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Sucesso do agronegócio requer profissionalização


José Osvaldo Bozzo
Grandes perspectivas – e também enormes desafios – vão dar o tom ao agronegócio brasileiro no ano de 2010. Por um lado, temos a recuperação de preço de alguns produtos, a ampliação da área plantada e produtiva e a crescente profissionalização do setor, que cada vez se torna mais forte e competitivo no cenário global.
Por outro, enfrentamos sempre fatores fortuitos, como o aparecimento de pragas ou a ocorrência de enchentes – enfim, situações adversas capazes de afetar o setor de plantio. A desvalorização do dólar frente ao real também pode embaraçar as exportações.
A tônica geral, porém, é de franca expansão e, favoravelmente, de otimismo. Em recente declaração, a presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), senadora Kátia Abreu, afirmou que em 2010 o PIB rural deverá voltar aos patamares de 2007, deixando para trás o declínio amargado nos dois últimos anos. O Valor Bruto de Produção (VBP) do setor agropecuário poderá atingir R$ 245,1 bilhões, o que significa um aumento de 5,13% em relação aos R$ 233,17 bilhões de 2008. Sozinho, o VBP da agricultura deverá crescer de R$ 144,7 bilhões para R$ 153,1 bilhões.
Um desafio específico do setor da carne terá que ser muito bem administrado pelo Ministério da Agricultura no ano que está chegando. A questão está relacionada ao sistema de rastreamento de bovinos (Sisbov), que poderá sofrer modificações que o tornarão menos burocrático: a ideia é reunir todas as informações pertinentes aos rebanhos em uma única base nacional de dados. Além disso, as auditorias poderão ser feitas por amostragem, e não mais fazenda por fazenda. Este procedimento trará ao Brasil, ainda mais, uma sinergia incontestável de transparência no ramo de alimentos, que hoje já é um dos mais avançados do mundo.
As mudanças são positivas, principalmente porque agilizam processos sem colocar em risco a confiabilidade das informações. Mas talvez não sejam bem recebidas pelos importadores de carne da Europa. Afinal, em 2008 e 2009, o Brasil deixou de exportar US$ 2 bilhões em carne para a União Europeia (EU) pois o bloco decidiu exigir um longo processo de certificação, limitando assim o número de fazendas aptas a fornecer animais. Hoje, 1.704 propriedades brasileiras vendem gado para frigoríficos autorizados a exportar à UE. Outras 126 fazendas aguardam o sinal verde para ingressar nesse mercado. Reunidos na Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (ABIEC), os produtores talvez precisem recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) para denunciar a ‘discriminação’ da carne brasileira pelos europeus.
Outro assunto que exigirá atenção redobrada dos produtores rurais brasileiros é o meio ambiente. O compromisso assumido em 2008 pelo Governo, de reduzir em 80% o desmatamento da Amazônia até 2020, conta com apoio das Nações Unidas. A Noruega já acenou com a doação de US$ 1 bilhão para o Fundo Amazônia, que será gerido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Trata-se de uma oportunidade de ouro para que o Brasil encontre soluções efetivamente sustentáveis para as famílias que dependem daquele bioma para sobreviver. Ao mesmo tempo, o melhor monitoramento, a repressão ao desmate e a conservação da floresta são ações que ajudarão a neutralizar os discursos antissoja e anticarne do Brasil, encampados hoje por alguns grupos ambientalistas de atuação internacional.
E, por falar na carne e na soja brasileiras, vale lembrar que alguns dos nossos principais frigoríficos já cortaram de suas cadeias produtivas as empresas que estão implicadas em desmatamento.
Finalmente, o Brasil tem que se dedicar a combater o desperdício. A Associação Brasileira das Centrais de Abastecimento (Abracen) calcula que, ao longo dos processos de colheita, acondicionamento e transporte, perdem-se aproximadamente 30% das verduras, frutas, legumes e grãos produzidos no País. É muita coisa! Melhorar nossa infraestrutura, principalmente as rodovias, é uma providência urgente, que os setores produtivos podem e devem cobrar do Estado, pois nossas deficiências nessa área são constantemente evocadas como ‘obstáculos aos investimentos’ por todos os especialistas da área.
Ainda que existam problemas, o futuro tem um brilho promissor. Com a profissionalização em seu sentido mais amplo – o que pressupõe a adoção de métodos e processos modernos em todas as etapas que acompanham o alimento do campo à mesa, incluindo os bastidores das empresas –, a agroindústria nacional caminhará a largos passos em 2010.

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