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Tendências


Argemiro Luís Brum

O MINISTRO MANTEGA TEM RAZÃO
Diante da perspectiva do Banco Central brasileiro aumentar a taxa de juro (SELIC), pela primeira vez em muito tempo, na sua próxima reunião dos dias 15 e 16 de abril, o ministro Mantega sugeriu reduzir os prazos de pagamento do crédito que vem sendo fornecido pelas empresas nacionais. A idéia está correta! O princípio do problema está no fato de que a economia brasileira aqueceu em 2007, puxada pela facilidade de crédito que o governo definiu no ano passado. Imediatamente o consumo, que estava reprimido, se elevou. Todavia, além de forte endividamento junto às famílias, o mesmo passou a pressionar a inflação nacional. Soma-se a isto o forte aumento nos preços internacionais das mercadorias, a começar pelo trigo e o combustível, para que o IPCA já ultrapasse a meta anual de 4,5% em seu cálculo anualizado. Além disso, um elemento que vinha evitando o aumento dos preços, a capacidade ociosa da indústria nacional, se esgotou. Em dezembro passado a utilização da capacidade industrial instalada chegou a 86,7% e em março/08 a 85,2%, fazendo o sinal de alerta detonar ainda mais forte. Assim, na lógica monetarista e mais correta para estes casos, ou os juros sobem para segurar o consumo ou o prazo dos créditos recua. Este último caso é mais interessante para uma economia que já possui o maior juro real do mundo, além de provocar resultados mais imediatos e menos duros para os negócios. O problema é que a idéia do ministro acabou não avançando, por enquanto, porque o presidente Lula e outra linha de assessores, aparentemente num arroubo populista diante das eleições municipais, não deseja mexer no sistema de crédito à população.

O MINISTRO NÃO TEM RAZÃO
Por outro lado, o ministro Mantega não tem razão ao fazer críticas ao Banco Central, diante da iminência de um aumento na taxa SELIC, ao afirmar que não há risco inflacionário no país. Na verdade o mesmo existe! Não no sentido de uma explosão de preços, mas de um aumento constante se não aumentarmos a capacidade instalada das indústrias e a infra-estrutura nacional (é para isso que o PAC foi lançado). O problema é que isso leva tempo para dar resultados e, no momento, o país não está preparado para crescer tão rápido, como fez em 2007. Assim, para o curto prazo a lógica realmente é um aumento na taxa SELIC, provavelmente de 0,25 ponto percentual na reunião do COPOM na próxima semana. O próprio mercado já trabalha com um juro de 12% no final de 2008, contra os atuais 11,25%.

MELHORA A RENDA
Os frutos da estabilidade econômica, iniciada em 1994 e mantida até hoje, associados à maior liquidez mundial e a um sistema de crédito nacional em expansão, levou 12 milhões de brasileiros a saírem das classes E e D para a classe C. Esta classe concentra hoje 46% da população brasileira. O problema é que não temos cultura de crédito e o endividamento cresceu assustadoramente, comprometendo a continuidade do processo.

FREIO NO CRÉDITO
Assim, o governo se encontra em um dilema. Frear o crédito significa impedir a continuidade da melhoria da divisão de renda nacional. Todavia, deixar da forma como está significa criar um potencial explosivo de inadimplência, que já se consolida para 2008. Além disso, a inflação aumentando, exigirá aumento dos juros enquanto a capacidade produtiva em geral não responder suficientemente ao aumento da demanda. Um aumento dos juros representa, em seis meses, o início de um processo menos expansionista da economia, impedindo que o PIB se mantenha elevado. E isto que fomos auxiliados pelo câmbio, pois com o Real forte pudemos, nestes últimos anos, importar mais barato, segurando boa parte dos preços internos. Para não argentinizar a economia brasileira, o controle monetário, mesmo sendo restritivo no curto prazo, não pode ser abandonado.

O BOLSA-FAMÍLIA
Um dos elementos alavancadores da economia, neste curto prazo, tem sido o auxílio federal chamado de Bolsa-Família. De 37% a 50% dos domicílios do Norte e Nordeste brasileiros chegam a ganhar o auxílio. No Sul e Sudeste o percentual de domicílios favorecidos cai para algo entre 6% e 11%.

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