se encontra em acelerado processo de colheita teve sua expectativa de produção revisada para cerca de 1,6 milhão de toneladas, por conta das geadas que ocorreram entre julho e agosto. Em 2012 o estado colheu 2,1 milhões de toneladas. O Rio Grande do Sul, que logo mais inicia os trabalhos de colheita na região das Missões e São Luiz Gonzaga, ainda mantém expectativa de colher 2,4 milhões de toneladas.
No vizinho Paraguai, cujas lavouras também foram largamente afetadas pelas geadas, a qualidade verificada nas áreas colhidas é muito instável. Espera-se ainda assim que o país tenha saldo exportável de 600 mil toneladas. Já no Uruguai, as projeções são preliminares e ao que se verifica poderá haver saldo exportável de 1 milhão de toneladas. O caso mais crítico é a Argentina, cujo governo esperava produzir inicialmente 13 milhões de toneladas. Sofrendo do mesmo efeito climático que Brasil e Paraguai, os rumores do mercado é que a produção hermana fique próxima a 11 milhões. Com saldo exportável de 5 milhões de toneladas, segundo fontes dos agentes do mercado, com números CONAB e agências de Consultorias.
Se estas projeções que circulam no mercado se confirmarem, o Brasil que estima produzir 4,5 milhões de toneladas e consumir cerca de 12, se verá pressionado a buscar trigo de novos mercados, já que Mercosul terá saldo exportável de não mais que 6,5 a 7 milhões de toneladas. EUA, Canadá, Rússia, Ucrânia e antiga União Soviética são fortes candidatos. Portanto, o produtor precisa estar atento à paridade de importação, ao câmbio e a política de importação extra-mercosul (isenção da TEC). É ano provável de preços acima dos mínimos do governo. Quanto à resposta, o velho e bom conselho de não colocar os ovos na mesma cesta deve garantir uma boa média de preços ao produtor.

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